14 out Onda de assaltos preocupa a Capital
Em 43 dias, pelo menos 56 estabelecimentos comerciais foram atacados
A comoção com a notícia vista na TV, de manhã, ainda não tinha nem passado quando uma atendente de 25 anos ficou frente a frente com três assaltantes, na noite de segunda-feira.
Ela trabalha em um restaurante oriental da Lauro Linhares, Bairro Trindade, na Capital.
– Um dos caras encostou uma arma na minha cabeça e ficou gritando que ia me matar. Eu ficava pensando no comerciante de Joinville que foi morto num assalto no dia anterior, na minha família, na minha vida, no que eu ainda queria fazer – relembra a jovem.
Desde então, o sono nunca mais foi o mesmo e a rotina de trabalho não voltou ao normal. Ao perceber qualquer movimentação diante do estabelecimento, fica impossível não lembrar do que aconteceu:
– Estou toda espiada, com medo. Não sei se isso vai passar um dia
Ainda na segunda-feira, meia hora antes do ataque ao estabelecimento, ladrões armados “visitaram” uma panificadora do Bairro Cacupé. Nervosa, a dona desmaiou durante a ação. Bem em frente ao restaurante da Trindade, uma academia de ginástica também foi assaltada (leia abaixo).
No domingo, no Bairro Sambaqui, dois restaurantes foram assaltados. Em um deles, cinco homens renderam funcionários e clientes. Só nos últimos 43 dias, pelo menos 56 comerciantes foram alvos de assaltos na Capital. Os dados são da Polícia Civil, que afirma, no entanto, que a situação é atípica.
O diretor de Polícia Civil da Grande Florianópolis, delegado Anselmo Cruz, diz que os casos vêm sendo investigados pela corporação e que, provavelmente, têm ligação. Na mira das equipes está um grupo de adolescentes que já esteve envolvido em outras infrações.
– Não dá para adiantar muita coisa. Mas podemos garantir que já identificamos os responsáveis.
Na noite de terça-feira, o carro supostamente usado por um dos grupos de assaltantes foi apreendido. Responsável pelo policiamento ostensivo em uma área que vai de Canasvieiras até o Morro da Cruz, o major Flávio Ivanoski argumenta que a PM tem trabalhado com “força total” para prevenir ações, mas que sofre com a falta de policiais – sem especificar o efetivo, “por questões táticas”.
Para o assessor de imprensa da PM, Alessandro Marques, a “onda” de assaltos está ligada à sensação de impunidade entre menores de 18 anos.
– Eles – pessoas que têm menos de 18 anos – estão muito à vontade para cometer os crimes, porque têm a sensação de que nada vai acontecer. Tanto é que essa meninada não faz nem questão de esconder o rosto.
(Por BIANCA BACKES, DC, 14/10/2010)
“Todos de barriga no chão”
Ousadia não parece mesmo faltar aos assaltantes que vêm agindo na Capital, nos últimos dias.
Na semana passada, os bandidos enfrentaram cerca de 40 alunos e funcionários de uma academia de ginástica do Bairro Trindade, para levar dinheiro do caixa. Cena que a dona do estabelecimento não deve esquecer nunca mais.
– Imagina só, o perigo que foi. Graças a Deus, ninguém reagiu. Fizeram todo mundo deitar de barriga para o chão. Tinha até crianças aqui. Foi horrível – lamentou a empresária que, em 20 anos de atividade, foi vítima de roubo pela primeira vez.
Antes da ação, ela nem imaginava que uma academia de ginástica viesse a estar no rol de estabelecimentos passíveis de crimes assim.
Depois do susto, a empresária vai reforçar o sistema de segurança da academia. Mas ela lamenta que a polícia tenha pouco efetivo para atender à comunidade.
– O nosso prédio fica bem pertinho da academia de polícia. Não adianta nada. Eles nem têm como atender todo mundo – desabafa.
(DC, 14/10/2010)