29 ago O lazer e o ócio criativo
Artigo escrito por JOÃO EDUARDO AMARAL MORITZ, Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis – ABIH-SC (DC, 28/08/2010)
Conhecido como a indústria sem chaminés, o turismo ganhou impulso na segunda metade do século passado, com a gradativa redução da jornada de trabalho, em especial nos países mais desenvolvidos industrialmente, e o crescimento do poder aquisitivo da classe média e, mais recentemente, da classe trabalhadora. O sociólogo e escritor italiano Domenico De Masi, que se tornou conhecido pela sua teoria do Ócio Criativo, título de seu livro mais famoso, lançou novas luzes sobre a atividade, que se propõe a oferecer às pessoas alternativas prazerosos de lazer em seus períodos de descanso, seja durante as férias garantidas pelas leis trabalhistas ou a quem deseja desfrutar de seu tempo livre de maneira criativa.
De Masi fez grande sucesso quando esteve em Santa Catarina em 2009 sustentando que sua teoria não prega a inércia e sim uma nova visão da vida, no tripé formado pelo trabalho como fator de geração de riqueza, o estudo como geração de saber e o lazer como gerador de alegria e bem-estar.
Através de sua teoria, o italiano garante que desfrutar de momentos de lazer é essencial ao ser humano, para a geração de novas ideias. Ele sugere o turismo como ferramenta indispensável para atender a esse novo paradigma da sociedade contemporânea, quando as pessoas dispõem cada vez de mais tempo livre, necessitando, portanto, de opções para desfrutar desses momentos de ócio.
Segundo De Masi, “o futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação e for capaz de apostar numa mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com tempo livre e estudo”. Enfim, o futuro é de quem exercitar o “ócio criativo”, prega o sociólogo.
Nesse contexto, o turismo desempenha papel fundamental para ofertar às pessoas alternativas saudáveis para seus momentos de folga, especialmente para uma sociedade onde a ação e a atividade permanente se tornaram regra, e onde os indivíduos são assediados a cada minuto com novas ideias, produtos e estilos de vida, através da troca de mensagens resultantes do crescimento da mídia eletrônica que possibilita a todos estarem conectados, trocando informações e interagindo de forma instantânea. Nesse cenário é fundamental destacar a crescente preocupação dos destinos frente a essa nova realidade, onde os modismos são uma constante e a fidelidade dos clientes escassa, diante da avassaladora oferta de novos produtos e serviços que desafiam a criatividade de quem trabalha com esta atividade. Destinos que ontem eram considerados tops hoje estão obsoletos e fora de moda.
No período pré-eleitoral, é oportuno analisar questões que afetam de maneira direta o turismo de Santa Catarina. Se antes bastava alardear as belezas naturais do Estado para atrair visitantes, hoje sabemos que isso já não sustenta o interesse do público, diante das crescentes opções oferecidas ao turista, bombardeado com ofertas tentadoras de outros locais que passaram a disputar a sua preferência e onde a ética nas relações comerciais nem sempre prevalece.
Diante desta realidade, a profissionalização se tornou um imperativo se quisermos crescer de forma sustentável, assegurando a sobrevivência de quem depende desta atividade econômica para garantir emprego e renda e o futuro das comunidades.
Vale destacar que o setor, nos últimos anos, deu passos importantes no caminho da profissionalização, resultado da crescente conscientização da iniciativa privada e do poder público, cientes de que não basta apostar em belos cartões postais. É preciso preparar os destinos, dotando-os da necessária infraestrutura para atender aos visitantes. Mas isso ainda é muito pouco. E é justamente a infraestrutura um dos maiores gargalos ao desenvolvimento da atividade no Estado. É preciso fazer muito mais e urgente.
Numa pesquisa realizada em 2009, a infraestrutura rodoviária foi citada por 24% dos entrevistados como um dos principais entraves ao crescimento da atividade. Sem esquecermos que a deficiência de nossos aeroportos é outro item que necessita ser equacionado de imediato. Um esforço crescente vem sendo feito no Estado visando a atrair os turistas estrangeiros que vierem ao Brasil para a Copa de 2014. Para isso, é premente que se melhore de forma substancial a infraestrutura, viabilizando reforçar atrativos para esses visitantes.
Já a qualidade dos serviços, essencial para assegurar Santa Catarina como destino sustentável, vem sendo trabalhada tanto pelo governo como pelas entidades do trade, com a oferta crescente de treinamentos e cursos de qualificação e formação de mão-de-obra.
Muitas vezes, os planos de governo pecam pela ausência da participação do trade turístico em sua elaboração e definição de políticas para o setor. Essa interação é essencial para possibilitar os necessários ajustes nas ações propostas para que resultem em soluções racionais, participativas e exequíveis. Também é essencial que o setor conte com uma Secretaria de Estado de Turismo, para tratar exclusivamente do segmento. Essas mesmas pesquisas apontaram que o Estado tem potencial de 50% para crescer no segmento do turismo. Nesse contexto, é necessário que tanto o poder público quanto a iniciativa privada consigam estabelecer um diálogo produtivo para a adoção de uma política efetiva e profissional. Essa sintonia com vistas ao desenvolvimento sustentável do setor, deve levar em conta as peculiaridades e potenciais de cada região.
Portanto, na hora de escolher um candidato, é fundamental acreditar que suas propostas e planos estejam de acordo com as necessidades do setor e também que sejam exequíveis.