26 ago Cidades sustentáveis: o que faz uma cidade ser vencedora?
Os fatos falam por si: metade da população mundial vive em cidades e na Europa, onde a urbanização está mais avançada, 72% da população mora em cidades. Esta situação tem conseqüências ambientais significativas porque os centros urbanos são responsáveis por 75% do consumo global de energia e 80% das emissões de gases de efeito estufa gerados pela atividade humana. Assim, as cidades oferecem o potencial de desempenhar um grande papel na batalha contra as mudanças climáticas. Como as cidades estão lidando com esta responsabilidade? Que esforços estão fazendo para conservar recursos? Como estão tentando evitar danos ambientais, reduzir as emissões de CO2 e manter as áreas urbanas como lugares onde valha a pena viver? Que projetos de proteção ambiental estão realizando?
Para responder a essas perguntas, a Siemens contratou a Economist Intelligence Unit (EIU) para comparar a performance ambiental das 30 maiores cidades em 30 países europeus. Para ilustrar seu desempenho de proteção ambiental e climática e seus objetivos, cada cidade foi avaliada com base em 30 indicadores divididos em oito categorias: Emissões de CO2, Energia, Prédios, Transporte, Água, Resíduos/Uso da Terra e Governança Ambiental. “O resultado foi o Índice Europeu de Cidades ‘Verdes’ – uma classificação das mais importantes cidades que é diferenciado em termos de sua ampla abrangência”, disse James Watson, redator-chefe do estudo.
“O Índice Europeu de Cidades ‘Verdes’ fornece subsídios sobre os pontos fortes e fracos de cada cidade”, diz Stefan Denig, gerente de projeto na Siemens. O mais importante, no entanto, é permitir às cidades aprender umas com as outras. Seja a maior termelétrica de biomassa da Europa, em Viena, as instalações mais modernas de parque eólico no mar, na Dinamarca, o sistema de reciclagem de Ljubljana, aluguel grátis de bicicletas em Paris, aterros sanitários com instalações para produção de metano em Istambul ou ônibus equipados com sistemas que fazem com que os semáforos se tornem verdes com mais rapidez como em Tallinn, o estudo destaca projetos interessantes em cada cidade que podem servir de modelo para outras.
Algumas das principais descobertas do estudo:
Copenhague é a cidade mais verde da Europa (ver p. 20). A cidade anfitriã da 15ª Conferência sobre Mudança Climática da ONU, realizada em dezembro de 2009, desempenha muito bem em todas as oito categorias. Em segundo lugar está Estocolmo e Oslo chega em terceiro (ver p. 22), seguido por Viena e Amsterdã.
Em geral, as cidades escandinavas têm as classificações mais elevadas no índice, o que não deveria ser uma surpresa, tendo em vista que a proteção ambiental tem sido uma causa popular na região há muitos anos. O fato de os países escandinavos serem muito ricos também ajuda, e as cidades na região fazem o máximo com seu poder financeiro para promover investimentos em medidas de proteção ambiental. Prédios que economizam energia, extensas redes de transporte público e produção de energia de fontes renováveis, especialmente eólica e hídrica, estão espalhados em toda a região.
As cidades do Leste Europeu são geralmente classificadas abaixo da média no Índice de Cidades “Verdes”, sendo que a melhor classificada é Vilnius, a capital da Lituânia, em 13º lugar. Em parte, este resultado é devido aos PIBs locais relativamente baixos na região e à sua história já que a proteção ambiental não era valorizada durante a maior parte da era comunista. Este último fato está refletido no alto consumo de energia da região, especialmente nos prédios e outras infraestruturas antigas. Mas os países da Europa Oriental em geral apresentam resultados acima da média quanto se trata de transporte público local. O percentual de pessoas que usam o transporte público para ir ao trabalho em Kiev, por exemplo, que está em 30º lugar no índice, é o mais alto entre as cidades estudadas.
A cidade mais bem classificada em termos de emissões de CO2 e energia é Oslo. A capital da Noruega se beneficia do uso de usinas hidrelétricas. Ao todo, as fontes de energia renovável já são responsáveis por 65% da energia consumida em Oslo, que também corre atrás do objetivo muito ambicioso de reduzir as emissões de CO2 em 50% até 2030. Além disso, a cidade está incentivando o uso mais freqüente de sistemas de aquecimento por bairro e veículos híbridos e elétricos. Oslo também opera um fundo para o clima e a energia por meio de um imposto local sobre a eletricidade. O fundo tem sido utilizado para apoiar um grande número de projetos de eficiência energética nos últimos 20 anos.
O primeiro lugar na categoria predial é compartilhado por Berlim e Estocolmo. Após a reunificação alemã, Berlim modernizou grande parte de seus edifícios com foco na eficiência energética. O resultado é uma economia de CO2 entre 1 a 1,5 tonelada métrica ao ano em prédios modernizados. Berlim também lançou um programa de parceria público privada para energia para seus prédios públicos, inclusive com a Siemens. As empresas privadas nessas parcerias assumem os custos da modernização e pagam os investimentos pagos antecipadamente com base nas economias energéticas alcançadas. Estocolmo se destaca por suas diretrizes exemplares de eficiência energética e construção de casas que utilizam muito pouca energia. Essas casas têm um consumo total de energia de menos de 2.000 quilowatts/hora por ano, apesar do clima frio da cidade.
Estocolmo também se classificou no topo na categoria Transporte. Graças a uma rede de ciclovias perfeitamente estruturada, 68% dos habitantes usam a bicicleta para ir ao trabalho ou caminham – ou seja, três vezes a média de outras cidades europeias. Outros 25% da população utilizam o sistema de transporte público. A capital sueca também conta com tecnologia de última geração para seu sistema de transporte público, que inclui ônibus movidos a etanol e sistemas inteligentes de orientação do tráfego para garantir fluxos otimizados.
Amsterdã liderou nas categorias de Água/Uso da Terra. O consumo médio de água nas 30 cidades estudadas foi de mais de 100 metros cúbicos per capita por ano, porém os habitantes da capital holandesa só necessitam de 53 metros cúbicos. Isto em parte é devido a baixas perdas de recursos hídricos – somente 3,5% da água potável de Amsterdã se perdem devido a vazamentos na tubulação. Além disso, os hidrômetros sempre presentes na cidade motivam os usuários a conservar a água. Amsterdã também pode se orgulhar de sua alta taxa de reciclagem – um dos motivos pelos quais ela terminou em primeiro lugar na categoria Resíduos/Uso da Terra. Um total de 43% de todos os resíduos municipais, o dobro da média europeia, é separado e reciclado na cidade – enquanto a maior parte do restante é utilizada para produzir energia suficiente para suprir eletricidade a 75% das residências. Apenas um por cento dos resíduos da cidade são lançados em aterros.
Vilnius tem a melhor classificação como cidade europeia na categoria Qualidade de Ar (ver p. 31). Além dos níveis muito baixos de gás de exaustão e emissões, a capital lituana também enfatiza a expansão de áreas verdes e florestas, tanto na cidade quanto fora dela. Sua classificação como primeira em Qualidade do Ar se deve também às suas pequenas dimensões e inexistência da indústria pesada.
Foco na proteção ambiental. A maior parte das cidades europeias de grande porte já é líder em performance ambiental. Quase todas as 30 cidades estudadas – que em conjunto têm mais de 75 milhões de habitantes e média per capita de emissões de CO2 de 5,2 toneladas métricas – está abaixo da média para as cifras de emissão de todos os países da União Europeia, que é de 8,5 toneladas métricas. A melhor classificada, Oslo, produz somente 2,2 toneladas métricas de CO2 per capital por ano. E ainda, a conscientização ambiental está aumentando. Das 30 cidades europeias estudadas, 26 desenvolveram seus próprios planos ambientais. Metade das cidades também tem metas firmes e viáveis para redução do CO2. Copenhague planeja ser totalmente livre de emissões de CO2 até 2025 (ver p.20), e Estocolmo pretende fazer o mesmo até 2050. Ainda assim, todas as cidades estão enfrentando grandes desafios. Por exemplo, em média, as fontes de energia renovável são responsáveis por somente cerca de sete por cento do total da energia fornecida – bem abaixo da meta da EU de 20% até 2020. Menos de 20% dos resíduos nas cidades estudadas é reciclado atualmente, e um em quatro litros de água se perde em vazamentos nas tubulações.
Claramente, um dos principais indicadores determinando a classificação da cidade no índice é seu nível relativo de riqueza. Por exemplo, nove das cidades que chegaram entre as top 10 têm um PIB acima da média. Essas cidades não só têm infraestruturas melhores e mais benéficas para o meio ambiente do que as cidades menos ricas; elas também buscam objetivos de proteção climática e ambiental mais ambiciosos – um resultado surpreendente, tendo em vista que riqueza e níveis mais altos de desenvolvimento são em geral associados a consumo de energia e emissões mais elevados.
Envolvendo-se. Porém, dinheiro não é tudo, conforme Berlim e Vilnius demonstram de maneira impressionante. Apesar de ter o nono PIB mais baixo de todas as 30 cidades, Berlim ainda conseguiu chegar em oitavo em todas as classificações, à frente de outras cidades mais ricas como Paris, Londres e Madri. Berlim também compartilhou a melhor classificação na categoria predial com Estocolmo. Vilnius, com o sexto menor PIB no índice, deixa todas as outras cidades para traz na categoria Qualidade do Ar e tem a melhor classificação geral (13º lugar) entre as cidades do Leste da Europa.
Muito disso tem a ver com as pessoas. Quanto mais envolvidos são os habitantes, melhor será a classificação da cidade no índice. Isso abre possibilidades interessantes para envolver as populações urbanas quando se trata de proteção climática e ambiental.
Uma opção é a participação do cidadão como é praticada em Bruxelas, que lançou uma iniciativa denominada Quartier Durable (bairro sustentável). A iniciativa convoca os moradores a desenvolver ideias verdes para seus bairros. As melhores recebem apoio técnico e financeiro da cidade.
Aumentar a conscientização para as questões relacionadas ao meio ambiente e mudanças climáticas e fornecer informações são também elementos indispensáveis. “Muitos tomadores de decisão ainda não se conscientizaram que investimentos em tecnologias eficientes em termos energéticos se pagam financeiramente”, diz Denig. A maioria dessas tecnologias requer um alto investimento inicial, porém ele se paga na forma de custos energéticos mais baixos durante toda a vida útil dos produtos. “E mais ainda”, diz James Watson, “se a maioria dos moradores da cidade utilizar o transporte público, economizarem água e energia, e tomarem decisões “verdes” em suas compras, a mudança no seu comportamento se somará para que resultados ainda muito melhores possam ser alcançados”.
(Newsletter Siemens, 24/08/2010)