Beira-mar continental: Por enquanto, para caminhar

Beira-mar continental: Por enquanto, para caminhar

Via em construção na área continental de Florianópolis deve ficar pronta até o fim deste ano, segundo nova promessa da prefeitura

Aos poucos o cenário se transforma. O aterro foi feito. Estrada, ciclovia e calçadas podem ser vistas, embora ainda não estejam prontas. Algumas pessoas já usam o lugar para passear e fazer exercícios físicos.

No futuro, a via com 2,3 quilômetros de extensão, pode se tornar uma irmã gêmea ou, talvez, a caçula da Beira-Mar Norte de Florianópolis, com sete quilômetros. É essa a expectativa dos moradores do Continente, que aguardam a conclusão da Avenida Beira-Mar Continental, prevista inicialmente para 2008. A previsão agora é o final deste ano.

Os presidentes da Associação Amigos do Estreito, Édio Fernandes, e da Associação dos Moradores do Estreito, Ari do Nascimento, usaram a mesma expressão para designar a obra: “Ela anda a passos de tartaruga”.

A construção foi iniciada na gestão de Angela Amin, em 2004. De acordo com o engenheiro fiscal da Secretaria de Obras de Florianópolis, Maurício Santos Largura, uma série de problemas atrasou a conclusão:

– Houve disputa para saber qual o órgão que daria a licença ambiental, Ibama ou Fatma. Tivemos de mudar o traçado inicial por causa da reforma na Ponte Hercílio Luz. Depois, retomamos a ideia inicial porque mudou o projeto da ponte. Agora, temos seis áreas para desapropriar, mas os casos estão na Justiça. Tecnicamente, ela poderia ficar pronta em três meses.

Para a comunidade, a pergunta que ainda não foi respondida é se a Beira-Mar Continental resolverá o problema do trânsito. Segundo especialistas, a resposta é “não”. Antes mesmo da liberação para carros, a previsão é de que os congestionamentos aconteçam na Rua Sérgio Gil. Outro problema é que a Rua Fulvio Aducci, paralela à obra, começou a ficar alagada nos dias de chuva.

Terrenos serão valorizados com obra, avalia associação

Quem passa pela obra pode ver um fato curioso. A maioria das casas e prédios tem a fachada voltada para a Fulvio Aducci, de costas para o mar. Muitos devem vender seus terrenos para a construção de novos prédios., a exemplo do que ocorreu na Beira-Mar Norte.

– Em alguns locais, os valores já triplicaram – calcula Édio Fernandes.

Os números

– Extensão: 2,3 quilômetros
– Custo: R$ 43 milhões
– Valor já gasto: R$ 27 milhões
– Início: 2004
– Conclusão: final deste ano
(Fonte dos números: Prefeitura Municipal de Florianópolis)

(MAURÍCIO FRIGHETTO, colaborou Joana Gandin, DC, 25/07/2010)

Projeto busca desafogar o trânsito

A ideia inicial da construção da Beira-Mar Continental proposta pelo secretário de Transportes e Obras, Francisco Assis, na gestão da ex-prefeita Angela Amin, era de uma estrutura viária de 3,7 quilômetros de extensão (hoje é de 2,3 quilômetros).

Para facilitar o trânsito, os carros que ficam estacionados na Rua Fulvio Aducci seriam levados para a Beira-Mar, onde teriam 3,5 mil vagas. Seria feito um corredor de ônibus em uma das pistas. No projeto atual, são apenas 250 vagas de estacionamento.

A marginal foi projetada até a Ponta do Leal, mas Assis garante que foi previsto uma segunda obra para continuar o sistema viário até Biguaçu:

– Um projeto com ligação até Biguaçu foi previsto como obra futura.

Segundo José Lelo de Souza, presidente do Instituto de Certificação e Estudos de Trânsito e Transportes, o maior problema da obra da Beira-Mar Continental é com relação à continuação, que ainda é desconhecida. Souza explica que por terminar no Balneário e retornar para a Fulvio Aducci, o congestionamento só vai trocar de lugar.

– Os maiores problemas de volumes dos automóveis são em direção aos trechos do Estreito e Via Expressa. Apenas os moradores que estão no intermediário, entre a saída da Ponte e a Ponta do Leal, serão beneficiados – diz.

O coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unisul, Sílvio do Prado, concorda com a ideia de seguir com o aterro até Biguaçu. Ele garante que, da parte técnica, é possível o trânsito passar em frente à Escola de Aprendizes-Marinheiros de SC, por um elevado ou canal, respeitando os aspectos ambientais.

União deve autorizar possível urbanização

Por ser aterro, o secretário Municipal do Desenvolvimento Urbano, José Carlos Rauen, explica que a área é da União e a prefeitura precisa requisitar o terreno para transformar em área urbana. Rauen prevê, daqui a alguns anos, um projeto de urbanização com jardins, praças e academias ao ar livre.

(DC, 25/07/2010)

Embaixo de um cartão-postal

A pescadora Maria Zeli Lisboa, 55 anos, mora embaixo de um dos principais cartões-postais de Florianópolis: a Ponte Hercílio Luz. Ela terá de deixar o lugar, por onde passará a Beira-Mar.

– Me ofereceram R$ 40 mil, mas achei muito pouco. Quero R$ 60 mil para sair e encontrar um lugar decente.

A casa dela e a da filha são duas das seis que ainda precisam ser desapropriadas. A discussão está na Justiça.

– Isso é tudo o que tenho. Estou aqui há 40 anos. Tínhamos a chance de comprar uma propriedade na Barra do Aririú, em Palhoça, por R$ 69 mil. Agora ela já foi vendida.

(DC, 25/07/2010)

Chique como a Beira-Mar Norte

Pedras seguram o telhado da casa de Fábio do Reino, 27 anos, e de Andrea dos Santos, 31. Dentro, o espaço é pequeno e alagou há mais ou menos um mês, o que nunca aconteceu antes. Por isso, eles acham que a Beira-Mar Continental é uma boa oportunidade para mudar de vida.

– Eu não queria sair daqui. Quando saí da casa da minha avó vim morar aqui. Mas vai ficar tudo chique, como a Beira-Mar Norte, e nós vamos ficar assim, em um barraco? – comenta.

O terreno é herança da família, dividido entre tios e sobrinhos. Para eles, nenhuma proposta valeu a pena ainda.

(DC, 25/07/2010)

Ela quer ficar na Continental

A aposentada Lenita Vieira, 75 anos, tem sua propriedade na Beira-Mar. Acha que a obra está ficando bonita, “uma beleza”, e quer ficar por ali:

– Chegaram a propor a compra da propriedade, mas o valor era baixo. Às vezes até penso em sair porque vai ficar uma barulheira. Mas moro há 45 anos aqui e quero ficar.

A casa dela está em um terreno com mais duas propriedades, todas da mesma família. E a Beira-Mar Continental já mudou a vida da dona Lenita.

– Antes eu tinha que caminhar em outras ruas. Agora já tenho um espaço na frente de casa. Aos finais de semana, aqui parece a Beira-Mar Norte.

(DC, 25/07/2010)