02 jun Humanização da cidade
Editorial do Diário Catarinense, 01/06/2010
O projeto vencedor do concurso nacional lançado pela prefeitura para a revitalização do Centro Histórico de Florianópolis está centrado na recuperação da área para o convívio humano e o reencontro da urbe consigo mesma. Esta é a sua maior virtude e, provavelmente, o motivo maior para a sua escolha. Com efeito, além do lamentável estado de preservação do valioso patrimônio arquitetônico, que é muda testemunha da história da Capital através dos séculos, aquele espaço, onde a cidade nasceu e no qual outrora concentrava a sua vida social e comercial, aquele local de encontros e negócios, debruçado sobre o mar, de cujo convívio foi afastado pelo aterro, transformou-se, também, em cenário de transgressões, de violência e de degradação humanas.
O projeto de revitalização do Mercado Público e de seu entorno, ao colocar o seu foco no homem, e não nas máquinas – em função das quais, nesses anos mais recentes, a cidade tem sido “pensada” – , nem em um tipo de crescimento econômico de duvidosos efeitos, que coloca em segundo plano as dimensões social e ambiental, chega em boa hora. Espera-se que não fique apenas na intenção e na promessa, mas saia logo da prancheta e dê lugar às obras e reformas idealizadas. A proposta do arquiteto e urbanista uruguaio Héctor Vigliecca prevê a construção de um subsolo na área em frente à Rua Francisco Tolentino, que receberá o camelódromo e o estacionamento da Associação Florianopolitana de Voluntários (Aflov), ampliando o espaço para os pedestres na superfície e propiciando maior visibilidade ao mais acervo arquitetônico da cidade, com seus casarões históricos.
Ademais, é oportuno lembrar que projetos de revitalização de áreas urbanas degradadas, recuperando-as para o convívio humano e transformando-as, também, em instrumentos de ativação cultural, executados em algumas das maiores cidades do mundo, entre as quais Nova York e Paris, obtiveram êxito além das expectativas. A Ilha-Capital, que está perdendo a sua tão propalada “magia”, tem pressa para começar a recuperá-la. Mãos à obra.