Diretor da EBX diz que “paixões” devem ficar fora da avaliação do estaleiro de Biguaçu

Diretor da EBX diz que “paixões” devem ficar fora da avaliação do estaleiro de Biguaçu

Na quinta-feira (24/06), a apresentação da OSX, empresa do megainvestidor Eike Batista, deu início a primeira rodada de três reuniões programadas pelo Conselho Consultivo da Estação Ecológica de Carijós (Conseca) para aprofundar o debate sobre o projeto de instalação do estaleiro do grupo, em Biguaçu, na Grande Florianópolis, em Santa Catarina. O diretor de sustentabilidade do Grupo EBX, Paulo Monteiro, falou para as mais de 30 pessoas presentes que o Instituto Chico Mendes (ICMBio) teria tomado uma “decisão política” ao negar a autorização da instalação do projeto.

Segundo ele, o Instituto tomou uma decisão desrespeitando os empreendedores, professores e especialistas que trabalharam no Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima). “As paixões devem ser deixadas de lado, especialmente no debate sobre o risco de derramamento de óleo”. Monteiro foi auxiliado por um grupo de pessoas que não deixaram manifestações questionando os estudos serem concluídas.

Além de Monteiro, a EBX levou ao encontro a equipe da Caruso Jr., consultoria contratada para desenvolver o EIA-Rima, além de técnicos que fizeram estudos específicos para cada questionamento apontado pelo ICMBio.

Ficou evidente que o grupo de Eike Batista quer manter o estaleiro na Baía Norte de Florianópolis, pela ênfase com que defendeu os estudos diante dos representantes das comunidades e de órgãos governamentais, ao mesmo tempo em que rechaçou três alternativas propostas nos estudos iniciais.

O oceanólogo João Antônio dos Santos, da Caruso Jr., ressaltou a diferença entre estaleiro e porto. Explicou que o projeto da OSX vai fazer a conversão de navios Aframax e Suezmax, que virão com os cascos prontos da Coréia, em navios plataformas, que serão rebocados até os poços de petróleo e lá permanecerão de 15 a 20 anos. “Serão unidades de produção de petróleo flutuantes, por isso não utilizarão combustível após a conversão”.

O primeiro encontro foi realizado no Auditório do Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (Cesusc), assim como as duas outras reuniões que acontecem nos dias 29 próximo e 6 de julho, às 18h30.

Acompanhe abaixo as principais polêmicas levantadas na reunião desta quinta-feira.

OSX diz ter solução para todos os problemas apresentados

No detalhamento dos estudos encomendados pela OSX à Caruso Jr., o oceanólogo João Antônio dos Santos apresentou detalhes sobre os pontos mais polêmicos:

Dragagem do canal para acesso das embarcações: dizem que não há diferença nas correntes marítimas se dragar ou não dragar. Afirmam que os efeitos naturais das correntes serão mantidos.

Dragagem e risco de erosão da Praia da Daniela: afirma que não há risco por que foram feitas simulações matemáticas com mapas de correntes que comprovam que não haverá erosão no Pontal da Daniela. O local é de grande beleza natural e sua preservação é de grande preocupação da comunidade.

Arsênio: concluem que não há risco porque a região tem um nível de arsênio natural, que não causa danos à flora e a fauna marinha e que esse nível não será modificado.

Água de lastro e bioincrustação: analisam que não haverá problema, mas continuam sem indicar o que será feito com a água de lastro.

Golfinhos – Boto cinza (Sotalia guianensis): estudos demonstram que os golfinhos ficam concentrados na região do eventual empreendimento durante o inverno, o que determina ser o melhor período para a dragagem. Reiteradas vezes Monteiro interrompeu a apresentação salientando que “são menos do que 50 golfinhos”. A preocupação é que as dragagens afetem o habitat natural desses animais.

Esgoto do crescimento urbano de Biguaçu e região: foi afirmado que isso é de responsabilidade do município de Biguaçu.

Derramamento de óleo: apresentaram simulações do risco de vazamento, salientando que risco e impacto são diferentes, mas não foram apresentadas as medidas de contenção que, segundo os gráficos, em duas horas tomaria conta da Baía Norte.

Prejuízos à maricultura: admite que haverá impactos, mas seu objetivo é auxiliar as associações de maricultores a mudarem-se para um local mais adequado.

Impactos na pesca artesanal: a empresa comprometeu-se a não usar bóias de delimitação porque isso impacta a pesca de caceio de camarão.

Incremento populacional: a empresa e a prefeitura investem na formação de mão de obra na Grande Florianópolis, o Senai dá cursos de pedreiro, carpinteiro e armador. Afirmam que evitarão o problema da favelização do município e arredores.

Impactos no setor turístico: a preocupação com a balneabilidade, o impacto visual do empreendimento na região e com a transformação da vocação turística da região em vocação portuária foram tratados como normal do processo de crescimento.

Alternativas locacionais foram descartadas: A OSX fez estudos em quatro alternativas locacionais em Santa Catarina para a instalação do estaleiro, entre elas, três foram descartadas. Entenda o caso:

1) Itajaí – Rio com largura insuficiente que restringe a manobra das embarcações.

2) São Francisco do Sul – Projeto de criação de reserva de fauna no entorno da Baía de Babitonga e necessidade de corte de vegetação numa eventual área a ser construído o empreendimento.

3) Imbituba – Mar agitado, necessidade de transferência de moradores e localização na APA da Baleia Franca.

(Por Vera Gasparetto, Porto Gente, 25/06/2010)