10 maio Sofrer nas pontes
Da coluna de Moacir Pereira (DC, 09/05/2010)
Durante o Império e no início da República, a população da Ilha e de toda Santa Catarina vivia um dilema: a separação física, o isolamento geográfico que a condição insular impunha aos 40 mil habitantes e aos outros milhares de visitantes. Com visão de estadista, Hercílio Luz teve uma decisão histórica e corajosa. Para acabar com o sofrimento do povo, sepultar movimentos separatistas e consolidar Florianópolis como a capital, partiu para a construção de uma moderna ponte pênsil. Seu sonho era acabar para sempre com o martírio do incômodo e lerdo transporte marítimo e dar à população o melhor meio de acesso terrestre, com uma ponte que previa até transporte ferroviário. Hercílio Luz não viu seu sonho realizado. Morreu dois anos antes da inauguração. Mas seu nome ficou imortalizado para sempre naquela que é hoje a maior ponte pênsil do Brasil e a obra de engenharia mais admirada e fotografada de Santa Catarina.
Num tempo em que eram escassos os recursos tecnológicos e as intervenções da engenharia, foram necessários apenas três anos e seis meses para construir aquele excepcional monumento. Veio a fissura do olhal, em 1982. E, apesar da engenharia moderna e da informática, já se passaram 28 anos… E a Ponte Hercílio Luz lá permanece bloqueada, submetida a um processo de manutenção e restauração que ajuda mais a enriquecer as empreiteiras do que a proteger o patrimônio histórico. Governos entram, governos passam, e nada acontece. Só remendos, pinturas e andaimes, sem que as novas gerações possam ter o privilégio de transpô-la ou, ao menos, de visitá-la.
Esta é a semana dos 84 anos da Ponte Hercílio Luz. Um novo governo está para se encerrar. E mais uma promessa não cumprida.
Falta vontade
No início do século passado, eram milhares que penavam com a falta da ponte. Oitenta e quatro anos de passaram e o sofrimento só aumentou, a despeito de duas novas pontes. Filas intermináveis, de dia e de noite, na entrada e na saída, provocam estresse, retardam compromissos, causam conflitos sociais, prejudicam a economia e, sobretudo, representam irrecuperável perda de tempo. Todos sofrem prejuízos, menos, é claro, os que vivem nas alturas, de helicópteros. Pior: ninguém convoca especialistas em engenharia de tráfego para buscar alternativas, amenizar o drama diário de milhares de cidadãos, todos contribuintes. Fica tudo como está para ver como é que fica. Mudanças? Só improvisações. Tem mais. A Ponte Hercílio Luz tem duas magníficas cabeceiras. Ambas com visuais deslumbrantes para as duas baías, que decoram, com diferentes paisagens em mutações constantes, esta Ilha maravilhosa. São hoje, no Brasil, certamente as mais desprezadas para lazer, turismo, atividade cultural ou simples convivência social.
Imagine-se ali um florido e amplo bulevar na Alameda Adolfo Konder, na frente da estátua de Hercílio Luz, com bares, atelieres, choperias, livrarias, restaurantes, cafeterias, árvores frondosas e esculturas de artistas locais, feericamente iluminada, quem sabe um pequeno parque infantil, acolhendo a população local e os turistas.
Hercílio Luz morreu há 86 anos. No próximo dia 13/05, SC comemora os 84 anos de inauguração de sua maior obra. E a “homenagem” que se presta ao grande estadista está lá, na frente do banco redondo. Sua bela residência, abandonada e no esquecimento de seus concidadãos.
MARCHA LENTA
Da coluna Visor, por Rafael Martini (DC, 09/05/2010)
O sonho de ver o cartão-postal da cidade reaberto vai demorar. Desde dezembro as obras da Ponte Hercílio Luz estão praticamente paradas. O repasse de recursos ao consórcio responsável pela recuperação está atrasado. E nem sinal dos operários mexerem no vão central, a parte considerada mais sensível da obra. Prazos, então, nem pensar. Por um bom tempo ela ainda servirá só para admirar.