Falta de água: Dignidade no bueiro

Falta de água: Dignidade no bueiro

No alto do Morro da Caieira do Saco dos Limões, a água que as famílias usam para beber e limpar a casa é amarela, cheira estranho e tem gosto de barro. E não vem da torneira.

Desde terça-feira, cerca de 30 pessoas que moram na Travessa Santa Terezinha utilizam a água que escorre de um cano e desemboca dentro de um bueiro na rua. Elas tiram a grade do buraco e se servem com baldes. Dali, o líquido vai direto para o fogão, é fervido, e ganha quatro utilidades: o banho, a louça, a descarga e o preparo da comida.

– Não temos dinheiro para comprar bombonas e, muito menos, almoçar em restaurante. Se não for isso, ficamos sem ter água para viver – lamenta o biscateiro José Carlos Fidélis, 51 anos, que vive com três filhos.

Segundo os moradores, a localidade está sem água desde o fim da tarde de terça-feira. Primeiro, o fato foi encarado como normal, já que boa parte da cidade ficou sem abastecimento naquela noite devido ao forte temporal. Mas aí veio a quarta-feira, a quinta e a sexta, e nada da água aparecer na comunidade.

Antes do bueiro, o abastecimento improvisado vinha de outra fonte: a água da chuva que desce do alto do morro e escorre por uma vertente em meio à lama. Porém, quando ela secou, na quinta-feira, os moradores se viram órfãos mais uma vez. Segundo eles, a água do bueiro também seria da chuva e procedente do alto do morro. Mas como corre dentro do cano, não há como saber por onde passa.

Alguns moradores contam que é comum encontrar ratos na tubulação, mas nem assim deixam de beber. Nem mesmo com os sintomas estranhos que já começaram a aparecer na vizinhança: há quem reclame de dor no estômago e barriga inchada. Mas o lamento maior ainda é outro: a água do bueiro também está se esgotando e não há outra alternativa.

O que diz a Casan Cuidados
Por e-mail, a assessoria de imprensa da Casan informou que a causa da falta d’água na localidade foi um vazamento na rede da rua Manoel Gualberto dos Santos, consertado na manhã de sexta-feira. Depois de ter sido alertada pela reportagem, o órgão comunicou que o fato já havia sido normalizado e o abastecimento se daria de forma gradativa, ao longo da sexta-feira.
– Não beba água da qual você não conheça a procedência
– A aparência da água não garante que ela é potável. Mesmo que pareça boa, não beba
– Ferva sempre toda a água que beber e usar na cozinha
– Para a água que apresenta coloração diferente, você pode misturar hipoclorito de sódio, composto usado como desinfetante e alvejante e vendido em farmácias e supermercados a um preço reduzido

(Por Sâmia Frantz, DC, 23/05/2010)

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