Praias: O sumiço da areia

Praias: O sumiço da areia

Pescadores, comunidade e turistas já sentem os efeitos do encolhimento da faixa de areia em várias praias da Capital. Solução encontrada até agora é considerada temporária.

Moradores de duas praias da Ilha de Santa Catarina pedem socorro: a faixa de areia está diminuindo significativamente. Em Canasvieiras, Norte da Ilha, e na Armação, no Sul, as comunidades se organizaram para chamar a atenção dos órgãos públicos para o problema. Dois projetos de “engordamento” das praias foram elaborados, mas não há previsão de execução para nenhum deles.

Na Armação, a Associação de Pescadores está à frente do movimento. Na busca por uma solução, o presidente da entidade, Fernando Sabino, descobriu um estudo elaborado pelo Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) em 1999. Naquele ano, com a ajuda de alguns vereadores, a associação conseguiu que o projeto fosse retomado. Ele está em fase de atualização e, nos próximos meses, deve ser encaminhado para licenciamento ambiental.

– Nós já perdemos até peixes por falta de espaço para descarregar. Mas não são só os pescadores que sofrem com isso. O problema é de toda a comunidade. Muitos turistas já não vêm mais para cá porque não tem praia para ficar. Quem mora aqui e vive de turismo perdeu bastante – lamenta Sabino.

Em Canasvieiras, um projeto para aumentar a faixa de areia, da Secretaria de Obras de Florianópolis, foi encaminhado à Fatma em 2005. O órgão pediu novos estudos e, depois de refeito várias vezes, o projeto foi entregue, em novembro passado. Segundo o engenheiro da secretaria, Jairo Henkes, a obra só espera pela licença, já que os recursos estão garantidos pelo governo federal. O engordamento deve custar cerca de R$ 10 milhões.

Para o professor do Laboratório de Oceanografia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Jarbas Bonetti, obras deste tipo com retirada de areia de outros locais para fazer aterro, ajudam por algum tempo, mas o serviço, mais cedo ou mais tarde, terá de ser refeito.

– A rigor, a única solução definitiva para o problema seria remover as construções em uma faixa de vários metros a partir da linha do mar. Desta forma, a dinâmica natural do sistema e os estoques de sedimentos seriam mantidos. Parece utópico, mas em alguns locais do mundo, sobretudo na Europa, isso já vem sendo realizado – afirma o professor.

(Por Mayara Rinaldi, DC, 20/03/2010)

Segredo é a preservação

Outras quatro praias da Capital sofrem com o encolhimento. Em 2006, o geólogo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Norberto Horn, fez um levantamento de áreas de risco de destruição por causa da erosão costeira.

Além de Armação e Canasvieiras, Naufragados, Pântano do Sul, Barra da Lagoa e Ingleses são de alto risco. O Plano Diretor, que está em discussão e prestes a ser encaminhado à Câmara de Vereadores, inclui engordamento dos Ingleses.

De acordo com Horn, a erosão costeira é natural, mas em alguns locais é ampliada por causa da ação do homem.

Com a construção de casas e edifícios muito perto da orla, muitas vezes ocupando até as dunas, a movimentação natural das ondas, que leva e traz areia para dentro e para fora do mar, acaba se tornando um risco.

– Em praias preservadas como a de Moçambique, esse movimento é pouco sentido. O problema é sério onde as dunas foram ocupadas – explica o professor do Laboratório de Oceanografia Costeira da UFSC, Jarbas Bonetti.

Os estudiosos citam outras praias: Barra Velha, Piçarras, Navegantes, Bombinhas, Imbituba, Ibiraquera, Rincão, Araranguá e Arroio do Silva.

(DC, 20/03/2010)