08 mar Estaleiro: A grande virada de Biguaçu
Chamada de “Embraer dos mares” pelo seu dono, a empresa vai destinar R$ 3 bilhões para o maior investimento privado em SC. Veja na maquete eletrônico como será o empreendimento.
Enquanto, em Santa Catarina, alguns dizem que, com a instalação da OSX Estaleiros, a Grande Florianópolis passará a ser conhecida como a Grande Biguaçu, no Rio de Janeiro, o bilionário Eike Batista, empreendedor do projeto, fala com orgulho que a sua companhia de construção naval OSX será a “Embraer dos mares”.
A mais nova empresa do grupo EBX, de Eike, que promete ser o maior investimento privado feito na história do Estado, ganhou projeção nacional e internacional quarta-feira, com o anúncio da oferta inicial de ações (IPO) da OSX Brasil SA na Bovespa, no próximo dia 19. A expectativa é buscar, junto a investidores do mercado, até R$ 9,9 bilhões, pagar os custos da operação na Bolsa e sobrar cerca de R$ 6,4 bilhões para investir.
Desse montante, R$ 3 bilhões serão destinados para o estaleiro catarinense, R$ 5,5 bilhões para afretamento (locação) de navios-sondas e plataformas, e a outra parte deve ser usada para aquisições e investimentos.
O estaleiro será baseado em área de 2,9 milhões de metros quadrados, terá dois diques secos com um total de 450 metros de comprimento e sua capacidade de processamento será de 180 mil toneladas de aço por ano. Inicialmente, fará dois produtos: os navios-sondas FPSO (floating production storage offloading), para produção, armazenagem e transferências flutuantes; e plataformas semissubmersíveis.
Se as licenças ambientais forem concedidas até meados do ano, a intenção é iniciar a construção no segundo semestre e começar a produção na nova empresa no segundo semestre de 2011. A obra vai gerar 3,5 mil empregos diretos na construção e 4 mil na fase de operação.
A nova companhia brasileira OSX Brasil SA nasce com três empresas voltadas para a exploração e produção de petróleo e gás natural no mar. A OSX Estaleiros fará as plataformas e navios, a OSX afretamento vai alugar equipamentos da unidade de estaleiros e de outros produtores mundiais para produzir petróleo, e a OSX manutenção vai dar retaguarda de serviços para os equipamentos de produção.
O afretamento de unidades de exploração, em contratos de longo prazo, será, principalmente, para a petrolífera do mesmo grupo, a OGX SA, que é a maior empresa privada brasileira do setor. A intenção, também, é fornecer para a Petrobras.
Neste período de oferta de ações, a OSX e as corretoras que participam não podem dar entrevistas. As informações ficam limitadas ao prospecto que foi à Bolsa e ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima). No prospecto, a empresa explica que se não conseguir todos os recursos com a oferta de ações no mercado de capitais poderá negociar linhas de financiamento e crédito com instituições financeiras do Brasil e exterior. E, ainda, se a captação da oferta não atingir o patamar esperado, a destinação de recursos para todas as operações do empreendimento será reduzida.
A expectativa otimista, de que será possível atrair bilhões de reais de investidores institucionais e qualificados, está baseada no cenário futuro favorável. Somente a OGX terá necessidade, nos próximos 10 anos, de 48 unidades de exploração e prospecção, com custo estimado de US$ 30 bilhões. O anuário de 2009 da Agência Nacional de Petróleo aponta que 80% das reservas de petróleo e gás do Brasil estão no mar (offshore), e a necessidade brasileira para os próximos 10 anos é projetada em 171 equipamentos, orçados em US$ 141 bilhões.
(Por Estela Benetti, DC, 07/03/2010)
Empregos, e com um bom salário
A oferta de empregos com remuneração acima da média da região da Grande Florianópolis é outra expectativa em relação à nova empresa. As projeções são de abertura de 3,5 mil empregos diretos na fase de implantação da unidade e 4 mil na fase de operação.
E para cada emprego direto, após o início da produção, é estimado pelo menos um indireto, na prestação de serviços, o que significará mais 4 mil postos de trabalho.
No Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima), a empresa explicou que pretende contratar 80% de trabalhadores da região na fase de implantação e 90% na fase de operação. Vai capacitar pessoas do local e oferecerá plano de saúde a empregados e familiares, além de transporte, para diminuir a pressão nos sistemas públicos de saúde e transporte de Biguaçu.
A companhia informou no prospecto à Bovespa que, com base no contrato de cooperação técnica com a Hyundai, terá treinamento de pessoal. Também fez contato com o Senai de Santa Catarina para futura formação de trabalhadores.
Na lista de riscos para o empreendimento, a OSX citou uma possível dificuldade de contar com mão de obra qualificada, embora tenha destacado que Santa Catarina tem boa oferta de trabalhadores.
Este é um problema presente no Estado. Como Itajaí e Navegantes integram o melhor polo naval do Brasil, quase uma dezena de novos estaleiros está levando trabalhadores da região com a oferta de salários melhores, diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Construção Naval de Itajaí, Paulo Dutra. Segundo ele, o Estaleiro Atlântico, de Recife, levou mais de 200 trabalhadores da região, desde engenheiro naval até tecnólogos e profissionais de operação. Dutra afirma que na região de Itajaí, para cada emprego direto são gerados cerca de cinco indiretos.
O presidente do sindicato dos trabalhadores de Itajaí e região, Oscar João da Cunha, diz que um bom soldador recebe hoje, nos estaleiros do Litoral Norte, cerca de R$ 1,8 mil; um tecnólogo, em torno de R$ 5 mil: e um engenheiro, por volta de R$ 15 mil. Quem ingressa no chão de fábrica sem uma função técnica recebe o piso, R$ 740.
(DC, 07/03/2010)
Fatma diz que pode licenciar
Entrevista: Murilo Flores, presidente da Fatma
O procurador do Ministério Público Federal (MPF), Eduardo Barragan, surpreendeu, terça-feira, com a recomendação para a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma) transferir o processo de licenciamento do OSX Estaleiros para o Ibama. O presidente da fundação, Murilo Flores, disse que vai defender junto ao MPF que a Fatma continue com o trabalho, porque ela tem competência jurídica e técnica para realizá-lo. O projeto inclui licença para o estaleiro e um canal de 12,3 quilômetros e profundidade de nove metros para a saída dos novos navios-sondas e plataformas.
DC – A Fatma vai continuar com o licenciamento do estaleiro?
Murilo Flores – Vamos defender isso porque, sob o aspecto jurídico, não há embasamento legal que tire da Fatma a responsabilidade de fazer o processo de licenciamento, por duas razões. Primeiro, no artigo 20 da Constituição, não há relacionamento da zona costeira como bem da União, embora seja patrimônio nacional. Segundo, o Decreto Federal 5.300/04 diz que compete ao Ibama o licenciamento de empreendimentos de impacto ambiental regional (quando envolve mais de um Estado) na zona costeira, o que não é o caso. Portanto, não há razão jurídica para que o licenciamento não seja feito pela Fatma.
DC – E o aspecto técnico?
Flores – A Fatma está absolutamente capacitada para fazer o trabalho. Temos a equipe necessária para fazer a análise do EIA-Rima, que são biólogos, sanitaristas e engenheiros civis. Portanto, nem do ponto de vista legal nem do técnico há razão para passar isso ao Ibama. Seria o Estado abrir mão da sua competência legal e técnica. Então, vamos responder ao MPF que não vamos atender a recomendação.
DC – Quando saem as licenças?
Murilo – Definir prazo é a coisa mais difícil. A Licença Ambiental Prévia, que está sendo avaliada agora, é a que estabelece as regras do jogo e a que demora mais. Ela diz se empreendimento é viável e define condições. Se ela não sai é porque o projeto é inviável. Se é concedida, em muitos casos o investidor tem que cumprir determinados requisitos que tornam o projeto viável. Mas, na maioria das vezes, o investidor absorve o custo e implementa os programas exigidos pela licença.
(DC, 07/03/2010)
Da Hyundai, a excelência
Para ser líder na indústria naval de exploração petróleo no Brasil, a OSX Estaleiros firmou parceria com a líder mundial do setor, a Hyundai Heavy Industries (HHI), gigante da Coreia do Sul. Dona de tecnologia “estado da arte”, segundo definição da EBX, a companhia asiática terá 10% do capital do estaleiro. O contrato prevê transferência de tecnologia e treinamento.
Quem visitou a empresa coreana confirma que ela busca perfeição não só no aspecto tecnológico, mas também na qualidade de vida dos seus 45 mil empregados e cuidados com o meio ambiente. Na área fabril, todos usam equipamentos de proteção e os salários retratam a riqueza da companhia: a menor remuneração para um trabalhador com graduação na Hyundai Heavy é US$ 7 mil (R$ 12,544 mil) por mês. A companhia vale, na bolsa de Seul, US$ 14,4 bilhões, em 2008 teve receita líquida de venda de US$ 25 bilhões e, para 2009, os números ainda não fechados indicam receita líquida de US$ 18 bilhões.
A indústria naval é um dos principais motores da Coreia do Sul e foi impulsionada, nas últimas duas décadas, por financiamento barato do setor público e investimentos maciços em educação de qualidade.
Além do Hyundai, o país tem mais dois grandes estaleiros no segmento, o Samsung e o Daewoo, e outros menores.
(DC, 07/03/2010)
Futuro vai chegar antes à cidade
A transformação da Biguaçu pacata de hoje em uma Biguaçu mais moderna vai trazer uma série de desafios ao município.
A Biguaçu de ruas estreitas, quase sem prédios, e da gente simples que se cumprimenta pelo Centro testemunha as vésperas de uma guinada de rumo. O impacto que a chegada do estaleiro provocará na cidade é visto como um desafio pelo prefeito José Castelo Deschamps e sua equipe, que querem promover desenvolvimento com sustentabilidade.
Estimular a capacitação profissional é uma das prioridades – do chão de fábrica aos polos tecnológicos. Mas a infraestrutura também está na ordem do dia. A cidade vai, em breve, abrigar um novo hospital, um anel viário e um empreendimento imobiliário para 3 mil famílias das classes média e alta.
– Se olharmos os quatro municípios próximos da Capital, o único que não acompanhou o desenvolvimento foi Biguaçu. Esse primeiro momento será o mais difícil, teremos que mudar a cultura, que ainda é do jeitinho, da pedincha e do favor – afirma o prefeito.
O plano diretor já foi aprovado e a lei de gerenciamento costeiro está em regulamentação. Para dar conta da expectativa de novos postos de trabalho, está prevista a instalação de um Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) na cidade, com cursos de nível profissionalizante e superior.
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação Tecnológica, João Braz da Silva, acrescenta que há intenção de parcerias com a Univali – que tem dois campi em Biguaçu – e com o Centro de Inovação Tecnológica de Biguaçu (Citeb) – que possui uma incubadora e projetos de pesquisa e desenvolvimento –, além de outras instituições privadas.
O acesso à cidade será facilitado. O prefeito Castelo cita o anel viário da Grande Florianópolis, entre Palhoça e Biguaçu, cujas obras devem começar em 2011 para conclusão em 2014. Está prevista a construção de um hospital com 127 leitos para atender 80% da comunidade local, com especialidades como maternidade, pediatria, ortopedia, entre outras. Hoje os biguaçuenses têm de procurar esse atendimento em outras cidades.
Para os endinheirados locais, está prevista a construção do condomínio residencial Deltaville, com início das obras em 2011 e entrega em 10 anos. Voltado para as classes A e B, o loteamento terá supermercado, farmácia e demais serviços, como um bairro independente, como explica o secretário Braz. O prefeito Castelo acrescenta que estão fazendo um loteamento de indústrias, numa área de 40 hectares e há outros 150 em negociação, para servirem como complemento às atividades do estaleiro.
Quanto à arrecadação de impostos e à ampliação de serviços, como hotéis e restaurantes, Castelo afirma que ainda é cedo para estimativas. Também não há ainda uma divulgação em massa sobre a dimensão do impacto do estaleiro na cidade para a população, que será avisada “no momento certo”, de acordo com o prefeito.
Mesmo assim, há quem aposte no crescimento. O proprietário da rede de supermercados Mercocentro, João Jacob de Andrade, está ampliando negócios. Vai transferir a loja de 600 metros quadrados para um espaço de 1,6 mil metros quadrados, com a qual espera ter o dobro de faturamento. Andrade, que começou a trabalhar como verdureiro, abriu o primeiro mercado há 14 anos em Biguaçu. Hoje tem duas lojas e aposta no desenvolvimento da cidade.
(Por Alícia Alão, DC, 07/03/2010)