19 mar Após 4 anos, está perto do fim o levantamento florestal em SC
Terminam nesta semana os trabalhos de campo que vão incluir a Ilha de Santa Catarina no Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC). Pesquisadores têm percorrido matas no entorno da Lagoa do Peri, Vargem Grande e Lagoinha do Leste para examinar o que sobrou de florestas e de plantas epífitas, como orquídeas, bromélias e samambaias.
O projeto é uma iniciativa do governo estadual, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica de Santa Catarina (FAPESC). Desta instituição é a doutora em gestão ambiental Adriana Dias, quem explica que os resultados científicos deste levantamento servirão para formular políticas públicas relativas às florestas catarinenses. “Precisamos conhecê-las para tomar decisões estratégicas sobre seu uso e sua conservação”, salienta.
A atual fase do inventário está sob coordenação da Universidade Regional de Blumenau (FURB), mas também participam do IFFSC a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (SAR) e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI).
Minas Gerais e Rio Grande do Sul já concluíram seus levantamentos, mas nosso estado é o primeiro a usar a metodologia definida para o Inventário Florestal Nacional, a qual permitirá a integração dos dados obtidos em todas as unidades da federação. Rio de Janeiro, Distrito Federal e Sergipe devem ser os próximos a iniciarem seus inventários estaduais.
“Nós começamos em 2007, mas trabalhamos principalmente no verão porque a identificação de muitas espécies só é possível quando há flores ou frutos, e com a maioria delas, isso acontece entre setembro e abril. De todo jeito, devemos terminar este ano”, diz o Prof. Dr. Alexander C. Vibrans, coordenador do IFFSC.
O plano original era rastrear 440 pontos no território catarinense, porém este número deve chegar a 520. “O Parque Municipal do Peri não estava previsto, mas entrou porque tem uma floresta bem conservada, e nos permite analisar melhor o grau de degradação das demais”, acrescenta Vibrans. “Lá e em outros locais preservados encontra-se grande quantidade de plantas epífitas (que vivem agarradas a árvores sem parasitá-las)”.
Algumas orquídeas florescem no inverno e por isso o levantamento de epífitas no estado se estenderá até 30 de agosto de 2010; 30 de junho é a data limite para inventariar as florestas catarinenses. Além do grupo que atua na ilha – composto por biólogos, engenheiros florestais, auxiliares de medição e de coleta – atualmente existem equipes trabalhando em regiões de Angelina, Taió, Braço do Norte, Corupá e Joinville.
Na semana passada, o Serviço Florestal Brasileiro garantiu um repasse de R$674 mil para financiar os estudos complementares àqueles já bancados pela FAPESC, com R$3 milhões. “Para 2011, está programado um evento público para apresentar os resultados de todo o projeto”, conclui Vibrans.
Equipe da FURB enfrenta desafios diários
Levantar às 6 da manhã e dormir perto da meia-noite tem sido rotina para alguns pesquisadores da FURB nos últimos anos. Mais que compromisso em terminar o inventário dentro do prazo,é o entusiasmo que move muitos deles, desde jovens de 18 anos até profissionais experientes.
Entre eles está a escaladora Simone Silveira, acostumada a subir em 4 árvores por dia para medir a circunferência do tronco em várias alturas. Ela vem mantendo esta média há 4 anos, ou seja, desde o início do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina.
Nem sempre o grupo foi bem recebido. Alguns donos de terra no Planalto Serrano negaram acesso às suas propriedades, mas isso foi uma exceção. A maioria entendia as metas do inventário, e houve até quem ajudou a alcançá-las. “Já aconteceu de nos emprestarem um cavalo para a gente se deslocar com mais facilidade e de levarem a gente de trator aos lugares mais acidentados”, disse o biólogo Tiago João Cadorin.
Ele lembra de várias situações difíceis e de ter empurrado Kombis que atolaram na lama ou tiveram outros problemas. Cada desafio resultou num avanço sobre o modo de conduzir a pesquisa, porém certos procedimentos vem sendo repetidos à exaustão. Realmente cansa, ao final de um dia – que, no caso dos trabalhos de campo feitos na Lagoa do Peri, começava com uma hora de caminhada na mata – usar parte da noite passando álcool em folhas e outras partes das plantas coletadas.
Os pesquisadores também colocam as amostras entre folhas de jornal, papelão e madeira, tentam identificar de que espécie são – se isso não pôde ser feito na floresta – tudo no retorno ao Centro de Treinamento que a EPAGRI mantém em Florianópolis. Após a jornada laboral de sexta-feira (12), às 20h30 a bióloga Anita Stival dos Santos escrutinava um livro para descobrir o nome científico de certas plantas pouco comuns que sua equipe coletara naquela tarde. Ás vezes, os pesquisadores consultam sites ou buscam especialistas para dar a palavra final. Esta última alternativa foi acionada quando a bióloga Juliane Schmitt encontrou uma bromélia em Orleans da qual, aparentemente, não havia registro no estado. A resposta vem sendo aguardada por todos.
(Por Heloisa Dallanhol, Fapesc/Agecom, 19/03/2010)