Beira-mar Norte: O endereço mais caro do Sul é aqui

Beira-mar Norte: O endereço mais caro do Sul é aqui

Metro quadrado desocupado no endereço mais caro da região Sul e um dos cinco mais valorizados de todo o Brasil é item em extinção. Os raros terrenos vagos ou os espaços com construções baixas na Avenida Beira-Mar Norte são cobiçados por construtoras, que enxergam nos grandes prédios do Centro de Florianópolis um investimento com retorno milionário garantido.

A alta procura e a falta de grandes espaços disponíveis para novos prédios de alto padrão contribuem para inflar os preços na Avenida Beira-Mar Norte, na Capital, apontada pelo mercado como uma das cinco áreas nobres mais caras do país. Para morar no endereço mais famoso do Estado, é preciso desembolsar uma pequena fortuna pelo apartamento e ainda se preparar para condomínios entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil.

A grande procura e a pouca oferta inflacionam o preço dos terrenos para uma média entre R$ 9 mil e R$ 10 mil o metro quadrado, que varia conforme a localização ao longo da via. Em Florianópolis, a única região que chega a concorrer em valor é Jurerê Internacional, no Norte da Ilha. Mas como no Centro os espaços são mais raros, em Jurerê ainda é possível encontrar terrenos com valores abaixo dos pedidos na Beira-Mar Norte.

– Os espaços na avenida praticamente se esgotaram – destaca o presidente do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) da Grande Florianópolis, Hélio Bairros.

Na região Sul, não há outra área que bata o preço da Capital, segundo avaliação do mercado. E no restante do país, apenas Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro contam com bairros mais nobres e com valores ainda mais elevados. O preço médio dos apartamentos na avenida varia entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões, dependendo da localização. Só de condomínio, o morador da Avenida Beira-Mar Norte desembolsa entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil por mês.

Um dos últimos grandes terrenos livres está nas mãos da construtora Woa, que tem empresários da Koerich Imóveis entre seus sócios. Embora a empresa tenha demarcado o território e exista a expectativa no setor de que ali seja erguido um novo prédio residencial de alto padrão, a direção da Woa prefere aguardar para divulgar detalhes do projeto.

A gaúcha CFL Construções, especializada no mercado de alto padrão, que entregou neste mês o residencial Acqua, teve de comprar um terreno onde havia imóveis menores e demoliu tudo para erguer o edifício de 15 andares. Embora localizado na Rua Frei Caneca, uma paralela da BeiraMar Norte, o terreno tem vista direta para o mar, sem outros prédios na frente. Como pagamento, o ex-dono da área ficou com quatro dos 22 apartamentos, sendo R$ 2 milhões o preço médio de cada unidade.

Cobertura vendida por R$ 6 milhões

A prova de que a demanda segue aquecida foi a velocidade das vendas. Lançado há três anos, o prédio foi entregue agora com apenas duas unidades disponíveis – cada uma com valor de R$ 2 milhões. Os dois apartamentos da cobertura foram vendidos para um único comprador, que transformou as duas unidades em um só apartamento de 930 metros quadros, incluindo a área descoberta. O preço: R$ 6 milhões.

A construtora trabalha em três novos projetos: um residencial em Jurerê Internacional, um comercial no Bairro João Paulo e outro no Centro, em local a ser definido.

– Estamos sempre olhando a Avenida Beira-Mar Norte – afirma o diretor de incorporação da CFL, Luciano Bocorny Correa.

Para Hélio Bairros, do Sinduscon, a ideia de demolir prédios antigos para erguer novos edifícios no mesmo espaço ainda não parece viável.

Além do bom estado dos imóveis, há o limitador de altura. Em Florianópolis, o Plano Diretor impede que as construções passem dos 12 andares. A exceção ocorre com a transferência de índice, uma manobra legal que permite ao proprietário não chegar ao limite de altura em uma construção para usar “a sobra de andares” em outra. Hoje, os maiores edifícios da cidade têm 15 andares.

– Não vale a pena derrubar um prédio de 12 andares para construir outro com a mesma altura – explica Bairros.

(Por Alexandre Lenzi, DC, 21/02/2010)

Valorização avança para áreas próximas

O crescimento imobiliário da Avenida Beira-Mar Norte impulsiona a expansão – em preço e em novos empreendimentos – para as vias paralelas no centro da cidade. A aposta é de que outras ruas da região passem pela mesma transformação que ocorreu na mais famosa avenida da Capital.

Hoje, são 76 prédios construídos na Avenida Beira-Mar Norte, no trecho entre a Ponte Hercílio Luz e a Casa D’Agronômica (residência oficial do governador), segundo levantamento do pesquisador Edson Telê Campos, no livro A expansão imobiliária e seus impactos ambientais em Florianópolis.

Para ele, a aglomeração de edifícios trouxe problemas aos moradores da região mais nobre da cidade.

– São consequências da falta de planejamento, que afetou toda a cidade. Hoje, em alguns prédios da Beira-Mar, da janela você consegue ver dentro do apartamento vizinho. O barulho é outro problema. Se você tossir muito alto, o vizinho escuta – ironiza Campos.

Ele lembra que os primeiros loteamentos da região surgiram de chácaras particulares. Na década de 1970, teve início o acentuado crescimento vertical.

– Depois disso, a região foi se valorizando ano a ano – observa.

Para a diretora de planejamento do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Cristina Piazza, essa valorização deve se expandir para áreas próximas, como a Rua Bocaiúva e sua continuação na Almirante Lamego.

– O valor do metro quadrado vai se prolongar para essa região. Deve ocorrer uma transformação nesta área nos próximos 10 anos, com a construção de prédios mais altos e requintados, assim como ocorreu na Beira-Mar.

(Por Alexandre Lenzi, DC, 21/02/2010)

Espaços comerciais não escapam ao assédio

Entre os prédios que dominam a Avenida Beira-Mar Norte, restaurantes e outros pequenos estabelecimentos comerciais resistem ao crescimento vertical da construção civil na Ilha. E com a falta de terrenos livres, o assédio das construtoras parte também para estas propriedades.

Nem todas têm o espaço necessário para a construção de grandes prédios, mas isso não inibe o potencial das áreas como investimento certeiro.

Restaurantes como Churrascaria Floripana, Macarronada Italiana, o Myoshi e Pizza Hut ocupam prédios alugados na Avenida Beira-Mar Norte. Os empresários preferem não falar em valores de aluguel.

E o consultor do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação de Imóveis (Secovi) de Florianópolis, Luciano Pinheiro, diz que são tão raros os casos de imóveis da região que entraram para locação nos últimos anos, que a entidade não tem como apurar um valor médio.

Preferindo ficar no anonimato, o dono de um restaurante que ocupa um imóvel na Beira-Mar Norte diz que há anos tenta, sem sucesso, comprar o prédio que ocupa. Mas para a família dona do terreno, o aluguel é fonte renda garantida e valorizada.

– O preço inchou demais – reclama.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) da Grande Florianópolis, Hélio Bairros, diz que essa valorização constante dos imóveis de Florianópolis tem atraído investidores de outros segmentos para o mercado imobiliário.

– A Ilha toda tem uma valorização fantástica, de 30% ao ano em média. Na Avenida Beira-Mar, passa disso – compara ele.

Para Bairros, o que falta agora é investimento em infraestrutura. Os gargalos são a falta de saneamento básico e o trânsito congestionado.

Ciganos na Beira-Mar e estacionamento milionário

Outros alvos de assédio são a região conhecida como Ponta do Coral, área particular com cerca de 20 mil metros quadrados próxima à residência do governador; e o estacionamento em frente ao Beiramar Shopping, propriedade do Exército.

No caso da Ponta do Coral, a diretora de planejamento do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Cristina Piazza, diz que existe um movimento para transformar o terreno em área pública, o que depende de trâmites jurídicos.

Ela reconhece a viabilidade para se construir um edifício na área, mas acredita que qualquer empreendimento erguido ali enfrentaria resistência da comunidade. Em setembro do ano passado, o disputado espaço foi ocupado por um grupo de ciganos, que deixou o local após queixas da população.

Para a área usada como estacionamento em frente ao Beiramar Shopping, Cristina diz existe um projeto para construção de uma praça pública, mas ainda não há um cronograma elaborado. Se fosse comercializado, ela estima que o terreno geograficamente favorecido custaria, no mínimo, R$ 25 milhões.

(Por Alexandre Lenzi, DC, 21/02/2010)