Série “Ruas do Coração”

Série “Ruas do Coração”

Confira a história das principais ruas do Centro de Florianópolis

Publicada ao longo do ano de 2008 na seção de memória do caderno Arquitetura & Decoração, a série especial “Ruas do Coração” contou as histórias das principais ruas do Centro de Florianópolis. As reportagens revelam o seu surgimento, as mudanças ao longo dos anos, os nomes que já tiveram, além de contar com o depoimento de pessoas que moraram na rua ou que a conheciam bem. Elas trazem ainda uma análise de sua atual situação e vocação. O resultado é uma viagem no tempo.

Ruas do Coração: Esteves Júnior
Uma das mais importantes ruas da cidade, Esteves Júnior abandonou a característica de chácara nos anos 60 e 70
Publicada em 10-02-2009
Casarão da família Moellmann, numa época em que a Esteves Júnior ainda era uma chácara

Ela já foi a Rua do Passeio, Rua Formosa e Rua Senador Mafra antes de receber o nome atual em homenagem a Antônio Justiniano Esteves Júnior, senador da república de 1890 a 1900. Reza a lenda que certa vez ele próprio foi pego em flagrante tomando banho de mar em “trajes de Adão”, numa época em que não era comum banhar-se na Baía Norte. Quem conta a história é a poetisa Leatrice Moellmann, nascida, criada e até hoje moradora da Rua Esteves Jr.. Filha de Egberto da Costa Moellmann, cujo irmão José foi Prefeito de Florianópolis, Leatrice é da 5ª geração da família que chegou aqui em 1860, vinda da Alemanha. Na sua época de menina, as chácaras da Rua eram habitadas, principalmente pelos descendentes germânicos, que trabalhavam duro e conseguiam juntar um “bom tutu”.

Naquele tempo, as famílias todas se conheciam, e as crianças brincavam no trapiche da Praça Esteves Jr., cantando músicas folclóricas e jogando amarelinha. Em 2004, Leatrice ganhou uma placa na Praça com uma poesia sua, mas que foi levada por um vento forte desses que às vezes sopram na Ilha.Perguntada se sente saudades dos tempos antigos, ela afirma que não, mas se emociona ao lembrar do privilégio que é morar ainda hoje na rua que ama.

Hoje, restam de pé muito poucas das construções originais da rua que se manteve quase igual até os anos 60 e 70, quando as chácaras começaram a dar lugar a prédios residenciais e comerciais. Entre elas está o Colégio Catarinense, a residência do historiador e médico Oswaldo Rodrigues Cabral, agora habitada pelo neto, a Cúria Metropolitana e um grupo de casas na esquina com a Rua Almirante Lamego. Mesmo assim ainda é bem arborizada, aprazível e um dos melhores endereços para se morar no Centro de Floripa.

Ruas do Coração: Almirante Lamego e Bocaiuva
Bocaiúva e Almirante Lamego vêm exercendo papel de destaque no crescimento da cidade desde o século XIX
Publicada em 10-04-2009
registro da antiga Praia de Fora, em 1912, que revela os trilhos do bondinho puxado a burros.

O eixo compreendido pelas ruas Bocaiúva e Almirante Lamego é hoje um dos endereços residenciais mais nobres de Florianópolis. Até 1848, quando teve seu arruamento e cercas deferidas pela Assembléia Legislativa Provincial, o local era apenas um primitivo caminho ao longo da praia, paralela à Baía Norte. O primeiro nome oficial foi “Rua da Praia de Fora”. Posteriormente, a Bocaiúva se tornou “Rua São Sebastião”, e a Almirante Lamego “Rua Sant’Ana”. Os nomes atuais são homenagens a Quintino Bocaiúva, jornalista e político, e Jesuíno Lamego da Costa, militar e político, o Barão de Laguna.

Fundada em 1856, e reformada em 1928, a capela de São Sebastião é a principal referência arquitetônica da época localizada nestas vias. No seu centenário, sofreu nova reforma que manteve o frontispício principal e a volumetria. Nas últimas décadas, porém, recebeu um anexo lateral que descaracterizou o conjunto, alterando o seu visual, que mesmo assim preserva o valor histórico. No seu singelo interior, possui acervos sacro, mobiliário e bibliográfico de grande interesse.

As primeiras residências construídas na região davam de fundos para o mar. Até a construção do aterro da Baía Norte, era por onde circulava grande para do trânsito proveniente do Norte da Ilha em direção ao Centro da cidade.

Pelo Plano Diretor atual, a maior parte da área é composta por ATRs – Áreas Turísticas Residenciais, com poucas AVLs – Áreas Verdes de Lazer – e uma ACI – Área Comunitária Institucional. Por enquanto, não há nenhuma indicação de modificação futura.

Antigos moradores

Construída no início do século XX, a casa que já abrigou três gerações da família Silveira, no nº 32 da Rua Bocaiúva (esquina com a Av. Othon Gama D´Eça), é uma das poucas construções remanescentes deste período na região. Ainda naquela época, o local se apresentava como uma grande chácara, abrangendo uma área que ia até a atual Avenida Rio Branco (trecho após a Rua Esteves Júnior). A casa de alvenaria, com pé direito alto, mantém as características originais da arquitetura da época. As janelas com grandes aberturas são as mesmas do século passado. O assoalho e as portas de alguns ambientes também são originais. Em outros o chão foi restaurado, mantendo a semelhança com o material retirado.

Nascido na esquina da Bocaiúva com a Rua Alves Brito, o empresário Vitor Gomes se mudou dois meses depois por causa da morte do pai. Mas o imóvel permaneceu com a família até 1994. Foi lá que, em 1989, aos 17 anos, abriu o seu primeiro negócio: a padaria Pão Família. Depois, quando iniciou o Emporium Bocaiúva, o nome mudou para Emporium Panificação. Nesta época, o movimento era tão pequeno que se podia estacionar dos dois lados da rua, que só foi asfaltada após 1996.

“Aqui tudo começou para mim. Era um bairro residencial, só de casario. Eu ando na rua e conheço todo mundo. Tem gente que eu vi nascer. Mas mudou muito nos últimos 20 anos. A vocação comercial da Bocaiúva começou com a Macarronada Italiana e o restaurante Don Pepe. Teve também a boate Bacarat (hoje o restaurante Mirantes), o Solitário Kid e a Dizzy, onde curti as minhas primeiras saídas na night. Mas saudades mesmo eu só tenho dos sabores de infância, como o sundae do Cocota”, relembra Vitor.

Depois de vender sua parte no Emporium e passar alguns anos viajando pela Europa, Vitor está de volta com novo empreendimento: o Café Riso & Etc., onde funcionava a Casa & Etc. No primeiro andar, será o salão onde haverá café da manhã, almoço executivo, happy hour e jantar. O andar superior continuará como loja de presentes e utensílios domésticos. A inauguração está prevista para meados de junho.

“Hoje, a Bocaiúva é como a Haddock Lobo, nos Jardins, em São Paulo. Ela assimilou a mudança da cidade como um todo, só que de forma mais rápida. Inclusive os imóveis têm valores iguais aos de áreas mais nobres do Rio e São Paulo. Mesmo assim, ainda mantém o charme e o padrão único de vida sem perder a tranqüilidade, como podemos ver no ir e vir dos alunos do Catarinense”, diz Vitor, feliz por continuar em sua rua do coração.

Ruas do Coração: Deodoro
Livro que conta a história das ruas de Florianópolis e teve a primeira edição esgotada deve voltar às prateleiras em breve
Publicada em 10-08-2009
A Deodoro pobre de antigamente ganhou lojas e prédios comerciais

Alguma vez você já se pegou caminhando pelas ruas do Centro e ficou imaginando como elas eram no passado? Pois pode parar de imaginar porque os registros estão no livro “Florianópolis – Memórias Urbanas”, de Eliane Veras da Veiga, que ruma a segunda edição. A arquiteta e historiadora está reeditando a obra que teve a sua primeira versão lançada em 1993, na Feira do Livro de Florianópolis.

Eliane se interessou pelo tema na época em que trabalhava no Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) e sentiu a necessidade de um registro da evolução urbana da cidade do ponto de vista histórico. A partir daí, ela mesma decidiu ir atrás das informações e publicar tudo em um livro. O que a autora não imaginava era o grande impacto que a obra teria sob arquitetos, historiadores, jornalistas e turismólogos, além dos estudantes dessas áreas e do público em geral, que fizeram com que o livro batesse recorde de vendas logo no lançamento. “Foi uma alegre surpresa pra mim, já que no início, há uns 15 anos, quando ainda era jovem e inexperiente, sai batendo na porta de algumas editoras e ouvi que a minha idéia não venderia”, lembra Eliane, que teve a chancela de dois conselhos editorias, da UFSC e da Fundação Franklin Cascaes.

Contrariando a expectativa de quem não confiava em seu trabalho, em menos de dez meses a publicação havia se esgotado. “Muita gente vem atrás de mim querendo saber do livro, já que hoje ele é muito solicitado nas escolas e Universidades do Estado. Nas livrarias não era mais possível encontrá-lo e aí veio a idéia de uma nova edição, ainda mais informativa e completa que a primeira”, afirma.

E a autora está a um passo da realização do sonho. O livro está pronto, com novas fotos e nova editoração, porém a captação de recursos ainda precisa ser concluída. “Já tenho alguns apoiadores, mas ainda há cotas em aberto”, afirma esperançosa de que novos patrocinadores apareçam em breve.

Rua Deodoro

Entre tantas outras ruas que têm seu histórico registrado no livro “Florianópolis – Memória Urbana”, está a Deodoro, conhecida rua do Centro da cidade. Hoje, a rua está repleta de lojas e prédios comerciais, mas nem sempre foi assim. Ela é bastante antiga, tendo seus primeiros registros em 1740, quando chegou a se chamar Rua do Ouvidor, Rua dos Quartéis e até Rua de São Francisco, possivelmente uma referência a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, construída entre 1802 e 1815. Somente em 1889, foi que Marechal Deodoro da Fonseca teve seu nome homenageado naquela rua, que era considerada um local muito pobre, já que ficava próximo ao porto, por onde transitavam marinheiros, estivadores e prostitutas.

O aspecto da rua e das construções melhorou com as exigências das Posturas Municipais que, no século XIX e início do XX, passaram a adotar padrões arquitetônicos mais elegantes. “As simples casinhas térreas do Bairro da Figueira, como era conhecida aquela região, e as casas voltadas de costas para o mar passaram a ser substituídas por sobrados elegantes. O local passou então de despejo dos esgotos domésticos à área comercial, como é ainda nos dias de hoje”, resume a autora do livro, Eliane Veras da Veiga.

Ruas do Coração: Felipe Schmidt
Reunindo as mais diversas tribos, Felipe Schmidt continua sendo a referência em compras da cidade
Publicada em 10-07-2009
Década de 30: mesmo sem o calçadão, que só seria construído em 1976.

Quem mora em Florianópolis com certeza já passou pela antiga Rua Moinhos de Vento. Não sabe que rua é esta? Tudo bem, então quem sabe se falarmos da Rua do Senado? Também não se recorda? E Rua da República? Ainda não se identificou? Então vamos chamá-la pelo seu nome atual: Rua Felipe Schmidt. Pois saiba que foi só depois do século 20 que a rua passou a homenagear o ex-governador do Estado.

Até a rua chegar ao que vemos nos dias de hoje, haja histórias para contar…Seus traços arquitetônicos, tipicamente coloniais, foram conservados até 1920, quando foi inaugurada a Ponte Hercílio Luz. Nesta época, a Rua teve de ser adaptada para se tornar a principal via de acesso do Centro da cidade até a ponte. Depois, com o crescimento do número de automóveis, o então prefeito Mauro Ramos decidiu pelo alargamento da via e pôs abaixo casas térreas e sobrados típicos da arquitetura portuguesa e açoriana.

O calçadão veio em seguida, em 1976, quando o prefeito Esperidião Amin se espelhou no modelo curitibano e determinou o fim do movimento de automóveis pelo local. E foi neste período também que se instalou na região o Senadinho. Era no tradicional Ponto Chic, na esquina das ruas Felipe Schmidt e Trajano, que população da cidade se reunia para tomar um cafezinho, conversar e paquerar as meninas, já que este era um encontro exclusivamente masculino, um verdadeiro clube do Bolinha.

O local já recebeu visitas ilustres, como a do então Presidente da República João Figueiredo, em 1979, durante o episódio da Novembrada. Foi a partir desse momento, que os integrantes do “clube” resolveram incumbir a Edy Leopoldo Tremel a função de presidente vitalício do Senadinho. “Com a entrada da mulher na vida pública, abrimos a sociedade também para elas e até hoje fazemos a entrega de diplomas para cidadãos da Ilha, tanto homens quanto mulheres. Não podemos deixar essa tradição morrer nessa cidade que já é carente de tradições”, diz o saudosista advogado que hoje se dedica a escrever livros.

Foi pensando em seguir com a tradição que o empresário Célio Salles recebeu a missão de ser responsável pelo mais novo café do local. “Quando reabrimos, há uns três anos, mantínhamos pouco fluxo de clientes, mas parece que agora a cidade está redescobrindo o antigo Ponto Chic”, diz, esperançoso de que o local volte a se tornar um popular ponto de encontro.

O empresário lembra ainda que graças aos investimentos públicos, hoje a Rua tem iluminação adequada, segurança com a instalação de câmeras de monitoramento, pontos comerciais valorizados, entre outros atrativos. “Geralmente nas grandes cidades o Centro é decadente e aqui ocorreu o fenômeno inverso”.

Há mais de 35 anos morando na rua, Zury Machado concorda com Célio. Ele garante estar muito feliz com a escolha do local para viver. “A cidade passa por aqui, temos tudo por perto. É muito fácil morar na Felipe Schmidt”, garante o jornalista.

Hoje, a Felipe Schmidt continua tendo um papel vital no Centro da cidade, reunindo as mais diversas tribos ao redor do grande comércio que existe por ali. Artistas, cambistas, ambulantes, panfleteiros, idosos apaixonados por dominó, enfim…Seja lá qual for a sua tribo, em algum momento da vida você já passou por ali.

Ruas do Coração: Gama D’Eça
Aberta em 1959, Avenida Gama D´Eça atravessava a antiga chácara do Barão Von Wangenheim
Publicada em 10-05-2009
Em 1990 a Av. Gama D´Eça ainda era de lajotas.

Uma das avenidas mais importantes de Florianópolis, a Othon Gama D´Eça foi aberta apenas em 1959 e mantêm o nome até os dias de hoje. Naquela época, a Hercílio Luz, a Mauro Ramos e a Trompowsky já existiam. Apesar de jovem, a avenida foi uma das primeiras a fazer a comunicação com a Avenida Beira-Mar, sendo hoje ainda importante elo entre o Centro e a Baía Norte.

Pouco se tem registrado sobre a história da Gama D´Eça. Na Biblioteca do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) não há nenhum livro que traga registros sobre a avenida. Adolfo Nicolich da Silva, em seu livro “Ruas de Florianópolis”, explica apenas quem foi Othon Gama D´Eça e reforça a data da abertura da via que ganharia o seu nome.

O nome da avenida foi a forma que a cidade encontrou para homenagear Othon da Gama Lobo D´Eça, ilhéu que contribuiu para o crescimento da cidade. Ele nasceu em 1893, se formou bacharel em Direito na Faculdade do Rio de Janeiro, exerceu diversas atividades na administração estadual, sendo Secretário de Estado, professor da Faculdade de Direito, jurista e acadêmico. Foi chefe do partido integralista em Santa Catarina.

Estímulo ao desenvolvimento

A dissertação de mestrado da professora Maria Inês Sugai, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, ressalta a importância que a abertura das avenidas Othon Gama D´Eça e Osmar Cunha – que dá continuidade a primeira após o cruzamento com a Avenida Rio Branco – tiveram para Florianópolis.

Na sua dissertação “As Intervenções Viárias e as Transformações do Espaço Urbano. A Via de Contorno Norte-Ilha”, defendida na USP, Maria Inês afirma: “Duas importantes avenidas, que efetuaram a ligação norte-sul da península, foram abertas em 1959: a Avenida Othon da Gama d’Eça e a Avenida Osmar Cunha. Estas duas avenidas e a sua conexão não constavam do Plano Diretor, na época, mas apoiavam-se no traçado de ruas locais definidas pelo plano. Além de efetuarem a ligação norte-sul no centro da península, garantiram também o reloteamento das áreas centrais da península, onde situavam-se antigas chácaras ainda não desmembradas.”

Maria Inês conta ainda que a Gama d’Eça, que iniciava-se na Avenida Beira-Mar Norte, atravessava a antiga chácara do Barão Von Wangenheim, até alcançar a Avenida Rio Branco, que efetuava a ligação leste-oeste da cidade. E segue afirmando que “Com estas duas avenidas criou-se uma maior acessibilidade dentro da península, em especial na sua área norte. Este corredor viário norte-sul, que seccionou e modificou as características do setor residencial previsto no Plano, estimulou o desenvolvimento comercial e a verticalização da área.”

A casa do Barão

A construção mais representativa localizada na esquina da R. Bocaiúva com a Av. Gama D´Eça é sem dúvida a “Casa do Barão”. A construção eclética datada do século XIX passou a ser moradia do barão alemão Von Wangenheim na década de 40 do século XX. Como os habitantes locais tinham dificuldade em pronunciar o seu nome, passaram a chamar a casa apenas de a “Casa do Barão”.

A preservação da “Casa do Barão” aconteceu em 1986, antes mesmo da sua proteção legal. Ela foi possível através de um acordo entre a Prefeitura e a construtora, que manteve esta relíquia da arquitetura antiga de Florianópolis junto as duas torres de edifícios que construiu nos fundos do terreno onde antes ficava o pomar da residência.

Memórias

O jornalista Fernando Mansur tem as memórias da Avenida Othon Gama D´Eça bem vivas. Filho de mãe ilhoa e morando em Florianópolis há quase três décadas, ele conta que antes mesmo de fixar residência na cidade andava pela região. “Freqüento a Ilha desde um ano de idade. Sempre que possível, visitávamos nossa família por aqui. Eu aproveitava para caminhar e conhecer tudo”, conta.

Mansur teve na década de 80 uma loja de surf na esquina da Gama D´Eça com a Rua Bocaiúva, a Captain Blue. O prédio tinha sido antes uma funerária, uma loja de roupas (Marrocana) e até permaneceu um tempo fechado. Mansur conta que mais tarde, depois do fechamento da Captain Blue, ele foi demolido. Hoje, a farmácia Pan Vel funciona no local, porém em uma nova construção.

A Avenida hoje

Apesar de ter prédios comerciais, a Avenida Othon Gama D´Eça se mostra hoje com uma nítida vocação comercial. Um tour pela via permite enumerar uma série de empresas e lojas de diferentes setores: salão de beleza, mercadinho, padaria, banca de revistas, academia, casa noturna, restaurante e outros.

Ruas do Coração: Hercílio Luz
Hercílio Luz recebeu inicialmente este nome depois que as águas dos riachos que corriam pelo local foram canalizadas
Publicada em 09-06-2009
Em1938, a Avenida Hercílio Luz ainda de chão batido com o prédio da FAED ao fundo.

O destino da atual Avenida Hercílio Luz começou a mudar na década de 20. Foi nesta época que se iniciaram as obras de urbanização e canalização de diversos riachos na Avenida, chamada na época de Avenida do Saneamento. Este seria o começo da transformação de uma região degradante, com habitações precárias onde se cultivavam hábitos inadequados de higiene, em um concorrido espaço da classe média.

No livro “Florianópolis – memória urbana”, a historiadora Eliane Veras da Veiga informa que em 1920 foi celebrado um termo de contrato entre o Governo do Estado e o Sr. Galliani para a construção de uma ponte na Rua Fernando Machado, bem como do trecho do canal compreendido entre as ruas Fernando Machado e Pedro Soares. No contrato estava prevista a construção da ponte sobre o canal da Avenida Hercílio Luz (Canal da Bulha), situada na Rua Fernando Machado, assim como o trecho do canal compreendido entre as ruas Fernando Machado e Pedro Soares.

Posteriormente, o Governo firmou novos contratos para a construção de bueiros e a continuação da canalização de diversos riachos na Avenida em outros trechos.
Em seu livro, Eliane Veras da Veiga relata que “Para enriquecer o projeto de saneamento, foi construída ‘a grande avenida’, então chamada avenida do Saneamento, depois avenida Hercílio Luz que, demolindo ‘casarões antigos’ e ‘velhos pardieiros’ – ‘ninhos de micróbios’, como os que constituíam o ‘Beco Irmão Joaquim’ – se transformou no ‘logradouro predileto do público’”. A Avenida passou a ser uma das regiões residenciais mais prediletas da classe média, onde prevaleciam as fachadas ecléticas.

O livro revela ainda que foi em 1922 que o Governo do Estado aprovou o plano elaborado pela Diretoria de Viação e Obras Públicas para o prolongamento da Avenida através da Rua José da Veiga, a praça Etelvina Luz (Banco Redondo) e a rua Demétrio Ribeiro.

A Avenida recebeu o atual nome porque foi no governo de Hercílio Luz que aconteceram as medidas saneadoras mais importantes, além do paisagismo, que valorizaram a área.

Revitalização

A revitalização da Avenida Hercílio Luz, iniciada na atual gestão municipal, está em fase de finalização. São 1.200 m, da esquina com a Avenida Mauro Ramos até a Rua João Pinto. A obra inclui iluminação, ciclovia e bancos. O canal de drenagem, que exibia a céu aberto a água de córregos e exalava mau cheiro foi coberto com laje de concreto.

Ruas do Coração: Mauro Ramos
Concluída em 1930, a Mauro Ramos é atualmente uma das mais importantes avenidas da Ilha
Publicada em 10-03-2009
Na década de 40, a sede do Tiro de Guerra 40, formada por futuros reservistas do exército nacional.

O trecho final da Avenida Mauro Ramos foi concluído na década de 30 pelo então prefeito Mauro Ramos, irmão de Nereu Ramos. O atual nome é uma homenagem a ele, um dos que mais deu impulso às alterações nas ruas da Capital, como relata o livro “Ruas de Florianópolis”, de Adolfo Nicolich da Silva. Foi Mauro Ramos que abriu o trecho final da Rua José Veiga (nome anterior da Avenida) ligando a região da Praia de Fora ao entroncamento com a rua Demétrio Ribeiro.

A Avenida já teve outros nomes. O primeiro foi Rua das Olarias, como relata a historiadora Eliane Veras da Veiga no livro “Florianópolis – Memória Urbana”. Isso porque ao sopé do Morro do Antão (Morro da Cruz) foram se estabelecendo algumas olarias.

Os outros nomes que a Avenida Mauro Ramos teve foram: Rua Sebastião Braga e Rua José Veiga. Este trecho do livro da historiadora explica a origem dos nomes: “Aos poucos, extensas chácaras foram ocupando a área e delineando um caminho que, em 1885, recebeu o nome do engenheiro Sebastião Braga, mantido até 1898, quando a Rua Passou a chamar-se José Veiga, ‘ardoroso abolicionista e republicano’ que doou parte de sua chácara àquele logradouro público, consolidando o processo de ligação dos bairros ao sopé do morro”.

Faziam parte das terras de José da Veiga as quadras atravessadas atualmente pelas Ruas: Crispim Mira, Monsenhor Topp (antiga Rua Jaguaruna) e José Boiteux, até a rua Professor Anacleto Damiani, limitando-se a Leste com a vertente do Morro do Antão e a Oeste com a atual Rua Almirante Alvim.

Finalizando a Avenida

Na década de 20, a Rua José Veiga já compreendia o eixo desde a Rua General Bittencourt até a Demétrio Ribeiro. O trecho final da avenida Mauro Ramos só foi concluído em 1930, pelo prefeito Mauro Ramos. “No início da década de 30 não existiam a parte Leste da Rua Crispim Mira nem a travessa Piedade e as servidões acima desta. Estas pequenas transversais da Avenida Mauro Ramos só teriam os seus projetos aprovados pela Prefeitura Municipal em 1934”, conforme relata historiadora Eliane Veras da Veiga em seu livro.

Importantes construções

Na antiga Rua José Veiga existiam três unidades importantes prédios na década de 40: o Schützenerein Zu Florianópolis, conhecido como Sociedade dos Atiradores do Tiro Alemão, o Tiro de Guerra 40, formado por futuros reservistas do exército nacional, e a associação filantrópica Asilo de Mendicidade Irmão Joaquim.

Ruas do Coração: Rio Branco
Avenida Rio Branco foi responsável pelo escoamento do tráfego entre a parte continental e insular
Publicada em 10-06-2009
Vista da década de 80 da descida da Praça Getúlio Vargas (dos Bombeiros)

A construção da Avenida Rio Branco foi tardia em função da necessidade de transpor algumas dificuldades, como a acentuada declividade de alguns trechos e à presença de alagadiços. Esta Avenida, hoje uma das principais do Centro da cidade, começou a ser implantada a partir de 1900, mas foi concluída apenas por volta de 1965. Interligada a Ponte Hercílio Luz, ela funcionou durante um longo período como principal via de escoamento de veículos entre a Ilha e o Continente. A sua abertura teve uma contribuição fundamental para a modernização da região central de Florianópolis.

A Avenida Rio Branco foi aberta numa área ocupada por antigas e extensas chácaras. No seu livro “Florianópolis – memória Urbana”, a historiadora e arquiteta Eliane Veras da Veiga afirma que ela foi implantada sem pretensões urbanísticas ou obediência a um planejamento criterioso e global. Naquela época, não existia Plano Diretor e a cada gestão a Prefeitura traçava objetivos distintos, sem visão de continuidade. Apenas em 1954, Florianópolis ganhou seu primeiro Plano Diretor, idealizado por Paulo Fontes, então prefeito da Capital.

Os vários trechos

Em 1916, já existia o trecho da Avenida Rio Branco entre as ruas Presidente Nereu Ramos e Padre Roma. Alguns registros da época assinalam a intenção de expansão deste eixo viário. No livro “Florianópolis – memória Urbana”, fala-se em um possível projeto de prolongamento de parte da Avenida, alcançando o largo 17 de Novembro (atual Praça Getúlio Vargas ou Praça dos Bombeiros), datado de 1921.

A historiadora Eliane Veras da Veiga registra no livro a seguinte passagem: “O Mapa de 1921 aponta a existência deste mesmo trecho da avenida, a partir da Nereu Ramos, sem no entanto indicar o seu final. O relato do topógrafo Luis Faria veio confirmar algumas informações sobre o tema. Segundo ele, inicialmente a avenida Rio Branco compreendia apenas a parte entre as ruas Nereu Ramos e Esteves Júnior. Depois foi prolongada até alcançar a Rua Padre Roma.”

Uma ligação prevista nos planos de expansão precisou ser modificada. Inicialmente, era prevista a ligação direta com a Ponte Hercílio Luz, cortando o terreno que então ocupado pelo cemitério alemão. Porém, devido às dificuldades em vencer o maciço rochoso localizado no local, esta ligação foi feita pela rua Hoepcke e alameda Adolfo Konder. O trecho final da Felipe Schmidt só foi aberto mais tarde, após a década de 50.

Alguns terrenos tiveram que ser desapropriados nos anos 50 para finalizar a Avenida Rio Branco, por volta de 1965. Entre eles estavam um com frente para o Departamento de Saúde Pública – para ligar a Avenida com a Ponte Hercílio Luz – e outros dois com frente para a Praça Getúlio Vargas.

Antigos moradores

Como a Avenida Rio Branco atravessou antigas chácaras da região central da cidade, a urbanização desta via teve inicialmente um caráter residencial. Os chalés e as habitações ecléticas já dotadas de modernas instalações sanitárias que a legislação da época exigia destacavam-se no cenário local. Aos poucos, a paisagem foi se transformando, e mais recentemente ganhou uma nova configuração. As casas deram lugar aos prédios, e as poucas residências de hoje, quase imperceptíveis em meio à fusão de distintos elementos urbanos, perderam espaço para os imóveis comerciais dos mais diversos setores da economia.

Entre os antigos moradores da Avenida está Milton Cunha, que em 1957 comprou um terreno próximo à Praça Getúlio Vargas (dos Bombeiros), na descida da Avenida. Ele mora no local há mais de 38 anos com a mulher Marlene e o filho, o colunista Miltinho Cunha. “Lembro que a Avenida era movimentada para a época porque ligava a cidade a Ponte Hercílio Luz. Na época a Gama D´Eça ainda não existia”, comenta.

Jane Bulcão reside na Avenida há 40 anos. “O terreno era da família do meu falecido marido. Quando me mudei ainda não tinha asfalto, a rua era de paralelepípedo”, conta. Ela faz uma volta ao passado e traz boas lembranças do tempo em que passou na casa. “Lembro perfeitamente dos lindos casarões da avenida, todos com grandes quintais. A criançada brincava na rua de carrinho de rolimã e futebol. Onde é hoje o Angeloni ficava a casa da vó do meu marido. Era uma casa com quintal grande onde as crianças adoravam brincar”, relembra.

Ruas do Coração: Tenente Silveira
Casal Romilda e Geraldo Gama Salles moram há 55 anos na Tenente Silveira
Publicada em 10-10-2009
Anos 60: ainda não asfaltada, a rua já era uma das principais do Centro

Uma rua que já teve nomes como Rua do Imperador e Rua do Governador há de ser uma via bem importante, certo? E ela é mesmo. A atual Rua Tenente Silveira, que hoje é assim chamada em homenagem a José Ignácio da Silveira, herói da Guerra contra o Paraguai, sempre foi uma das principais vias da cidade e continua assim até hoje.

Em 1774, a rua já aparecia documentada em antigas cartografias, não à toa, pois foi na Tenente que existiu a primeira sede do Palácio do Governo e também a Provedoria Real. E é lá hoje que estão situadas a Secretaria da Fazenda e a Secretária de Infra-Estrutura, além de ter se tornado uma grande rua comercial. Mas nem sempre foi assim. A rua que hoje abrange muitas quadras, ligando a Catedral Metropolitana à Avenida Rio Branco, inicialmente, não contemplava nem saída.

O casal Romilda e Geraldo Gama Salles presenciou toda a mudança que ocorreu na Tenente Silveira. Eles moram na rua há 55 anos, em uma das poucas casas que ainda sobrevivem ao cenário comercial e aos grandes edifícios que se instalaram na região. “Lembro bem da época em que meus filhos faziam carrinhos de rolimã para descer a rua, chegando próximo à praia. Naquele tempo, não tinha movimento nenhum por aqui, só mais tarde é que começaram a passar os ônibus que levavam ao continente”, relembra Romilda, que criou seus 12 filhos na casa que mantêm até hoje.

O surgimento de novas vias e o aperfeiçoamento daquelas já existentes começou no século XX, entre os anos de 1927 e 1928, com a ligação da Ilha ao Continente e a necessidade de aperfeiçoar o sistema viário, dando um melhor escoamento ao trânsito. Foi somente em 1951 que se completou o prolongamento final da rua Tenente Silveira, conforme registra o livro “Florianópolis – memória Urbana”, de Eliane Veras da Veiga.

Ruas do Coração: Trompowsky
Localizada numa das mais nobres regiões do Centro, Trompowsky irá abrigar Instituto Carl Hoepcke
Publicada em 10-09-2009
O casarão de Udo von Wangenheim é um dos últimos que restaram na Avenida.

Florianópolis é conhecida pela qualidade de vida e por suas belezas naturais, especialmente pelas praias. No entanto, vários outros espaços atraem o interesse de moradores e turistas. Localizada no Centro, a Avenida Trompowsky é um desses locais. Aberta em 1909, seu nome é uma homenagem ao Marechal Robert Trompowsky Leitão de Almeida.

Segundo registram os livros de história, Robert nasceu no dia 8 de fevereiro de 1853. Era filho de Ana Trompowsky e de José Leitão de Almeida. O casal se conheceu em Desterro quando a moça se mudou para cá. Aos 18 anos, Robert ingressou na Escola Militar. Ao longo da vida desenvolveu brilhantemente a carreira, ocupando cargos de Capitão, professor e trabalhando na Embaixada. Sempre esteve ligado à área cultural, mas publicou várias obras referentes à matemática. Robert faleceu em 1926.

No ano de 1962, o decreto nº 51.429 reconheceu sua importância para o serviço militar ao designá-lo Patrono do Magistério do Exército. Além dessa, recebeu outras titulações e hoje é nome de uma rua no Rio de Janeiro e outra na Capital catarinense.

No início do século XX, quando a Avenida Trompowsky foi oficialmente ativada, detinha o que havia de mais moderno na arquitetura. O bairro era exclusivamente residencial e, embora hoje esteja repleto de empreendimentos, ainda conserva essa característica. A Avenida sempre foi considerada uma das áreas mais sofisticadas da cidade. As casas que foram construídas ao longo dos anos se adaptaram ao novo modelo de vida: deviam ter praticidade.

Os últimos casarões

Do processo original de abertura da Avenida resta muito pouco. O setor imobiliário e as grandes empresas passaram a investir no local. A chamada modernização foi tomando lugar da história do passado e reinventou a história no presente. Hoje, quem passa na Rua se depara com imponentes edifícios. Restam apenas algumas poucas casas, dentre elas dois casarões que preservam traços antigos e impõem sua beleza histórica.
Um deles data de 1905 e pertence a Udo von Wangenheim e seu sobrinho. Uma casa imensa envolta por várias árvores e que conserva praticamente todos os móveis da época em que foi construída. Algumas adaptações foram necessárias, como a instalação da luz elétrica e água encanada. A cozinha recebeu eletrodomésticos mais práticos e o cuidado maior é com os cupins. “Não posso ficar para trás”, brinca Udo, se referindo à televisão LCD encontrada na sala.
Ele conta que nem todas as casas resistem ao tempo e que cada família destina o patrimônio como for mais conveniente. No que depender dele e das outras oito pessoas que ocupam a casa, o imóvel continuará sendo utilizado como residência familiar, apesar das inúmeras propostas de transformar o local em parque ou zoológico.
Outra construção que ganha visibilidade é a da família Hoepcke. Ela serviu de moradia da proprietária Ruth até novembro de 2007, quando ela faleceu. As filhas resolveram preservar o local que foi construído na década de 30. No momento, a casa passa por uma restauração e irá abrigar o Instituto Carl Hoepcke.
Dentro de 30 dias os móveis serão transferidos para a casa, mas a data de abertura à visitação ainda não foi definida. A idéia é utilizar a casa para exposições, arquivo histórico e visitas da comunidade. “Queremos um centro cultural vivo, com café, barzinho, onde o visitante seja auto-suficiente para fazer pesquisas”, explica Max José Müller, superintendente do Instituto.

(Imagem da Ilha, 08/12/2009)