23 nov Uma faixa no lugar do mar
Uma faixa azul de três quilômetros de extensão pintada no chão chamou a atenção de quem passou pelo centro de Florianópolis no fim de semana.
A intervenção, que muitos pensaram ser uma homenagem ao Avaí, se trata, na verdade, de um trabalho chamado Caminho das Águas, cujo objetivo é destacar o antigo limite entre a terra e o mar na Capital, antes da construção do aterro da Baía Sul.
A obra é uma iniciativa do artista plástico mineiro Piatan Lube, que já fez algo semelhante em Vitória, onde vive. O trabalho, feito no sábado, reuniu mais de 20 pessoas, que usaram tinta acrícilica à base de água.
– A chuva e o fluxo de pessoas devem apagar a faixa em três meses – garante Lube.
A pintura atiçou a curiosidade de moradores e comerciantes das redondezas. Ontem, ao passar por ali, alguns apostavam que era coisa da torcida organizada Mancha Azul, para marcar o bom ano do Avaí. Outros imaginavam se tratar de algo relacionado com o mar, sem perceber que era ali, bem próximo ao Mercado Público, que o oceano batia na época em que a ilha mantinha seus contornos originais.
A funcionária de lanchonete Alcionete Vieira Borges, 27 anos, só descobriu o significado da intervenção porque um homem entrou em seu estabelecimento para lavar as mãos sujas de tinta e revelou se tratar de um trabalho de conscientização. Uma ação para criticar o aterro, em outras palavras. De fato, a intenção de Lube, que tem 24 anos, vai além da pura arte.
– É poesia e é protesto – diz, acrescentando que sua ideia também foi resgatar a identididade da ilha.
Antes da pintura, o artista diz ter feito um minucioso trabalho de pesquisa para desvendar o exato limite da margem oceânica. Na quarta-feira, ele volta ao local para retocar a obra. A intervenção é fruto de um projeto premiado pelo edital de Arte e Patrimônio do Iphan.
(DC, 23/11/2009)