25 nov Padre compra casa na encosta do morro para dimaior carente
A Prefeitura Municipal de Florianópolis selou um acordo com lideranças comunitárias do Maciço do Morro da Cruz, comprometendo-se a avisar antes, quando for botar abaixo edificações irregulares em parcelamentos clandestinos do solo sobre áreas de preservação ambiental nas encostas dos morros.
Para a assistente social da Secretaria de Segurança Pública, Kelly Cabral, as demolições configuram um absurdo. “Imaginem vocês” – disse ela, em resposta a post do jornalista Carlos Damião (blog AQUI), que defendeu as ações da Prefeitura – “onde no maciço do Morro da Cruz ainda tem áreas regulares?”
É mais ou menos como se os órgãos de Segurança Pública fizessem um acordo com uma ONG de direitos humanos garantindo que, notificada de que está ocorrendo um assalto, a policia tem que avisar os bandidos, antes de mandar uma equipe para impedir a continuidade do crime que eles estão cometendo. Afinal de contas, não é justo barrar um mísero assaltinho, quando tantos outros já estão sendo cometidos impunemente por aí.
O acordo foi selado pelo secretário de Habitação e Saneamento Ambiental, Átila Rocha dos Santos, depois que o padre Vilson Groh interveio contra a demolição da casa do líder comunitário Ruy Antônio Pures Alves, no Morro da Cruz. Ruy estava reformando a modesta edificação recém ocupada por ele quando, na sexta-feira, 13 de novembro, foi notificado de que ela era irregular e seria demolida. Na segunda-feira, quando a equipe da Secretaria de Obras chegou para cumprir o mandato, o surrado factóide do problema social já estava organizado: cerca de 20 pessoas tentaram atazanar o Centro da cidade com uma passeata de protesto contra Dário Berger e em solidariedade ao sem-teto.
De noite foi a vez do próprio padre ocupar a tribuna da Câmara para criticar a Prefeitura e defender Ruy. Groh também pediu mais apoio financeiro para seus projetos sociais em defesa de menores carentes. Ele disse que um jovem no seu programa social Procurando Caminho custa apenas R$ 250 por mês, contra R$3 mil numa instituição estatal. O padre Vilson garantiu que pode sustentar 300 deles por um ano, com apenas 1/3 do que Berger vai pagar para o tenor italiano Andrea Boccelli cantar na festa de fim-de-ano da cidade.
“A prefeitura está cumprindo sua obrigação”, bradou o jornalista Carlos Damião em seu blog, no dia 16, em favor das demolições. Notório crítico implacável de Dário, Damião reconhece que “nem poderia ser diferente, diante das constantes ameaças de deslizamento nas encostas”. Ele disse que “a prefeitura não é mágica, nem a cidade comporta mais habitantes.” Para o jornalista, “estamos num momento crucial da história florianopolitana. Ou barramos de uma vez por todas essas invasões e a desordem que causam ou transformaremos Florianópolis numa cidade de terceira categoria”. Damião concluiu o post, manifestando pessimismo: “Se é que já não chegamos a esse estágio.”
Em seu comentário no blog, Kelly Cabral apelou para a sensibilidade dos “caros companheiros”. Ela narrou como Ruy, que morava no Morro da Mariquinha, foi expulso “de sua boa casa a (sic) cerca de uns 4 anos”, por causa de sua “militância contra o tráfego (sic) de drogas” e “sua luta contra a criminalidade arraigada naquela localidade”. Ela disse que a casa dele foi queimada e transformada em um campo de futebol para os traficantes locais.
É nessa altura que Kelly, que é membro da Comissão Permanente de Inclusão Social e Projetos da CONAPA – Comissão Nacional de Apoio às Penas e Medidas Alternativas, órgão do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça, faz uma surpreendente revelação: depois que Ruy morou de aluguel por vários anos, “o Pe. Vilson comprou para ele” a “humilde casa, no alto do caeira do saco dos limões” (sic) que a Prefeitura quer demolir por estar em área de preservação. Kelly questiona se a Prefeitura não está só fazendo perseguição política contra Ruy, haja vista que o próprio fiscal da SUSP – que ela não identifica – informou que Ruy Pures Alves está “sofrendo isso porque fala demais”.
A assistente social pede o apoio e a articulação de todos junto à “oposição ou situação, denunciando tal absurdo e principalmente fazendo se tornar público essa situação” (sic). “Amanhã, contamos com a presença de todos que puderem, estaremos fazendo uma reunião na Igreja do Alto da Caeira do Saco dos Limões, a cima do Monte SErrat, as 19 hras, para traçarmos estratégias de enfrentamento desta situação, pois se continuarem fazendo este tipo de repressalia, muitas de nossas lideranças sofreram com as consquencias que hj o Ruy está sofrendo” (sic).
Kelly Cabral agradece a todos e solicita que sejam feitos “contatos com os órgãos de imprensa para divulgarem esta situação e que instituições como a UFECO e o Fórum da Cidade, possam apoiar esta causa” (sic).
O dimaior carente
Em 2007 Ruy Antônio Pures Alves, conselheiro fiscal da UFECO, foi eleito coordenador geral das atividades do Distrito Sede-Ilha no Núcleo Gestor do Plano Diretor Participativo. Kelly Cristiny Cabral, braço-direito do padre Vilson Groh, representava o Maciço do Morro da Cruz no Núcleo.
A eleição de Ruy Alves foi denunciada como fraudulenta por seu suplente, João Batista da Penha. Primeiro, por causa de um rolo grosso armado durante a apuração dos votos na audiência pública, registrado claramente na gravação das imagem a que Penha teve acesso e das quais possui cópia (Leia mais AQUI). Segundo, porque Penha acabou descobrindo e provando que Ruy sequer morava no Distrito Sede: há mais de um ano seu domicílio era o Rio Vermelho (Distrito em que, no projeto de poder esquerdista no PDP, o cargo já estava destinado a um outro companheiro: César Ismar Schenini, assessorado pela peruana Rosa Elisa Villanueva… mulher de Ruy). Diante da omissão do IPUF, Penha ofereceu denúncia à Justiça, onde o processo segue seu curso.
Ruy também esteve envolvido na farra dos gastos com os telefones celulares que, em julho de 2007, o IPUF entregou aos representantes dos Núcleos Distritais para as atividades do PDP.
Em abril de 2008 os membros do ND do Rio Vermelho afastaram César Schenini do cargo, depois de descobrir que durante os três meses de recesso dos trabalhos no Núcleo Gestor (entre dezembro e fevereiro), ele havia cruzado o Brasil em viagens particulares, levando consigo o celular da Prefeitura. E fazendo uma gastança em ligações. Na edição de maio daquele ano o Jornal Ilha Capital publicou o resultado do levantamento dos gastos, que seguiu-se às denúncias: apenas três representantes distritais haviam gasto metade da despesa total dos 16 celulares distribuidos pelo IPUF. O mais gastador foi Gert Schink, do Pântano do Sul; Ruy Pures Alves, do Distrito Sede-Ilha, foi o segundo colocado; César Schenini, do Rio Vermelho, ficou em terceiro.
Os três são notórios militantes do projeto de hegemonia esquerdista nas atividades do Plano Diretor Participativo de Florianópolis (Leia mais AQUI).
(Ilha Capital, 25/11/2009)