12 nov Os muitos benefícios das Cidades Digitais
Artigo escrito por Marcus Rocha – gerente de Inovação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) e especialista em projetos de inovação tecnológica e em gestão estratégica (Guia das Cidades Digitais, 12/11/2009)
A tecnologia, quando bem utilizada na administração pública, traz grandes benefícios para todos. Um bom exemplo disso são as chamadas “Cidades Digitais” − aquelas cobertas pela rede internet metropolitana (Metropolitan Area Network, MAN). E já há várias delas no Brasil.
Os benefícios trazidos para os municípios que implantam projetos para se tornarem “Cidades Digitais” são inúmeros, principalmente quando se vai além da tecnologia. Assim, as cidades têm a oportunidades de melhorar a gestão pública através da rede, não apenas proporcionando à população acesso à internet de qualidade e barato, mas principalmente elevando o nível dos serviços prestados pela Prefeitura nas áreas de educação, saúde, segurança, etc., implantando ações de Governo Eletrônico. Além disso, as Cidades Digitais criam oportunidades para fomentar o empreendedorismo e o desenvolvimento econômico dos municípios.
Para o poder público, cobrir toda a cidade com uma grande rede de internet metropolitana traz muitas vantagens. A maior, sem dúvida, é a redução dos gastos com telefonia, já que a comunicação telefônica entre as várias repartições da prefeitura pode ser feita por VoIP (Voice over Internet Protocol), tornando os custos dessas ligações próximos de zero.
Também dá para economizar tempo e dinheiro, utilizando ferramentas da internet para conferência, reduzindo significativamente os deslocamentos para encontros e reuniões. Outra redução se verifica nos gastos com a própria internet, uma vez que os diversos contratos de conexões com a internet distribuídos nas repartições públicas (ADSL, Cabo, ou linha discada) são eliminados, porque todo o tráfego de internet passa a ser centralizado em um só ponto. Com isso, a prefeitura ganha também em segurança da informação.
Ao implantar a Cidade Digital, o governo municipal passa a dispor de um canal sofisticado para trabalhos, por exemplo, na área de educação. Com internet na cidade inteira, a prefeitura pode promover sozinha ou em parceria com governos e outras entidades cursos à distância para a população e para os próprios servidores públicos. Com isso, toda a cidade pode experimentar um aumento de conhecimentos, que trará uma série de benefícios já no curto prazo. Ao contar com pessoas mais instruídas, as empresas tendem a ter maior vantagem competitiva, ampliando seus mercados e criando novos empregos, mais qualificados.
Além da educação à distância, a Prefeitura poderá prestar outros serviços à população de forma eletrônica, implantando ações de Governo Eletrônico (e-Gov) que estabeleçam um relacionamento de mão-dupla com a população que poderá, em alguns casos, até quebrar o conceito de “balcão de atendimento”. Assim, além de agilizar o atendimento à população por meio dos recursos da Internet, o governo municipal poderá realizar ações proativas, por meio do envio de avisos e alertas para os cidadãos, como a emissão de guias e certidões on-line; envio de lembretes para pagamento de impostos (IPVA, IPTU, etc.), campanhas de vacinação, matrícula na rede de ensino; campanhas de conscientização, etc. Essas informações poderão ser enviadas por e-mail, ou até mesmo por torpedo SMS.
Ao mesmo tempo em que melhoram a imagem do governo municipal perante a população, essas medidas geram grande economia, pois agilizam e organizam os serviços prestados pela Prefeitura, beneficiando o cidadão, ao mesmo tempo em que provocam uma reestruturação de processos que tende a diminuir gastos com retrabalho e excesso de burocracia.
Por esses e outros motivos é que o Governo Federal está priorizando a implantação de projetos de Cidades Digitais. Prova disso são os diversos fundos criados nos últimos anos para financiar esse tipo de projeto. Entre eles, podemos citar o FUST – Fundo de Universalização das Telecomunicações, o PMAT – Programa de Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos, do BNDES, e o PNAFM – Programa Nacional de Apoio à Modernização Administrativa e Fiscal, do Ministério da Fazenda. Porém, o acesso a esses fundos ainda é restrito, especialmente depois da crise econômica mundial, que afetou consideravelmente os investimentos em projetos nesta área.
Exemplos de cidades digitais bem sucedidas já podem ser encontrados em todas as regiões do país. De Abaetetuba, no interior do Pará, a Amparo, que integra o circuito das águas de São Paulo, passando por Queimados e Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro. A cidade de Bonito, em Mato Grosso do Sul, conhecida pelo ecoturismo e por atrair turistas de todos os cantos, por sua beleza inigualável, anunciou que, até o final do ano, entrará em operação o projeto “Bonito Digital”. Essa iniciativa possibilitará acesso à internet gratuito a todos os habitantes e aos turistas, além de integrar a cidade, melhorando sensivelmente os serviços públicos prestados pela prefeitura.
As experiências de Cidades Digitais no Brasil demonstram que, além de suas muitas vantagens, a própria economia dos municípios tem uma melhora. O comércio de computadores ganha um forte impulso, o que também traz uma demanda por serviços para a configuração, o suporte e a manutenção dos equipamentos que foram vendidos.
Ao movimentar a economia, a cidade tem, naturalmente, aumentada a arrecadação de impostos. Somando-se a isso a economia gerada nos gastos com telecomunicações, além da melhoria dos serviços da Prefeitura, fica bastante claro que um projeto de Cidade Digital se paga rapidamente, desde que implantado com foco adequado. Ou seja, não basta apenas implantar a tecnologia, é necessário utilizá-la adequadamente e agregar valor por meio de serviços e conteúdos relevantes para a população e para a própria administração pública.