02 out Desencontro na segurança
A moção de repúdio divulgada, na quarta-feira, por delegados de polícia a um discurso proferido pelo comandante da Polícia Militar de Santa Catarina, durante evento realizado no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos da corporação, provocou uma situação de crise e tensão no sistema de segurança pública do Estado. Neste jogo de vaidades feridas, interesses contrariados e atribuições confusas e conflitantes, não há e não haverá vitoriosos, mas apenas um derrotado: o cidadão catarinense, que clama por mais segurança, enquanto o crime e a violência correm à solta nas ruas, e enquanto os funcionários cuja missão é servi-lo e defendê-lo entregam-se a um bate-boca inócuo e denotam incapacidade para superar suas divergências pelo diálogo de suas lideranças e sem arranhar a disciplina.
Sugere, ainda, o episódio, que está faltando uma voz forte e autorizada para chamar esses funcionários à razão, e manter a disciplina e o bom senso essenciais ao adequado funcionamento deste importante setor do serviço público. Datam de mais tempo as diferenças que passaram a dividir as polícias Civil e Militar do Estado. Devem-se elas não apenas a supostos choques de competência, mas também a reivindicações salariais e funcionais frustradas. Também as guardas municipais – ao menos as de Florianópolis e de São José – participam como coadjuvantes do imbróglio, cujo ponto culminante foi atingido com o discurso do coronel-comandante da PM e a moção de repúdio dos delegados da Polícia Civil.
Repita-se, para ficar bem claro: a condição de policial, seja militar ou civil, a ninguém outorga privilégios, ao contrário, confere a esses servidores responsabilidades cujo cumprimento exige sacrifícios e impõe riscos. Além disso, como todos os demais funcionários públicos, também estes devem dedicação e trabalho à cidadania, que paga seus salários com os tributos – eles não são leves nem poucos – que recolhe. E é a cidadania que condena este procedimento e quer ver, o quanto antes, o fim da esdrúxula e perigosa situação agora criada.
Quase todas as estatísticas referentes à criminalidade no Estado estão em ascensão, dos furtos no comércio e dos roubos de veículos ao tráfico de drogas e aos homicídios. A banalização da violência atingiu o paroxismo nesses tempos em que as relações humanas são cada vez mais pautadas por toda a sorte de apelos consumistas, e nos quais os piores exemplos vêm de cima, num quadro de corrupção epidêmica e de degradação dos valores e das instituições. A cidadania precisa ser defendida, neste cenário ameaçador, por aqueles que têm a obrigação constitucional de fazê-lo, com dedicação integral. Há maneiras bem mais eficientes e civilizadas de aplainar eventuais diferenças entre as corporações policiais.
(Editorial, DC, 02/10/2009)