14 ago O MST e o Sapiens Parque
Um grupo formado por mais de 150 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a maioria oriunda de municípios do Meio-Oeste, ocupou, na manhã de quarta-feira, a área do Sapiens Parque, no Norte da Ilha de Santa Catarina, em mais um capítulo de sua recorrente reivindicação por assentamentos. No grupo, como sempre ocorre nas manifestações do MST, significativa presença de crianças, que são um dos grupos de risco da gripe A, num momento em que as autoridades sanitárias condenam as aglomerações de pessoas como estratégia para barrar o avanço do mal. Não espanta, pois bom senso e sensibilidade nunca caracterizaram as ações deste movimento, que já protagonizou conflitos violentos tanto no campo quanto nos cenários urbanos, fez barricadas em estradas e pontes, negando aos cidadãos o direito de ir e vir, invadiu e danificou propriedades privadas e prédios e instalações públicas ao longo de sua tumultuada história.
É possível considerar uma ação de bom senso a ocupação de uma área urbana e, portanto, sem possibilidade de ser utilizada para assentamento de trabalhadores rurais? É possível considerar séria a proposta de um dirigente estadual do MST de que o Sapiens Parque, área pertencente ao poder público estadual, abrigue um projeto de habitação popular – que logo se transformaria em mais um desses “favelões de alvenaria” – para quem mora nas favelas que proliferaram naquela região da Ilha em anos recentes?
No Sapiens Parque já atua o laboratório do Inpetro, que terá como missão principal fazer pesquisas que são necessárias à exploração do petróleo do pré-sal. Nele há uma incubadora tecnológica da Finep e um estúdio de cinema que será a base para a formação de um polo de produção cinematográfica na Capital e região. Na área também, em breve, estarão funcionando um jardim botânico, uma arena multiuso, diversas empresas de alta tecnologia e um kartódromo. Tudo isso transforma em piada de péssimo gosto a sugestão do líder sem-terra.
Depois de cinco horas de ocupação, os manifestantes se retiraram, depois de cobrar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o cumprimento da promessa de que, nos seus quatro anos de governo, seriam assentadas 400 mil famílias. Passaram-se quase oito anos, e tão só 200 mil foram assentadas. Isto também não espanta. Os militantes que ocuparam o Sapiens Parque, iniciativa do poder público catarinense, fizeram sua manifestação em lugar errado e mandaram seu recado a um endereço igualmente errado.
(Editorial, DC, 14/08/2009)