A paralisia das cidades

A paralisia das cidades

Editorial (DC, 31/08/2009)
A palavra agora é mobilidade. Sempre que os problemas enfrentados pelos moradores dos grandes aglomerados urbanos do país são mencionados, ela aflora. A dificuldade para se deslocar em uma cidade de maior porte é cada vez maior e mais estressante, principalmente nos horário do pico. Em uma cidade como Florianópolis, cuja geografia convida mais à contemplação do que à pressa, o problema da mobilidade é, de fato, exasperante e há anos desafia os especialistas em trânsito. Na tarde da última sexta-feira, os moradores e visitantes da Capital tiveram uma amostra do grau de paralisia e insânia a que já chegou o trânsito local, e também do tormento que os espera no verão, quando milhares e milhares de turistas motorizados chegarem para aproveitar a temporada de sol e mar na cidade e seu entorno.
Em maio último, estudo desenvolvido pelo pesquisador Valério Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), aplicando no país modelo pioneiro desenvolvido pela Universidade de Londres, concluiu que a capital dos catarinenses tem a pior mobilidade do país, e a segunda pior do mundo, perdendo apenas para a cidade turística de Phuket, na Tailândia. As características geográficas da cidade – uma parte da qual está no Continente e a outra na Ilha de Santa Catarina –, com seu relevo acidentado, cadeias de morros estendendo-se em quase toda a sua extensão, áreas de mangues, lagoas, restingas e dunas, dificultam o planejamento e organização do trânsito. Mas impende preservar este patrimônio natural. A experiência já mostrou que para botar ordem neste caos e preservar a qualidade de vida de Florianópolis e de outras cidades atormentadas pelo mesmo mal, não bastam as tradicionais medidas – aquelas que também fazem as delícias dos políticos que adoram ser apontados como “tocadores de obras” –, como a multiplicação de viadutos, túneis, pontes e até mesmo o rodízio na circulação de carros particulares.
É preciso uma mudança de mentalidade, a adoção de uma “nova cultura”. Não mais priorizar o transporte particular, mas desestimulá-lo, e além de investir pesado para a implantação de um sistema de transporte público de qualidade, e que não se baseie exclusivamente nos ônibus, eis que existem alternativas melhores e ambientalmente adequadas. E apostar também no uso da bicicleta como meio de transporte individual, implantando nas cidades uma malha de ciclovias que as cubram por inteiro. Ciclovia, e não essas faixas pintadas sobre o asfalto que estão enganando por aí. Caso contrário, chegará o dia do “último engarrafamento”.