A cidade que queremos

A cidade que queremos

[19 de agosto de 2005]
Nos últimos dias, ouvi empresários do turismo e da construção civil de Florianópolis atribuir ao Ministério Público Federal uma espécie de má vontade com os empreendimentos que se realizam em Florianópolis. Quem os ouve falar, tem a impressão que tudo é culpa do Ministério Público. Ou dos ecochatos ajudados pelo Ministério Público.
A avenida beira-mar do Estreito está parada? O shopping foi embargado? A marina não sai do papel? “ah, são os implicantes dos procuradores que estão testando nossa paciência”.
Fui então conversar com a Procuradora da República, Analúcia de Andrade Hartmann, cuja área de atuação inclui o meio ambiente.
Quando perguntei o que achava da criação do Movimento FloripAmanhã, ela sorriu, meio oculta por montanhas de processos que cobrem praticamente todos os espaços da pequena sala que ocupa no prédio do Ministério Público Federal. E disse: “Olha, se eles estão dispostos a pensar a cidade com uma visão moderna, se querem encontrar maneiras de resolver os principais problemas, como o saneamento básico, que tem sido uma luta que o Ministério Público tem levado praticamente sozinho, então é uma boa iniciativa”.
Ela acha que a ONG, já de início poderia dar uma grande contribuição à cidade se pressionasse os poderes públicos para que dotassem os órgãos licenciadores de estrutura adequada. “Se esses órgãos funcionassem direito, teríamos uns 70% menos de trabalho”, afirma.
O ESGOTO INTRATÁVEL
A Procuradora me contou uma história que explica por que ela está tão ansiosa por ter aliados na luta pelo saneamento básico.
“A estação de tratamento de esgoto no aterro está, segundo relatório do Tribunal de Contas, com sua capacidade esgotada. E todas as obras autorizadas em toda a área central, da Costeira e Saco dos Limões ao Córrego Grande, Itacorubi, Santa Mônica e João Paulo, residem na promessa de que o esgoto será recolhido e tratado naquela estação, que já não dá conta de mais nada. E olha que a rede coletora ainda nem está completa”.
A solução seria construir mais estações de tratamento e dotar os maiores empreendimentos, como shoppings, com suas próprias estações de tratamento. Caso contrário, imagino eu, qualquer dia vamos assitir a uma explosão mal cheirosa na entrada da cidade.
O CONCEITO DE CIDADE
Não existe, a meu ver, discrepância entre os discursos feitos na criação da ONG FloripAmanhã, na quarta-feira e o que pensa a Procuradora Analúcia Hartmann em uma série de pontos.
Um deles, por exemplo, é a necessidade de criação de um Plano Diretor (não confundir com o zoneamento), o grande conceito geral que definirá a cidade. Outro é a preocupação com os pobres, com a geração de emprego e renda. Que a cidade não seja excludente. Também são semelhantes as preocupações quanto à necessidade de preservar a natureza, que é, como dizem os empresários, “a nossa galinha dos ovos de ouro”.
As divergências que ainda existirem certamente poderão ser resolvidas se a proposta de diálogo for levada a sério. Porque não me parece que a cidade tenha algo a ganhar com o isolamento de grupos e a decretação de algum tipo de guerra.
“A cidade precisa ter um conceito único, que permita planejar seu crescimento”.
Analúcia de Andrade Hartmann, Procuradora da República.
“Temos que lutar para que Florianópolis seja uma cidade rica para todos”.
Fernando Marcondes de Matos, Empresário do Turismo.
Veja a resposta da FloripAmanhã a esta matéria.
(Cesar Valente, DeOlhoNaCapital, 11/08/2009)