05 jun Festejos do Divino Espírito Santo
Depois de 34 anos, os festejos do Divino Espírito Santo, na Lagoa da Conceição, vão contar novamente com alfaias originais vindas dos Açores – coroa, salva e cetro, feitos em prata de lei. As peças foram doadas pela Associação dos Municípios da Ilha do Pico, devido ao roubo do conjunto anterior, em 1975. A história do resgate da Coroa do Divino e a importância dessa festa na cultura açoriana estão registradas na exposição “Um Presente Divino dos Açores à Lagoa da Conceição”. A mostra abre nesta sexta-feira (5/06), às 19h, no Centro Cultural Bento Silvério, na Lagoa da Conceição, seguida de apresentação da Folia do Pântano do Sul. A promoção é da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) e Casa dos Açores.
Composta por 12 fotografias coloridas, no tamanho de 24cm x 30cm, a exposição retrata a viagem de uma comitiva de Florianópolis até a Ilha do Pico, especialmente para buscar a Coroa do Espírito Santo. A doação foi intermediada pela Casa dos Açores, com apoio da FCFFC, e realizada numa cerimônia em praça pública, durante a Festa da Irmandade do Império da Terça-feira do Espírito Santo da Vila da Madalena, nos Açores.
Além da mostra fotográfica sobre esse acontecimento, o público poderá apreciar também no Casarão da Lagoa, a instalação artística do altar do Divino, elaborada pelo artista plástico Jone César de Araújo, seguindo o modelo da tradição cultuada nos Açores. O trabalho, feito com ajuda dos artesãos Paulo e Osmarina Villalva, permanece em exposição de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h, até dia 30 de junho.
Os artistas
Nascido no Morro da Fumaça, Sul de Santa Catarina, Jone César de Araújo mora em Florianópolis há 40 anos. Autodidata, começou a trabalhar com artes plásticas em 1980 e já acumula 125 premiações nacionais e internacionais em diferentes categorias e estilos.
O último prêmio foi recebido em 2005, em Roma, representando o Brasil na “Mostra Day 100 Presepi”, onde concorreu com representantes de 38 países. Jone César obteve o primeiro lugar com um presépio montado em diferentes materiais, incluindo da palha ao diamante. O trabalho mesclou contribuições de vários artistas brasileiros, entre eles Paulo e Osmarina Villalva. Atualmente, Jone integra a Federação Mundial dos Presepistas e tornou-se um especialista neste tipo de instalação.
Paulo Villalva é artista plástico autodidata, com especialidade em pintura de cerâmica, montagem de cenários e presépios. É casado com Osmarina Villalva, também artista plástica, que trabalha com cerâmica artística e figurativa desde 1998. Em sua obra, Osmarina prestigia o folclore da Ilha, dando destaque para as figuras da rendeira, pescador, presépios e elementos ligados às festas religiosas como a do Divino Espírito Santo. É de autoria dos Villalva a figura do casal de imperadores, feito em cerâmica, presenteado à Associação dos Municípios da Ilha do Pico em agradecimento pela doação das alfaias do Divino à comunidade da Lagoa da Conceição.
Dos Açores à Lagoa da Conceição
No século XVIII, açorianos vindos das Ilhas Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico, Faial, São Miguel e Santa Maria foram fixados na Ilha de Santa Catarina. Em 1750, na região batizada de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, eles introduziram a arquitetura colonial, a lavoura, os engenhos, o artesanato das rendas de bilro, e tradições como a cantoria da ratoeira, o terno de Reis, a dança do Pau-de-Fita, e a religiosidade representada no culto ao Divino Espírito Santo, entre outros costumes trazidos dos Açores.
Em 18 de outubro de 1845, a população da freguesia recebeu a visita de Dom Pedro II e da Imperatriz Tereza Maria Christina. Hospitaleira, a comunidade local organizou festas e celebrações religiosas para receber o casal real. Em agradecimento, o imperador doou à Igreja do Arraial da Lagoa a quantia de 800$000 (oitocentos mil réis), recursos que foram utilizados para aquisição de uma custódia e de uma coroa, salva, espada e cetro, em prata de lei – símbolos do culto em louvor ao Divino Espírito Santo.
Para tristeza da comunidade, apegada aos costumes deixados pelos antepassados, essas alfaias foram roubadas em 1975. Anos mais tarde, peças similares foram doadas por tradicional família da região. Desde então, os cortejos do Divino são realizados sem as alfaias originais, vindas de Portugal, e que coroaram gerações de imperadores, seguindo a tradição bicentenária.
Em fevereiro de 2008, o então Presidente da Câmara de São Roque do Pico, Manuel Joaquim Neves da Costa, levou ao conhecimento da Associação dos Municípios da Ilha do Pico a história do roubo dessa Coroa do Divino.
Sensibilizada, a entidade mandou fazer uma nova coroa, salva e cetro, em prata de lei, especialmente para atender ao pedido da comunidade, representada na ocasião pela Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina. As alfaias foram entregues à igreja da Lagoa no dia 31 de Agosto de 2008, em missa solene, e agora farão parte dos festejos do Divino Espírito Santo local, que iniciam em junho.
Serviço
O Quê: Exposição “Um Presente Divino dos Açores para a Lagoa da Conceição”
Quando: sexta-feira (5/06) – 19h (abertura oficial)
Exposição de segunda a sexta-feira – das 13h às 19h (até 30 de junho)
Onde: Centro Cultural Bento Silvério (Casarão da Lagoa)
Rua Henrique Veras nº 50 – Lagoa da Conceição
Telefone: (48) 3232-1514
(PMF, 05/06/2009)