Em busca de um projeto cultural para Florianópolis

Em busca de um projeto cultural para Florianópolis

 

Paulo Clovis Schmidt, Flavio José Cardozo, Jair Hamms e Andre Schmidt.

O encontro com grandes nomes da cultura florianopolitana, realizado na terça-feira (08/06), no Hotel Maria do Mar, levantou a opinião de quem faz cultura sobre rumos e iniciativas para fomentar o processo cultural em Florianópolis. O encontro foi gravado e resultará em um livro sobre o tema.

Estiveram presentes Salim Miguel, Laudelino Sardá, Jair Hamms, Raimundo Caruso, Flávio
José Cardozo, Tânia Piacentini, Rodrigo Warken, Anita Pires, César Floriano, Paulo Clóvis Schmidt, André Schmidt, Chico Faganello, Roseli Pereira, Rodolfo Pinto da Luz, superintendente da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) e Anita Pires, presidente da Fundação Catarinense de Cultura.

César Floriano, professor de arquitetura da UFSC, abriu a rodada de depoimentos salientando a diversidade cultural da Ilha, muito maior do que o açorianismo, e destacando o papel de capital de Florianópolis, com a responsabilidade de ser um centro cultural de Santa Catarina e de fazer arte de vanguarda.

O experiente Salim Miguel reforçou o caráter multi-étnico da cultura local, e enfatizou a ausência de um projeto cultural para Florianópolis. “Turismo é consequência de um projeto cultural, que não deve ser feito para o turismo”, explica.

Para o arquiteto André Schimidt, “a cultura continua sendo a muleta do turismo” e o aterro da Baía Sul é um símbolo do processo cultural da cidade. “Discutir cultura passa por urbanidade, fazer as pazes com nosso passado”, afirma. O escritor Jair Hamms também citou o aterro e a Rua Bocaiúva como exemplos de urbanização que não consideraram a cultura local.

Flávio José Cardozo lembra que a reunião tem “caráter emergencial”. Segundo o membro da Academia Catarinense de Letras, a escola é parte necessária de um processo de ascensão cultural, e o poder público deve relacionar mais escola e cultura.

Para o cineasta Chico Faganello, “a cultura deve ser feita de baixo para cima, valorizando o pequeno artista, as pequenas produções locais”. Ele lembrou ainda da importância do PL 29, em tramitação na Câmara Federal, que abre espaço na TV para pequenos produtores de áudiovisual.

Estratégias de circulação de nossa produção cultural também são importantes para a escritora Tânia Piacentini. Responsável pelo projeto Barca dos Livros, Piacentini ressaltou a importância de regionalizar, levar cultura para diversos pontos da cidade, já que hoje boa parte das atividades culturais só podem ser usufruídas por quem tem carro. “Criar núcleos onde se possa ler e escrever é fundamental”, enfatiza, “não é preciso grandes projetos, guardar a memória é o projeto”.

Caruso apontou a falta de projetos culturais nas universidades locais, e indicou a UDESC como parceira prioritária para qualquer projeto cultural de Florianópolis e Santa Catarina.

O jornalista Paulo Clóvis acredita que desde a década de 80 houve um retrocesso no processo cultural de Florianópolis. Segundo Clóvis, hoje os produtores culturais carecem de representatividade, a mídia não discute políticas culturais e deste modo o poder público ficou “livre”, sem cobranças, aprovando alguns projetos com critérios políticos.

Roseli Pereira, coordenadora da Fundação Franklin Cascaes, relatou a importância de se conseguir a ampliação do orçamento da cultura para 1% do total municipal, como institui o Plano Nacional de Cultura. Pereira também enfatizou a importância de democratizar o acesso à cultura, levando produções para os bairros e diversificando linguagens.

O músico e professor Rodrigo Warken questionou o modelo de financiamento da produção cultural, baseado em incentivos fiscais e financiamento governamental, o que gera concentração de recursos e não permite aos produtores culturais dar continuidade aos seus projetos.

Para o superintendente da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), Rodolfo Pinto da Luz, “ainda continuamos na época do mecenato, não existe contrapartida dos empresários, só é usado dinheiro público. Temos que mudar, conscientizar a sociedade de que é preciso investir em cultura”.

A presidente da Fundação Catarinense de Cultura e voluntária da FloripAmanhã, Anita Pires salienta que o encontro marca uma oportunidade para mudar o rumo das coisas. “Agentes culturais, dono de ideias privilegiadas, debatendo a cultura e propondo novos rumos. E fazendo. Através de fóruns e encontros como esse é que as coisas começam a mudar”, pondera, propondo a criação de um fórum permanente para discutir o tema.

O encontro “histórico”, como definiu Sardá, idealizador da ação e amigo de longa data da maioria dos presentes, deve ser o primeiro de muitos. “Foi uma manhã produtiva e muito rica”, finaliza Zena Becker.

(Por Rogério Mosimann e Ricardo Macuco, Ass. de Comunicação FloripAmanhã, republicado por DeOlhoNaIlha)