Cidades brasileiras têm pior mobilidade, aponta estudo

Cidades brasileiras têm pior mobilidade, aponta estudo

Um estudo urbanístico sobre índices de mobilidade nos centros urbanos divulgado pela Universidade de Brasília (UnB) revela que, das dez piores cidades que não apresentam facilidade de deslocamento, seis são brasileiras.
A conclusão é do arquiteto urbanista Valério Medeiros, que avaliou a forma como as cidades condicionam a mobilidade dos seus habitantes.
Florianópolis tem o segundo pior índice do mundo e o deslocamento mais complicado entre 21 das principais capitais brasileiras.
De acordo com o estudo, as cidades brasileiras foram as piores no contexto mundial. O desenho das ruas da cidade do Rio de Janeiro é o sexto pior do mundo das 164 cidades analisadas. Além do Rio e Florianópolis, constam na lista das dez piores cidades Ouro Preto, Salvador, Porto Alegre e São Paulo.
Estudo
A pesquisa avaliou apenas o traçado das ruas sem levar em conta a malha de transportes ou o número de veículos em circulação.
A partir da identificação de rotas em que é possível a passagem de veículos, Medeiros calculou o chamado “valor de integração” de cada cidade, com o auxílio de um software em que foram levadas em consideração a organização e a conexão das ruas.
No primeiro momento, os dados levantados foram das cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes. Na sequência, os dados foram confrontados com os obtidos em 164 cidades do mundo.
A comparação foi feita na Universidade de Londres onde a forma de abordagem do estudo foi criada.
Como parâmetro, foi utilizado o índice de integração global que mede a facilidade de trânsito. De acordo com o índice, quanto menor o valor do índice de mobilidade, mais difícil é ir de um ponto a outro na cidade, “mais labiríntica a cidade e, consequentemente, mais difícil o deslocamento de carro”, segundo a pesquisa.
“Uma das grandes contribuições para a dificuldade de deslocamento nas cidades brasileiras foi o processo de crescimento urbano sem planejamento global das cidades nas décadas de 1960 e 1970. Isso criou uma ‘manta de retalhos’, com desenhos diferentes entre os bairros. Ao longo do tempo, os pedaços não foram costurados, causando segregação espacial e perda de área nos deslocamentos”, afirmou o autor da pesquisa.
Com a pontuação de 0.199, Florianópolis ficou bem à frente da segunda colocada entre as cidades brasileiras, Rio de Janeiro, com 0.303. Porto Velho, em Rondônia, foi considerada a capital do Brasil com melhor mobilidade, com índice 1.458.
Desempenhos
No ranking das dez piores cidades estão em primeiro lugar Ilha Phuket, na Tailândia (0.182), em seguida, Florianópolis, Helsinque, na Finlândia (0.214), Gotemburgo, na Suécia (0.229), Ouro Preto (0.230), Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, São Paulo (0.373) e Oslo, na Noruega (0.382).
Já na colocação das dez melhores cidades, o primeiro lugar é ocupado por Nova Iorque (2.299), seguida por Denver, Los Angeles, Cidade do México (1.881), Las Vegas, Miami, Chicago, Barcelona (1.489), Munique (1.493) e Paris (1.466).
Ainda de acordo com a pesquisa, a média nacional brasileira é a pior, com 0.768, enquanto que o grupo das cidades norte-americanas obteve o melhor índice (1.550), seguido das latino-americanas (1.359), das árabes (0.904), das portuguesas (0.876), e de outras europeias (0.873).
A mobilidade urbana sustentável tem sido alvo de estudos recentes entre Brasil e Portugal. Um outro estudo sobre a viabilidade do sistema de indicadores de mobilidade, realizado em 2004 entre os centros urbanos no Brasil e em Portugal, em parceria entre a Universidade do Minho (UM) e a Universidade de São Paulo (USP), já revelava a falta de coordenação e a incompatibilidade dos dados.
Segundo a pesquisa, constatou-se uma grande deficiência de informações sobre o deslocamento urbano nas cidades médias. O estudo apontou para a necessidade de se desenvolver uma estrutura permanente de recolha de dados para contribuir para que os indicadores urbanos sejam instrumentos de uma mobilidade sustentável nas cidades medias do Brasil e de Portugal.
(Lusa, 15/06/2009)