07 maio Rio Capivari: águas do verão
Artigo escrito por Augusto César Zeferino – Geógrafo (DC, 07/05/2009)
De início a terra era nua de gente, e suas águas corriam límpidas pela verdejante planície, espelhando a beleza do céu, rasgando a terra e se jogando ao mar, mas agora espelham intervenções não conformes com o paraíso de então e carregam o amargor do descaso humano. Sim, suas águas, embora negras como antes, agora carregam o resultado das desassimilações humanas que adentram seu leito principal através das próprias margens ou de seus afluentes, e, a continuar assim, comprometem de vez a sustentabilidade da vida, e aqueles por vir irão chorar lágrimas para que o rio não seque de vez! São muitos quilômetros expostos a um comportamento desarticulado e doentio, adjetivos que qualificam igualmente o agente e a expressão bioquímica das águas, principalmente no verão, quando a população local se multiplica, ultrapassando com facilidade os 100 mil indivíduos.
O Rio Capivari (norte da Ilha) e seus afluentes estão parcialmente canalizados e/ou tubulados, condenados ao definhamento e à morte, agonizando aos poucos para conforto daqueles que os cercam e que têm a responsabilidade primária de abraçá-los para que possam correr livres e “sustentáveis”. (Sobre o Rio Capivari, em especial, ver a tese do biólogo Danilo Prado Tomazela na página “http://cienciasbiologicas.ufsc.br/TCC-BIOLOGIA-UFSC/TCCDaniloPTomazelaBioUFSC-08-1.pdf”). O Distrito de Ingleses do Rio Vermelho desde há muito se ressente de uma política pública consistente e responsável com os padrões de uma sociedade que diz querer ser sustentável. A rede de esgoto ali já implantada e ainda não operada se constitui em migalha face à demanda imposta pela realidade do hábitat humano.
A comunidade conta com indivíduos comprometidos em resgatar a saúde de sua base natural, muitas vezes conflitando com o poder estabelecido e mesmo com outros segmentos comunitários. Destarte, é desejável que a conjugação de esforços advindos da comunidade local e dos órgãos competentes possa produzir efeitos reais e de condução sistematizada, trazendo resultados promissores. A urgência na busca de soluções prioriza a ação conjunta dos diversos agentes comunitários e públicos constituídos.