Manifestação anti-Código Ambiental reprimida por tropa de choque

Manifestação anti-Código Ambiental reprimida por tropa de choque

Estivemos participando de manifestação contra o Código Ambiental hoje, cinco de maio, em passeata organizada por estudantes do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, em caminhada desde a universidade até a casa do governador.

A manifestação era pacífica e silenciosa, ocupávamos duas pistas da Beira Mar Norte. Os automóveis passavam na terceira, tranquilamente, e muitos motoristas buzinavam em sinal de aprovação. Os estudantes levavam seus banners confeccionados com papel pardo e ninguém queria gritar palavras de ordem.

Já perto do Angeloni, fomos cercados primeiro pela guarda de trânsito, depois por policiais do Pelotão de Patrulhamento Tático. Gente, somos importantes, a da elite da PM de SC! Os militares começaram a empurrar os estudantes (e nós também) para a calçada com grosseria, alguns seguravam metralhadora, outros ameaçavam usar cassetetes e gás de pimenta caso houvesse desobediência.

Um dos estudantes foi atingido por um jato desse gás e vários incidentes quase se converteram em um confronto maior, não fossem as insistentes conversas diplomáticas dos líderes. Porém, os militares se negaram a ler a autorização para a passeata, que os jovens tinham em mãos. Tentamos convencê-los de que o tema interessava a eles, inclusive (que reclamam do governador melhores salários!).

Nesta manifestação, aparentemente não havia professores. Dela, participavam talvez dois ou três ambientalistas. Modesto Azevedo e João Carlos Silva representavam a UFECO e o Fórum da Cidade.

Incrível, mas fomos reprimidos, na avenida Beira Mar, pela tropa de choque! Se eu não estivesse lá não teria acreditado na grosseria e truculência desses militares, contra uma manifestação pacífica, de interesse de todos os catarinenses.

A repressão mudou o ânimo dos estudantes. Quietos até então, começaram a cantar refrões contra o governador. E assim, fomos caminhando até a Casa da Agronômica, com um carro da patrulha à frente e outro atrás de nós -. Os buzinaços não paravam, o povo nos apoiava.

O governador estava em casa, mas se negou a receber qualquer manifestante, nem um grupo de dez, nem de cinco, nem um só, sozinho. Os jovens queriam apenas lhe entregar um manifesto, mas o chefe do executivo mandou dizer que quem quisesse entregar qualquer papel para ele deveria marcar audiência lá no Centro Administrativo, que é onde sua excelência recebe as pessoas.

Os banners de papel pardo foram colados, com fita adesiva, no muro da casa ocupada por sua excelência – cujo aluguel é pago por nós. Os jovens receberam autorização para deixar os cartazes por pouco tempo, o suficiente para registrar o ato em fotos, retirando-as em seguida. Autorização dada, logo foi ordenado, inclusive para mim, “e agora saia daqui” [da frente dos portões], com a mesma truculência de sempre.

Enquanto isso, o inquilino da ilustre Casa tinha acabado de decretar algumas medidas emergenciais para salvar os agricultores do Oeste catarinense, apavorados com os prejuízos da safra, provocados pela estiagem prolongada. Entre as medidas, estão a isenção de taxa para quem quiser cavar poços, e o envio de caminhões-pipa com água (sabe-se lá de onde), com a sugestão de que os agricultores captem água da chuva, de agora em diante, para regar suas plantações. Captar como, se não chove?

(Vera Maria Flesch, FGV, 09/05/2009)