02 mar Cabo de energia volta as luzes para Dilma
Coordenadora geral do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi a grande atração ontem, durante a solenidade de inauguração da interligação eletroenergética da Ilha de Santa Catarina, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sede da Eletrosul, em Florianópolis.
Tanto Lula quanto o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, ressaltaram a importância de Dilma à frente das obras do PAC. Também coube à ministra fazer a prestação de contas dos recursos federais aplicados em Santa Catarina, numa clara disposição do presidente em colocá-la sob os holofotes da mídia.
Ministra das Minas e Energia do governo Lula em outubro de 2003, quando um apagão deixou a Ilha de Santa Catarina sem energia por 55 horas, em seu discurso, Dilma destacou a importância da inauguração dos cabos submarinos que ligam o Continente à parte insular de Florianópolis.
– Naquela madrugada de 2003, recebi a ligação da senadora Ideli Salvatti e do governador Luiz Henrique da Silveira, em que relatavam a gravidade da situação da Capital. Ali começou a parceria entre a Eletrosul e Celesc para detectar o que tinha acontecido, reflexo de uma falha no setor elétrico brasileiro – contou.
Segundo a ministra, até 2002, o Brasil não investia em energia de forma sistemática e isso explica porque, na Ilha de SC, o que se tinha era um plano A de abastecimento junto ao plano B. Ou seja, dois cabos próximos que, ao falharem, interromperiam o fornecimento de energia, como ocorreu com a explosão de outubro de 2003.
– Nós mudamos o padrão de parar de investir em momentos de crise mundial. Florianópolis é uma cidade com apelo turístico, que tem que ter energia para crescer, e que dependia de dois cabos sem grande capacidade. Nós providenciamos a interligação da Capital catarinense ao sistema básico – disse ela.
Em tom de campanha, Dilma ainda elogiou o governo Lula por valorizar o sistema Eletrobrás e as estatais de energia, que, conforme ela, têm garantido tarifas de transmissão mais baratas e deságios de até 40% nos leilões, e pelas parcerias realizadas com os governos estadual e municipal, através do PAC, como o Maciço do Morro da Cruz e o compromisso de melhorar os índices de saneamento básico do Estado.
Para o ministro Edison Lobão, que discursou minutos antes de Dilma, a ministra é tão essencial para desenvolvimento do PAC quanto foi o gestor da construção de Brasília, Israel Pinheiro, para o governo JK.
– Sem a Dilma Rousseff à frente do PAC, seguramente os resultados não seriam tão bons quanto são hoje – afirmou, seguido por muitas palmas, como num comício eleitoral.
No seu discurso, que durou exatos 30 minutos, o presidente Lula ressaltou a demora das obras do PAC, por causa dos entraves burocráticos. E lembrou que as obras da rodovia que liga o Centro da Capital ao Aeroporto Internacional Hercílio Luz começaram quando ele ainda era um sindicalista.
– Já perdi três eleições, ganhei outras duas, e a rodovia ainda não está completa. Mas isso é culpa das leis que nós mesmos fizemos. Isso precisa de uma solução. Esta obra dos cabos submarinos foi uma das mais demoradas do PAC para conseguir licença ambiental. Quase mergulhei para perguntar aos peixes se os cabos iam atrapalhar – brincou.
Lula se despediu elogiando Santa Catarina. Disse que os estados vizinhos são grandes, e que o Estado é pequeno mas que “os melhores perfumes estão nos menores frascos”.
– Queria que a Dilma ficasse uns dois dias por aqui para ver onde Deus pôs o dedo.
O que diz Dilma:
“A ausência de projetos da oposição faz com que ela tente impedir o governo de trabalhar. É uma ação temível para nos interditar. Nossas obras incomodam”
“Nunca vi ninguém ser interditado por viajar no Brasil. Por que só eu? Vou continuar viajando. É da minha função. Sou fiscalizadora do PAC”
“Hoje, 87% das obras do PAC estão em andamento. Vou acompanhar caso a caso”
“Respeitamos o Supremo. Mas o Executivo cumpre lei. Enquanto for legal, vamos continuar fazendo”
“Até 2002, não se investia em energia. O governo Lula mudou este padrão, valorizou o sistema Eletrobrás”
(Simone Kafruni, DC, 28/02/2009)
Apagão pode ser coisa do passado
Apagão, nunca mais. É o que garante a interligação eletroenergética da Ilha com o Continente através de cabos submarinos, inaugurada ontem. A parte insular de Florianópolis agora é abastecida por duas vias – distantes uma da outra – e não corre mais o risco de ficar completamente sem energia.
A obra com recursos do PAC custou R$ 172 milhões e, além dos cabos submarinos, contemplou a construção das subestações de Biguaçu e Desterro, no Campeche, e ampliação da subestação de Palhoça, assim como a implantação de linhas de transmissão.
– Esta obra é vital para a cidade. Florianópolis sempre teve problemas com abastecimento de energia e água no verão. Estes cabos vão garantir o fornecimento de luz pelos próximos 30 anos, com possibilidade de ampliação para 60 anos. É assim que se faz política pública, por isso quero agradecer ao presidente Lula – disse o prefeito da Capital, Dário Berger.
Primeiro presidente que faz uma visita à Eletrosul
O presidente da Eletrosul, Eurides Mescolotto, lembrou que Lula é o primeiro presidente da República a visitar a Eletrosul, que recém-completou 40 anos, em sua sede, que tem mais de 30 anos.
– Queria agradecer aos funcionários da Eletrosul, que deram sua grande contribuição em outubro de 2003. Em Buenos Aires, um apagão demorou 15 dias para ser resolvido. Em Nova York, foram necessários quatro dias. Aqui, solucionamos em 55 horas – afirmou Mescolotto.
O governador Luiz Henrique da Silveira salientou os números de Santa Catarina, sempre acima das médias nacionais. E lembrou que, se não fossem as catástrofes naturais no final de 2008, o PIB do Estado chegaria a 9,5%, equivalente ao da China, contra 6,4% do Brasil.
– Isso significa que Santa Catarina precisa da execução dos projetos de ampliação de energia. Precisamos das usinas de Pai Querê e Itapiranga para garantir a sustentabilidade do nosso crescimento – afirmou.
Luiz Henrique também citou a ministra Dilma Rousseff.
– Como diz a Dilma, fomos eleitos para resolver os problemas. O Estado tem que agradecer ao presidente, que determinou a construção da subestação de Joinville e o linhão para Blumenau, permitindo que aquelas regiões continuem a crescer. (SK)
(DC, 28/02/2009)
“Na ponte, lembro do que ocorreu”
O bombeiro Edi Rocha soube da explosão nas galerias da Ponte Colombo Salles, no dia 29 de outubro de 2003, ainda em casa, à luz de velas, pelo radinho de pilhas.
Naquele momento já se preparou psicologicamente para trabalhar no local no dia seguinte, quando começava seu plantão. Só não imaginava que a dificuldade seria tanta. O cenário era preocupante. Sua função, junto com outros três companheiros, era apagar focos de incêndio que ainda existiam nas galerias e recolher materiais deixados pelas guarnições que trabalharam anteriormente. Durante duas horas, sem tirar o equipamento de proteção respiratória, ele ficou sobre o chão de madeira, desviando das brasas vivas que ainda resistiam e se esforçando para ultrapassar os buracos dos pilares da ponte.
Rocha enfrentava o perigo de novas explosões sem medo, entretanto, com muita cautela. Nos 27 anos na função, ainda acredita que aquela foi uma de suas ocorrências envolvendo maior risco.
Depois do trabalho nas galerias da ponte, leite para evitar intoxicações e água e sabão para tirar a fuligem do corpo. Só o fardamento não teve salvação, foi descartado porque não houve jeito de retirar toda a sujeira.
– Agora, toda vez que passo na ponte lembro do apagão.
(Lilian Simioni, DC, 28/02/2009)