06 jan Chega de amadorismo
Da coluna de Moacir Pereira (DC, 06/01/2009)
Se é verdade que a primeira impressão é a que fica, os turistas estrangeiros que estão desembarcando em Florianópolis devem retornar com uma imagem negativa do turismo catarinense. Pisam, e encontram uma desordem inusitada na coleta das malas. A esteira é a vergonha dentre os terminais das capitais brasileiras.
Turismo de qualidade? Pois bem. No primeiro dia do ano faltou energia elétrica em Balneário Camboriú duas vezes, por longo tempo, e sem explicações. No Leste da Ilha de Santa Catarina, outro caso emblemático. Na véspera do novo ano, fiscais municipais foram eficientes em inspecionar. Queriam saber tudo. Mas se esqueceram de enviar a Guarda Municipal para orientar o trânsito na Lagoa, a artéria principal do sistema viário. Pior: no domingo faltou luz por mais de 15 horas na Joaquina, com transtornos e prejuízos a milhares de habitantes e turistas.
Entra ano, sai ano, a mesma ladainha. Não muda nada. Os problemas se repetem, de forma até enfadonha. O acesso ao Sul continua uma piada, sem que se adote alguma providência para aliviar os gigantescos engarrafamentos. Solução é o elevado, dizem todos. Mas antes disso, ninguém cogita da engenharia de tráfego. E a SC-401, a espinha dorsal das praias do Norte da Ilha, as mais procuradas? Alguém se lembra de uma única decisão técnica do Deinfra para desafogar o trânsito? Salvou-se apenas a Polícia Rodoviária, com a liberação de veículos em mão dupla no trecho não-duplicado, entre os trevos de Jurerê e dos Ingleses. A SC-401, aliás, é o pior cartão-postal de Floripa, em termos de sinalização, buraqueira, paisagismo, sistema de guard-rail, etc.
Falta estrutura
Viralatas circulando em matilhas e transmitindo doenças às crianças na areia das praias é outra reclamação cansativa todo ano, que só não encontra eco no poder público.
Todo ano a prefeitura promete acabar com a venda de alimentos de origem discutível nos balneários. Na Beira-Mar, durante o Réveillon, foi um escândalo o nível de barraqueiros vendendo de tudo e a todos, nas barbas da prefeitura.
Até as pedras da Praça XV sabem que nos dias de chuva a população local e os turistas têm uma única direção: os shoppings. Mas não há uma só autoridade que cogite de alterar a mão de direção para evitar o caos na cidade. Este ano, com outro lamentável registro: o desaparecimento da Guarda Municipal.
O setor de hospedagem é outra lástima. Investidores construíram bons hotéis e qualificadas pousadas em todos os pontos da Ilha. Mas, agora, nos balneários, os “corretores” de calção e chinelos de dedo ficam a balançar molhos de chaves, numa concorrência predatória que depõe contra a imagem da cidade.
Se está ruim por terra e por ar, pelo mar é muito pior. O transporte marítimo continua uma ficção. Ninguém cogita sequer de enviar técnicos à Austrália e Nova Zelândia, que oferecem sistemas operacionais eficazes. Fica todo mundo chutando.
O Plano de Gerenciamento Costeiro continua na gaveta da Câmara.
A Ilha permanece de costas para o mar. Os verões se repetem e não surge um trapiche ou os recantos de paisagem, como em Balneário Camboriú. Ou marinas, deques de madeira com bares e restaurantes, permitindo o desfrute destas maravilhosas paisagens por toda a população e durante o ano inteiro. Gerando milhares de empregos e transformando o turismo náutico em atividade econômica sustentável, como acontece, hoje, na Oceania.
Turismo de qualidade, sim senhor! Mas chega de amadorismo.