Investida totalitária

Investida totalitária

Pretendem a paralisação da indústria da construção civil formal.
Sobre loteamentos clandestinos e edificações irregulares, permanece o eloqüente silêncio da omissão. Ou da conivência.

Um documento assinado pelo petista Lino Fernando Bragança Peres, arquiteto e professor da UFSC, segundo suplente da vaga da Universidade no Núcleo Gestor do Plano Diretor Participativo (o titular está na França e o primeiro suplente… vai saber!), foi protocolado no início de novembro no Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf). Em cinco páginas, com o título de “Avaliação do Atual Processo do PDP e Encaminhamentos”, Lino Peres reforça duas outras manifestações protocoladas recentemente no Ipuf por um mesmo grupo de membros do NG: os ligados a partidos de esquerda, que agora pretendem o que é chamado de “repactuação”.

Em bom português, a “repactuação” descrita é passar a limpo o que foi feito até aqui, e iniciar uma “nova gestão” do PDP, através de uma espécie de comitê de quatro “coordenadores colegiados”, em substituição à atual presidência. A proposta trata, no limite, da criação de um novo órgão a ser sustentado com dinheiro público mas independente do poder municipal, inclusive com estrutura física e operacional. Ainda não desceu-se, nos documentos, às minúcias da remuneração para as novas tetinhas a serem criadas, já que o serviço terceirizado ao órgão é valioso: a implantação do urbanismo construtor de uma “nova sociedade”: aquele outro mundo possível, planejado desde o início do século passado.

A velha nova ordem

Em cada uma das mais recentes reuniões quinzenais do NG, grupos de “legítimos representantes da sociedade civil organizada” e de “lideranças dos movimentos sociais” passaram a questionar e alterar as pautas para apresentação de “manifestos” em defesa dessa nova ordem, monopolizando os trabalhos com a introdução intempestiva de debates, quase sempre raivosos, sobre as suas pretensões.

Esse comportamento cada vez mais desassombrado dos revolucionários socialistas em prol de uma “tomada” de poder no PDP – ampla e definitiva – vêm causando profunda indignação entre os membros não militantes, e nos quadros de carreira do Ipuf que atuam na formatação do projeto. Inclusive em Ildo Rosa, presidente do Instituto, ironicamente, o grande responsável pelo butim de arrogância das esquerdas para cima do Núcleo Gestor, e contra o próprio Ipuf. É opinião corrente que o ponto em que as coisas estão chegando é devido à postura imprimida por ele – talvez apenas por inexperiência, como já admitiu – de complacência, leniência e pusilanimidade em relação aos reiterados desmandos do grupo de viés totalitário. E não faltaram alertas sobre o que vinha ocorrendo. Inclusive na Justiça.

Para que se tenha uma idéia do grau de petulância dessa gente: quem vem assinando esses documentos como “titular do Rio Vermelho”, é o petista de carteirinha César Ismar Schenini, ex-assessor no gabinete do vereador Márcio de Souza. Ora, é público e notório que Schenini deixou de participar das atividades do Núcleo Distrital desde março, depois de ter sido flagrado, denunciado e afastado da titularidade – mas nunca impedido de continuar participando dos trabalhos – por seus pares, por (entre outras coisas) ter levado o celular do Núcleo em viagens de cunho particular Brasil a fora, e promovido uma farra de gastança privada com ele (leia em www.ilhacap.com.br/Edicao_abril08/afastado_representante_rv_abr08.html).

Matando no cansaço

A atuação desse aparelho esquerdista no PDP, tão distante da verdadeira índole da população florianopolitana, é uma construção calculada, dentro da metodologia das práxis dialéticas, se é que o leitor me entende. A atuação começou a ser desenhada muito antes de agosto de 2006, quando houve a audiência pública de fomação do Núcleo Gestor. Mas já ali a articulação começou a impor sua agenda politicamente correta sobre desavisados e inocentes úteis, conseguindo aprovar a proposta da Ufeco que transferiu algumas vagas no NG, dos segmentos empresariais da cidade para os operadores da luta de classes.

Depois, veio a formação dos Núcleos Distritais, onde os fins justificaram todos os meios na guerra para instituir a hegemonia revolucionária nas bases. Mesmo assim, os embaixadores da ditadura do proletariado sofreram acachapantes derrotas em muitos distritos relevantes, tendo o NG logrado sair daquela fase com o equilibrio ideológico ainda assegurado entre as 40 vagas. Iniciadas as atividades do Núcleo, no entanto, o stalinismo assembleísta dos totalitaristas passou a dar o tom dos encontros ao longo mais de dois anos de reuniões quinzenais, onde tudo é discutido e quase nada consegue ficar definido – nem mesmo as atas dos eventos.
A estratégia soviética é velha conhecida de toda a sociedade, mas os valentes sabem como fazê-la sempre eficaz: impor sua ladainha de acusar os outros pelos problemas que eles mesmos criam e alimentam, e ir matando no cansaço o entusiasmo dos não militantes, promovendo o esvaziamento da participação das pessoas comuns. Até que a minoria revolucionária se torne maioria no debate.

Toma tenência

Um levantamento recente detectou que, se fossem aplicadas as regras de assiduidade do regimento interno do Núcleo Gestor, já restariam na ativa menos de 20% das quarenta vagas iniciais.

Os primeiros a literalmente saltar do barco foram os representantes dos diversos órgãos municipais. Não é para menos: como as reuniões são realizadas nas quintas-feiras à noite, os funcionários saiam de expedientes muitas vezes estafantes, diretamente para intermináveis peleias, esticadas às últimas conseqüências pelo radicalismo profissional encarregado de dificultar definições baseadas no bom senso e na moderação. Membros de importância nos debates do plano diretor da cidade, como o Procurador da República Walmor Alves Moreira, as representações da Susp, da Floram, e das Secretaria de Ação Social e da Habitação, entre tantos outros, gradativamente deixaram de comparecer.

Os poucos representantes dos segmentos empresariais, cansados de ser esfolados pelos demolidores do maldito capitalismo, também têm preferido manter uma certa distância da arena, digo, plenária. Mas precisam tomar tenência e reocupar seus espaços de direito, porque uma outra coisa também fica muito clara nos manifestos: o objetivo de fundo do movimento – como sempre – é criar uma instância e ferramentas de pressão pela aprovação do tal defeso, ou moratória, para TODA A CIDADE. Em outras palavras: pretendem um duro golpe em Floripa com a paralisação da indústria da construção civil formal, enquanto que sobre loteamentos clandestinos e edificações irregulares, permanece o eloqüente silêncio da omissão. Ou da conivência.

Os vitoriosos nas urnas precisam ter mais coragem

É preciso atentar para esses, como direi, entes simbólicos que apresentam-se como donos e senhores da voz do povo. A tal da “sociedade civil organizada” e os “movimentos sociais” não passam de testas-de-ferro de ideologias ultrapassadas. Eles demandam contra a democracia representativa que vigora no Brasil, em prol de um participativismo artificializado: uma suposta democracia direta que, na verdade, significa a instauração da ditadura dessas minorias.

São os fabricadores de consenso de sempre, figuras notórias, quase folclóricas, porque estão em “todas” – do eco-xiitismo ao sem-terrismo – e que, afinal, representam interesses partidários de siglas como PT, PV, PC do B e PSOL. Que, não por acaso, reiterada e fragorosamente são rejeitadas pela voz das urnas na cidade. Agora mesmo, em outubro último, levaram uma verdadeira “lavada”, um “vareio” de 78% (montante de votos recebidos por Dário, Amin e César) contra 22% (a soma dos votos de Ângela Albino, Nildão, Afrânio e Joaninha)! Aliás, o próprio Lino Peres chegou a ser cogitado como candidato petista a prefeito. Acabou se lançando para vereador, com o codinome de “Professor Lino”, mas não foi eleito.

Pois são esses derrotados nas urnas democráticas que querem governar a cidade através do tapetão do “participativismo” soviético comandado por um politburo.

Alfeu Parro dos Santos, representante distrital de Ponta das Canas é enfático: “A mim eles nunca vão cansar. Quanto mais demonstram vontade de tomar o poder e comandar o Plano Diretor, mais eu luto para impedir.”

Paulo Spinelli, representante distrital de Ingleses, lamenta o que está acontecendo, que generaliza uma imagem negativa entre os membros do Núcleo Gestor, e no próprio PDP, distanciando ainda mais a população dos trabalhos e afastando os bem intencionados das atividades.

Ao tomar conhecimento do que vem sendo tentado – porque o próprio César Schenini distribuiu via Internet um símile escaneado do documento em que ele assina como representante do bairro – Joani Justino Félix, suplente Distrital do Rio Vermelho em exercício, oficiou ao Ipuf alertando que Schenini não representa o bairro. E lembrando que as denúncias sobre os desmandos na passagem do Césinha pelo ND foram encaminhadas ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas, com pedidos de providências, inclusive em relação à postura do próprio Ipuf durante o episódio.

Alguém já disse que “não precisamos ter medo do comunismo, porque ele nunca vai existir; o problema é o que as pessoas fazem quando tentam instaurá-lo.”
Este é o ponto. Florianópolis – assim como milhares de outras cidades por este Brasil afora – não precisa de um NOVO plano diretor, muito menos de um produzido através de falaciosos “processos participativos” cujo verdadeiro fim é sufocar a instituição da democracia representativa constitucional. O que esta Ilha Capital precisa é que os vitoriosos nas urnas – inclusive os não eleitos – tenham mais coragem para lutar contra isso, em compromisso com o futuro. E que se faça cumprir o Plano Diretor que já existe.

(Jornal Ilha Capital, 01/12/2008)