06 set A velhice
Crônica escrita por Dorvalino Furtado Filho – Pós-graduado em administração pública e marketing (A Notícia, 05/09/2008)
Quando as intenções e os desejos não são servidos pelo corpo, começou a velhice. Mas não devemos deixar a chama interior parar de tremular. O romano Cícero, em Senectude (capítulo 7), disse que os idosos substituem os prazeres corporais pelos intelectuais. Este mesmo Cícero, muitos anos antes que os psicólogos estudassem a velhice, foi taxativo: “Nunca ouvi dizer que um velho haja esquecido o lugar em que ocultou o seu tesouro”.
Existem velhos que tem o coração seco pela avareza e egoísmo. Mas há jovens que também possuem tamanha avareza, patológica pela educação, que desprezam e ridicularizam os bens ou os valores da alma e que já fecharam seus corações para o ideal. Ou seja: esses são “bermudões” que constituem uma certa pústula moral da sociedade; não “tiveram” pais, mas trouxas do lar.
É preciso que o velho não dê lugar à avareza, à inércia ou à preguiça ou ainda se contradiga na velhice. Muitos gênios da humanidade revelaram-se na velhice ou caíram em certa contradição pelas suas obras imortais.
Kant, por exemplo, chegou à convicção de que os três grandes baluartes do misticismo – Deus, liberdade e imortalidade da alma – eram insustentáveis diante da “razão pura”; o mesmo Kant, envelhecido, “dogmático”, descobriu, ao contrário, que esses três fantasmas são postulados da “razão prática”. Uma contradição entre o jovem e o velho Kant.
Mas se você se considera velho e não valoriza sua genialidade, foi opaco, sem iniciativa, temeu adversários e hoje, por causa das lembranças, se “sente medíocre ou insignificante”, não se iluda. Tudo isso será coberto um dia por flores. Agora, se você é velho (com 80 anos ou mais…), não deixe de ter um coração jovem. É fácil: Deus já colocou dentro de você o ânimo e a juventude eternas.
Continue dizendo o que dizia antigamente a quem você ama: “Meu amor”… Não deixe de beijar a amada com os lábios abertos, sentindo sua saliva, e também não adote um bigodinho fininho de velho sem vaidade, não calce tênis com meia social e bermuda. E que a mulher que se diz velha não deixe, em nome da falsa naturalidade, os cabelos totalmente brancos, envelhecendo mais seu rosto. Que as mulheres, na chamada velhice, também não deixem a vaidade de lado, cortando os cabelos curtíssimos, semelhante a homens, eliminando a beleza.
A velhice, enfim, exige que o marido prefira mais a companhia da mulher do que o baralho. Há! Você se acha velho mesmo assim? Então, por favor, reflita sobre o que disse o imortal Drummond na sua velhice: “Pouco importa que venha a velhice, que é velhice? Teus ombros suportam o mundo”.