14 jul O futuro do nosso turismo
Artigo de Luiz Henrique da Silveira — Governador de Santa Catarina (A Notícia, 13/07/08)
Domenico De Masi organiza, todo ano, o Festival de Ravello. De julho a outubro, são 98 eventos envolvendo as melhores expressões da cultura européia e mundial. Neste ano, por exemplo, o festival foi aberto pela excepcional Orquestra Sinfônica de Praga, apresentando músicas de Dvorak, Mahler e Smetana.
Qual é a lógica do sociólogo italiano? É a lógica do turismo de qualidade, com o qual se obtém mais dinheiro, com menos turistas, mas de maior capacidade financeira. O turismo de qualidade tem seu principal viés na cultura. Paris é a cidade que mais recebe turistas em todo o mundo. Quem vai lá, vai para apreciar sua arquitetura, seus museus, sua culinária, seus espetáculos musicais, teatrais, suas óperas, suas danças; ou a arte de seus grandes pintores e escultores.
Domenico De Masi levou essa teoria para Ravello, uma pequena cidade de três mil habitantes, debruçada a centenas de metros de altura sobre a montanha na costa Amalfitana (exatamente lá, onde o acesso é difícil e complicado). Tomando como base que ali viveram e criaram-se grandes expressões do pensamento universal, como Wagner, Stendhal, Ibsen e, mais recentemente, Gore Vidal, De Masi fez de Ravello um dos mais importantes pólos de turismo cultural da Europa.
Fui, por minha conta, à Sardenha conhecer o Projeto Costa Esmeralda, com o qual, há menos de 50 anos, o príncipe Aga Kahn transformou um litoral inóspito e inabitado num centro de efervescência turística. O que fez Aga Kahn? Construiu resorts, marinas, atracadouros de transatlânticos, campos de golfe e pólo. E loteou as terras próximas, dando surgimento a locais mundialmente conhecidos e freqüentados, como “Porto Rotondo” e “Porto Cervo”.
Comparada ao nosso litoral, a Sardenha – embora rica em belezas naturais – perde de longe. Escarpada, ventosa, sem praias largas e de areia fina e branca como as nossas, tem, ainda, uma outra desvantagem: só pode ser freqüentada de abril a setembro. De outubro a março (outono e inverno europeus), seus luxuosos hotéis e shoppings fecham. Mas, ainda assim, são milhares de iates luxuosos, vindos de todos os mares, que freqüentam suas marinas.
Embora em férias, procurei manter contato com o grupo responsável por aquele empreendimento, hoje sob o comando de um empresário norte-americano. Por intermediação do professor De Masi e do embaixador Adhemar Bahadian, recebi, na Embaixada do Brasil, em Roma, a diretora de relações internacionais do Consórcio Costa Esmeralda.
Fiz-lhe uma longa exposição sobre o nosso Estado, nossos 500 quilômetros de praias, uma mais bonita que a outra; nossa serra, nosso Norte, Oeste e Sul; nosso Vale do Itajaí. Falei-lhe das culturas européias – principalmente da portuguesa, italiana e alemã; destaquei que os nossos índices de desenvolvimento humano são os melhores do País; salientei o nosso avanço científico e tecnológico; a nossa moderna agricultura, indústria e serviços.
Impressionada com o que viu e ouviu sobre Santa Catarina, a diretora do Consórcio Costa Esmeralda assegurou-me que, em setembro próximo, virá nos visitar. Isso acontecendo, daremos um novo e grande passo rumo ao turismo de qualidade.