05 jun Saneamento básico em SC
Artigo de Janete Feijó — Coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Universidade do Vale do Itajaí (A Notícia, 05/06/08)
Uma grande parte das cidades catarinenses não dispõe de sistemas públicos convencionais de esgotos sanitários, uma vez que o Estado é um dos menos contemplados com tais equipamentos, com apenas 10% da população beneficiada. A pequena parcela das cidades já contempladas convive, da mesma forma, com os problemas relacionados à falta de saneamento básico visto que, não raramente, o sistema coletor abrange somente a região central das mesmas por ser, geralmente, a mais populosa.
Desta forma, muitas vezes deixam de ser atendidas pequenas comunidades, bairros, escolas, instituições e uma infinidade de edificações onde são desempenhadas atividades humanas, com a conseqüente geração de esgotos.
A população do Estado nunca foi beneficiada com uma política séria de saneamento básico, ficando à mercê da falta de vontade política e carente de ações que promovessem esse importante elo que fecha a questão hidrossanitária, uma vez que, com a devida coleta, um correto afastamento e um tratamento eficiente, que permite o esgoto ser lançado em receptores sem parâmetros indesejados, deixariam de ser registrados inúmeros casos de internação por doenças de veiculação hídrica, como diarréias, amebíase e febres tifóide e paratifóide.
Aqui, como em todo o País, os sistemas de distribuição de água sempre foram vistos como mais importantes, do ponto de vista de uma população desinformada, que sempre desejou avidamente água potável instalada em suas edificações. Mas o esgoto sanitário é resultante do uso dessa água, pois é formado basicamente por uma parcela líquida das águas de abastecimento (99,9%), às quais foram acrescentadas substâncias sólidas (0,1%), muitas das quais consideradas poluentes ou patogênicas, alterando suas características físicas, químicas e biológicas, implicando a necessidade de tratamento.
O lançamento de esgotos sanitários sem tratamento em rios, lagos e praias confere ao corpo receptor uma característica indesejada sob o ponto de vista da falta de proteção ao meio ambiente e do ponto de vista do comprometimento da qualidade de vida e da saúde da população. Em ambos os casos, o uso das águas que receberam significativa contribuição de esgotos sanitários sem tratamento é prejudicado, seja para fins de irrigação, uso industrial, dessedentação de animais, contato direto durante o lazer e a prática de esportes, entre outros.
Um aspecto a ser considerado é que os mananciais de abastecimento do Estado de Santa Catarina são, na grande maioria, corpos receptores de esgotos sem tratamento, implicando a necessidade de submeter esta água captada a determinados processos e à introdução de produtos químicos, a fim de conferi-la o grau de potabilidade exigido pelo Ministério da Saúde.
A população pode fazer a sua parte começando a cobrar de governantes e políticos o desenvolvimento de projetos e a implantação de sistemas de esgotamento sanitário nas cidades catarinenses, tão carentes dessa iniciativa que certamente promoverá o bem-estar e a qualidade de vida da população. E, depois de implantados tais sistemas, promovendo a ligação das tubulações à rede coletora disponibilizada, para que todo o esgoto gerado nas edificações tenha um único destino: a estação de tratamento.