23 jun O melhor de nós!
Artigo de Marco Avila Ramos — Arquiteto e urbanista (DC, 21/06/08)
A sociedade chega ao ápice da valorização do consumo e da matéria, em detrimento do espírito humano e seus mais genuínos anseios de realização. A insatisfação é crescente. Quando ter justifica todos os sacrifícios, inclusive aqueles que terminam por soterrar o ser individual ou coletivo, parece que as condições de sobrevivência não são suficientes para todos e, portanto, o semelhante é visto como um concorrente em potencial.
A propriedade individual adquire uma dimensão extremamente mais buscada e valorizada do que aquela dos bens de uso comum. Olha-se para a cidade e percebe-se que o convívio nas ruas e praças é substituído pelo lazer de consumo dos shoppings e o parque infantil perde espaço para o videogame. Não por menos, surgem obras arquitetônicas que, diferentemente do que ocorria no passado, não são concebidas como parte do cenário urbano, mas sim como fruto da preferência estética de projetistas e empreendedores.
Sabemos que a urbe sempre representou muito mais que um simples agrupamento edificado com seus múltiplos usos e interligações viárias. O espaço público é o elemento que justifica sua existência. As trocas sociais se dão nos lugares a que todos acessam e não nos demais ambientes privados.
A legislação urbanística, por si só, não tem demonstrado eficiência e certamente não garantirá no futuro a qualificação e preservação das áreas públicas. Só um processo educativo e participativo consistente poderá, no médio prazo, realizar avanços efetivos. Mudanças urgentes e necessárias não passarão por planos milagrosos, mas por uma elevação do nível de consciência.
Este é o milagre possível, a partir da disposição e da entrega de todos e de cada um. Quando o indivíduo é tocado por uma nova idéia, incorporando em si mesmo uma mudança de conceitos e atitudes, isso é percebido em sua moradia, rua, bairro e, finalmente, na cidade como um todo. Só então a cidade poderá ser o melhor de nós.