02 jun Construir edifícios sustentáveis, derrubar mitos
Construção sustentável é cara. Casa popular não combina com sustentabilidade e as soluções devem ser importadas. Greenbuilding e certificações são as melhores saídas. Esses são alguns dos mitos sobre a construção sustentável debatidos no painel “Gestão Sustentável da Construção Civil”, durante a Conferência Internacional Ethos 2008.
O primeiro deles a ser derrubado talvez devesse ser o do alto custo. As construções sustentáveis não podem e não devem ser caras, pois, para respeitar o princípio básico da sustentabilidade, devem atender ao tripé econômico, social e ambiental.
De acordo com Vanderley John, membro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o que encarece as obras são os excessos, os caprichos. No linguajar da área, trata-se da chamada over-engineering: propostas que vão além das necessidades, que não levam em conta os impactos do consumo sem consciência. Segundo John, ”zona de conforto não leva à sustentabilidade”.
Algumas atitudes, porém, contribuem verdadeiramente para que se possa atingi-la: redução de perdas, gestão de resíduos (destinação adequada), demolição seletiva, maior durabilidade das estruturas, materiais mais ecoeficientes (o que nem sempre significa uso de material reciclado) e escolha do fornecedor.
A questão-chave, portanto, é: quanto custa um empreendimento sustentável? Segundo Luiz Henrique Ceotto, diretor de Projetos e Construção da Tishman Speyer, depende do nível de implantação dos sistemas adotados e do custo inicial da construção. O ideal é que os itens que tornam uma edificação menos consumidora de recursos naturais, como a possibilidade do reúso da água ou iluminação natural, sejam incorporados na hora da idealização e da concepção do projeto. Uma construção sustentável ficaria 15% mais cara.
Em compensação, ao longo de 50 anos, esse prédio gastaria 80% menos em custos de operação e de manutenção. A fase de idealização custa menos de 0,2% do empreendimento, enquanto a concepção do projeto não chega a 1%. Resumindo, “é na etapa que tem o menor custo que podemos resolver a questão da sustentabilidade na construção civil”, afirma Ceotto.
Sensibilizando o investidor
O processo de sensibilização do mercado para exigir construções mais sustentáveis já se iniciou e deve se concluir em até cinco anos, segundo Marcelo Takaoka, diretor-presidente da Y. Takaoka e moderador do debate. A preocupação pode vir pelo lado do investidor. É ele que está, cada vez mais, disposto a pagar um adicional de custo para correr menos risco de ter o edifício com problemas após alguns anos de operação.
Na maioria das vezes, a empresa responsável pela construção não é a mesma que administra o edifício. E a falta de comunicação entre elas é a causa de muitos custos pagos pelos moradores e até pela sociedade. Takaoka acredita na indução indireta: “Precisamos de administradoras prediais fortes no mercado, que tenham o papel de induzir os clientes a perceber a importância de um projeto planejado desde a sua concepção, com foco na sustentabilidade e na durabilidade do empreendimento.”
Quando o mercado começar a exigir construções sustentáveis, certificações de greenbuilding (ou “prédios verdes”) podem ser importantes, mas não o único caminho. As certificações podem encarecer as obras e nem sempre cumprem o papel de verificar todas as etapas da construção e da vida útil do projeto. Ainda que um edifício seja ambientalmente correto, esse não é o único aspecto importante. Para Kaarin Taipale, coordenadora do Grupo de Trabalho do Processo de Marrakesh para Edifícios e Construções Sustentáveis, da ONU, afirma que “ser verde não é o suficiente”.
Vanderley John acrescenta que “além de construções verdes precisamos pensar nas questões sociais. Por isso, não é possível dizer que greenbuilding é a solução”. Ele fez questão de ressaltar a importância das questões sociais ligadas ao tema: “Quem trabalha diretamente nas obras é a classe menos favorecida. O custo de cada trabalhador, se comparado ao custo da obra, é mínimo”.
Algumas construtoras estão começando a investir em educação ambiental e treinamentos nos canteiros de obras – por precisarem reduzir o alto consumo e pela cobrança do mercado relativa à responsabilidade social. Entretanto, John afirma que “algo em torno de 80% das construções não são realizadas por construtoras, e sim por trabalhadores informais”. E acrescenta que tanto a corrupção quanto a informalidade são desafios que precisam ser superados para que o Brasil possa buscar com mais consistência um desenvolvimento sustentável na construção civil.
(Envolverde/Instituto Ethos, 31/05/08)