14 maio Vivendo a vida de bike
Valéria Caballero é uma sorridente! Feliz da vida, ela realiza sua paixão pela bike na rotina pela cidade: só usa ônibus se tiver que voltar para casa muito tarde, à noite. Valéria é professora de teatro no Espaço Cultural Sol da Terra (3232-2303), na Lagoa da Conceição, e em alguns dias da semana trabalha até perto das 22 horas. Nessas ocasiões a “magrela”, sua companheira “quase” inseparável, fica em casa: na Vargem Pequena, Norte da Ilha.
Você leu direito, sim: Valéria mora na Vargem Pequena, trabalha na Lagoa da Conceição, e percorre esses cerca de 30 quilômetros de bicicleta, quantas vezes as circunstâncias permitirem. O roteiro, tanto faz, pode ser pelo Norte da Ilha, atravessando o parque do Rio Vermelho, como pelo Itacorubi, em meio ao burburinho urbano.
Foi com a primeira opção que a bela viveu sua maior aventura, no primeiro dia de trabalho no Sol da Terra. A família recém se mudara do Campeche para a Vargem Pequena quando a moça saiu de casa sob uma garoa fina, com a chuva apertando já no primeiro trecho. O desconhecimento da região levou-a a errar o caminho: pegou a estrada da Vargem Grande – com um grande parte não pavimentada – para chegar ao Rio Vermelho, quando o correto era seguir por Ingleses.
Ao chegar à subida do morro da Barra da Lagoa – já com a roupa encharcada -, a enxurrada havia feito um enorme estrago: parte do morro escorrera sobre o leito da via. Valéria não teve dúvida: colocou a bicicleta sobre um dos ombros e, com a ajuda dos bombeiros, começou a atravessar o lamaçal. Um passo, dois, três… e tchuft! Atolou em barro até a altura do ombros. Os bombeiros puxaram a bicicleta e a ciclista veio grudada na magrela. No horário combinado, ela estava pronta para começar no novo emprego. Não antes de uma boa chuveirada: Valéria carrega sempre uma mochila emborracha com uma muda de roupa limpa.
Mas o seu pior momento na bicicleta ocorreu no itinerário do Itacorubi, quando foi atropelada pela costas por um carro que fugiu sem lhe prestar socorro. “Graças a Deus não tive ferimentos graves, mas fiquei traumatizada e agora só pedalo na contramão.” Admite que isso vai contra a legislação de trânsito, mas acha que “quatro olhos enxergam melhor do que dois”.
A moça freqüenta duas sessões semanais com uma psicóloga: no bairro Capoeiras. Toda segunda e terça-feira sai por volta do meio-dia para estar no consultório às 14 horas. Ela garante que ainda sobra uns 20 minutos para secar o suor e reidratar-se.
“Muita gente já me reconhece nas ruas. Os motoristas entregadores, que percorrem os mesmos roteiros, buzinam e acenam quando a gente se cruza”, diz. E responde que não, nunca arranjou nenhum namorado pelo caminho. “Não tenho namorado e nem estou procurando”, completa. E dá risada!
A paixão pela bike nasceu com Valéria, em Montevidéo, há 33 anos. Era ainda um bebê quando a família mudou-se para Buenos Aires onde, anos depois, a alegria da garotinha com a primeira bicicleta, durou pouco: ”Em Buenos Aires há muito roubo de bicicleta e depois que levaram a minha, nunca mais ganhei outra. Para quê, se ia ser roubada novamente?”
Ao mudar-se para Floripa, já com 27 anos, para cursar o mestrado de Artes Cênicas na UDESC, ela usou seu primeiro salário para comprar uma bicicleta de R$150. Depois trabalhou meses como garçonete de praia para pagar os R$700 da bike que usa até hoje, montada especialmente para ela.
Valéria treinou durante meses para participar do Ironman 2007, mas não conseguiu patrocínio. “Só a inscrição é quase R$700, mais a bicicleta de competição”, lamenta.
Valéria Caballero, mora com os pais, os artesãos Mário e Valquíria, tem um irmão radicado em Tampa, Flórida, USA, e uma irmã que permaneceu em Buenos Aires, com o marido. Agora eles têm um bebê – o primeiro sobrinho da ciclista. Esta enorme distância de parte da família faz com que, aos domingos, ela visite uma parentada que mora na Armação do Pântano do Sul. A jovem sai cedinho de casa e segue pelo Rio Vermelho, Lagoa, Rio Tavares, Campeche e Morro das Pedra. Chega na Armação para o almoço, depois de pedalar perto de 60 quilômetros em cerca de 3 horas. “Tenho tendência a engordar e engordo mesmo com esse exercício todo. Imagine como eu estaria se não gostasse tanto de bike?”
O ciclismo e a saúde: O ciclismo é um excelente exercício, sem impacto, tanto para queimar calorias como para melhorar o condicionamento cardiovascular. Trabalha músculos das pernas, especialmente o quadríceps, coxa posterior e panturrilha. Não é recomendável a pessoas com problemas em joelhos e coluna onde a posição e os movimentos são prejudiciais. Você pode obter melhores resultados andando em terrenos com subidas ou ajustando a bicicleta ergométrica para simular subidas. Uma hora de ciclismo queima aproximadamente 530 calorias.
(Jornal da Ilha, abril de 2008)