28 maio A energia que vem dos mares
A energia solar termal não é a única nova fronteira na busca por eletricidade limpa e renovável. Vários projetos estão em andamento para utilizar as ondas, correntes e marés dos oceanos na produção de energia. Portugal será o primeiro país a inaugurar um parque energético marinho, na região de Aguçadoura, na costa norte. O sistema se compõe de três tubos de metal, cada um com 140 metros de comprimento e 700 toneladas, que bóiam na água.
O balanço das ondas faz com que as diferentes seções do tubo se contraiam, impulsionando um fluido de alta pressão usado para mover motores hidráulicos. Estes, por sua vez, movimentam um gerador que produz eletricidade. A tecnologia foi desenvolvida por uma empresa escocesa. O Parque de Aguçadoura vai gerar 2,25 megawatts, o suficiente para abastecer 1 500 casas.
No ano que vem, a Inglaterra criará um parque de energia marinha a 16 quilômetros da costa, na região da Cornualha. Batizado de Wave Hub, funcionará como uma central elétrica submersa que conectará quatro usinas marinhas à rede de distribuição de eletricidade em terra. As usinas usarão a força das ondas para gerar eletricidade. O projeto consumirá 56 milhões de dólares e vai gerar 20 megawatts de energia, o bastante para abastecer 7 500 casas.
Segundo as projeções, após 25 anos de funcionamento o Wave Hub evitará que 300 000 toneladas de dióxido de carbono, gás responsável pelo efeito estufa, sejam lançadas na atmosfera. Acredita-se que, no futuro, a energia marinha possa fornecer um quinto da eletricidade consumida na Inglaterra.
O Brasil também tem um projeto de usina marinha. Ele foi desenvolvido pelos pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Submarina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A usina deverá ser instalada no Porto de Pecém, a 60 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, e utilizará a força das ondas para gerar 50 quilowatts de eletricidade, o suficiente para abastecer vinte casas. “Não é muita energia, mas trata-se de uma usina piloto que funcionará como um laboratório a céu aberto para testar e aprimorar a tecnologia”, diz Eliab Ricarte, gerente do projeto.
Estudos da UFRJ indicam que os 8 500 quilômetros do litoral brasileiro têm potencial para suprir até 15% da demanda de energia do país. Por ser uma tecnologia em desenvolvimento, a energia marinha ainda é cara em comparação com outras fontes renováveis, como a energia eólica.
Atualmente, cada quilowatt-hora de energia produzido pelo oceano custa 45 centavos de dólar, enquanto a eletricidade das turbinas de vento sai por 8 centavos de dólar. Disse a VEJA Ian Bryden, engenheiro da Universidade de Edimburgo: “A energia marinha é uma área promissora, mas ainda precisa de mais tempo para se tornar eficiente. Entretanto, seu potencial é maior que o da energia eólica, porque os movimentos dos oceanos são mais previsíveis que os dos ventos”.
(Rafael Corrêa, Revista Veja, 14/05/08)