16 abr Contra servis
Artigo de Dorvalino Furtado Filho — médico veterinário (A Notícia, 15/04/08)
Existe a velhice inequívoca, quando o espírito enruga mais que o rosto. Hoje há mais idosos ativistas e produtivos do que jovens, e esses “idosos” guardam um otimismo e espírito irradiador de juventude, denodo e experiência. Quem tem amor na vida e na liderança de um trabalho, nunca envelhece.
À semelhança de Nietzsche, quem tem projetos de vida e de trabalho costuma ser antimedíocre e pode discernir as qualidades um tanto inconciliáveis com a disciplina social. Não podemos aceitar servis para que nossa juventude não seja, no futuro, lacaia da sociedade. Precisamos, sim, que os jovens formem seu caráter sem perder a sua impulsão de dignidade. A vida pública, hoje, nos legou lacaios e aduladores, por isso o Estado em que vivemos nos alimenta de medo e insegurança. Muitos políticos, com honrosas exceções, não mostram coerência com os sentimentos mostrados nas suas campanhas, nos seus mandatos.
Precisamos de gigantes de alma para que, por meio da política, mostrem ser excelentes na forma de viver, exatamente como disse La Bruyere, citado por Ingenieros: “O homem excelente não pode adular; julga a sua presença inoportuna nas cortes, como se a sua virtude ou seu talento fosse uma exprobração aos que governam”.
A sociedade tem, ainda, sede e fome de ver alguém exercendo a política contra a rotina e os rotineiros, contra os servis e domesticados, contra o populismo exacerbado, contra a administração de fachada, para que quebrem a monotonia da história política deste País.
A maior virtude de um gigante é rejeitar os hipócritas e os medíocres,sem deixar de preservar os valores da sociedade. Gigantes da vida se recheiam de verdades, sem nada de falso em suas falas.
Aí vem à mente, de novo, Ingenieros, ao dizer que “aquele que se acostumou a proferir palavras falsas acaba por faltar a si mesmo sem repugnância, perdendo toda a noção de lealdade para com o próprio espírito; os hipócritas ignoram que a verdade é a condição fundamental da virtude” e esquecem a sentença multissecular de Apolônio: “De servo é mentir, de livres, dizer a verdade”. Ninguém derrota obras de gigantes, são incontáveis os dias de vitória que ainda virão.