20 mar Reciclagem deve ser acompanhada de redução e reutilização
Quando se fala em ecologia hoje, geralmente a primeira idéia que vem à cabeça é a reciclagem. As pessoas esquecem que esse processo é industrial e também consome muita energia, além de produzir resíduos. Antes de reciclar, é preciso adotar os outros dois erres: redução e reutilização. É o que defende a bióloga e educadora Patricia Blauth, diretora da empresa Menos Lixo que trabalha há mais de 15 anos como consultora em minimização de resíduos.
“É como se a reciclagem autorizasse o desperdício. Reciclar é remediar. Reduzir a produção de lixo é prevenir”, afirma ela, explicando que diminuir a geração de resíduos alivia também o impacto da produção, extração e distribuição dos produtos. “Imagine o tanto de energia que está contida em uma garrafa de vidro descartável. É muito melhor optar por uma garrafa de vidro retornável, que pode ser reutilizada 50 vezes, em média”.
Além disso, nem todo produto que leva o símbolo formado por três setas é realmente reciclável. “Por exemplo, o isopor é potencialmente reciclável, mas esse processo não é economicamente viável. Ou seja, não deveria levar o símbolo.”
Outra face a ser considerada é que nem sempre um produto reciclável completa o seu ciclo: uma garrafa PET nunca será transformada em outra igual. O plástico reciclado é utilizado para fazer outro tipo de produto.
De acordo com Blauth, o consumidor desorientado pela propaganda é induzido pelos símbolos e passa a comprar embalagens descartáveis achando que está, necessariamente, contribuindo para preservar o ambiente. “A Dinamarca, por exemplo, proibiu o uso de embalagens descartáveis para bebidas não-alcoólicas e cerveja. Em Portugal, há uma lei que prioriza o retorno de embalagens usadas. Portanto, o uso de descartáveis para bebidas não é uma tendência do mercado internacional.”
A bióloga afirma que há opções ecologicamente corretas até mesmo para fraldas e absorventes. Segundo ela, em Londres existe um serviço especializado em lavar fraldas que sai muito mais barato do que comprar as descartáveis. “Um bebê produz cerca de uma tonelada de lixo só em fraldas descartáveis no primeiro ano de vida”, diz. Para as mulheres, a geógrafa Diana Hirsh criou o aBIOsorvente, um absorvente íntimo reutilizável feito de algodão (pode ser comprado pelo site www.coisasdemulher.com.br).
(Flávia Mantovani/Marcos Dávila, Folha de São Paulo, 17/03/08)