26 fev Sacolas de plástico, um problema que não precisamos
Graças aos jogos Olímpicos e a pressão exercida pelo comitéolímpico internacional, a China está fazendo um esforço real e sensível em busca da redução da poluição, pelo menos na região de Pequim. Além do rodízio de automóveis, redução da poluição industrial e programas de reciclagem.
A partir de junho estará proibida a distribuição de sacolas plásticas gratuitas em todos estabelecimentos comerciais da China. Não é pouca coisa. A população chinesa usa três bilhões de sacolas de plástico todos os dias ao custo do refino de cinco milhões de toneladas de petróleo por dia para fabricação de plásticos empregados em empacotamento.
Só para termos uma referência, no país tupiniquim, usamos aproximadamente um bilhão das mesmas sacolas por mês.Essa atitude coloca a China no rol das entidades governamentais (Irlanda, Uganda, Africa do Sul, Rússia, a cidade de São Francisco, Estados do Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo, etc) que, de uma forma ou de outra, proibiram, limitaram ou estão tentando resolver de outras formar os problemas causados pelo o uso indiscriminado dessas sacolas.
O último integrante notável desse time é a Austrália que recentemente anunciou que pretende tomar medidas para limitar, taxar e/ou proibir o uso dessas sacolas. Com grande torcida governamental para a opção taxar.
A proibição, pura e simples do uso dessas sacolas é uma solução meia boca que não resolve o problema e ainda pode criar um problema maior. Essas sacolas só provocam danos ao meio ambiente durante a produção e quando terminam nos lixões. Muito antes de começaram a causar danos ao meio ambiente causam danos a reputação da cidade/estado/país.
O primeiro problema que eles tem por lá, na China, e nós por cá no Brasil, é que a população não é exatamente conhecida por seus bons modos e higiene e sai largando sacolas de plástico por tudo quanto é canto, enchendo as ruas e avenidas de lixo não degradável, multi-colorido e com altíssimo grau de contraste em relação a paisagem urbana.
Uma sacolinha azul, largada no portão do Maracanã estraga toda a foto e compromete a visita. A proibição do uso vai melhorar a poluição visual das nossas cidades afinal teremos só caixas de papelão e papel jogados pelas ruas. Sem concentração e com o contraste menor a coisa aparece menos. Nem por isso deixa de ser lixo ou de ser notada.
Um dos fatores econômico-culturais mais interessantes que vi por ai é o uso dessas sacolas como saco de lixo. O sujeito compra no super mercado, leva a mercadoria para casa, consome e o que sobra ele coloca de novo nas sacolas e joga no lixo dezenas de sacola por lixo, por família por semana. Vi isso no Brasil, Argentina, Paraguay e EUA e sou capaz de apostar que o mesmo acontece na China.
Sem a sacola, o sujeito vai ter que comprar sacos de lixo, geralmente feitos de plástico mais espesso e também não biodegradável para descartar seu lixo doméstico. Vamos diminuir o consumo de sacolas e aumentar o consumo de sacos de lixo. Tiramos um dejeto feito de plástico fino e substituiremos por outro dejeto feito de um plástico pior. Só sendo governo para pensar em algo assim.
A idéia deve ser que para cada família teremos um único sacão de lixo por unidade de recolhimento, diminuindo o número de sacos plásticos no lixo se contarmos as unidades mas não estou tão certo dessa redução se contarmos a quantidade de plástico que estamos jogando no meio ambiente. Procurei mas não achei uma relação do tipo um saco de lixo de cinqüenta quilos é equivalente a tantas sacolas plásticas. Independente da relação, não acredito nessa solução.
Nossas residências não estão preparadas para armazenar lixo, seja em que quantidade for. Uma residência típica tem uma lata de lixo pequena na pia, ou perto dela, e uma um pouco maior na área de serviço. Em apartamentos antigos, existe a lixeira coletiva, nos atuais nem isso. O que vai acontecer será a compra de sacos de lixo menores, de dois ou cinco quilos para o lixo diário, que serão amarrados e colocados para coleta da mesma forma que as sacolas são usadas hoje.
Nas cidades mais agradáveis a vista é possível ver uma aberração urbana feita de ferro e com a forma ligeiramente parecida com uma taça quadrada onde as famílias juntam os sacos plásticos com lixo esperando a coleta. Algumas cidades fazem essa maravilha da urbanização moderna em uma altura que permita que os lixeiros recolham o lixo sem precisar se abaixar. Ficam lindas as residências com uma taça de lixo na porta.
Em outras cidades o lixo é simplesmente acumulado nas portas, na rua em montes multi-coloridos e multi-perfumados. Já vi casos em que os montes ficam lá largados na rua todos os dia o dia todo. Já fazendo parte da decoração urbana. Nunca viu? Visite a cidade do Rio de Janeiro, vá ao subúrbio. Qualquer um a qualquer dia e hora e observe.
A proibição das sacolas não mudará esse cenário. No máximo vai fazer com que os montões fiquem mono cromáticos se tivermos sorte. Eu, pessimista que sou, acho que teremos montões coloridos de sacos de lixo pequenos.
O outro problema da proibição do uso dessas sacolas está no transporte das compras até em casa. Em alguns estados dos EUA se usam sacos de papel um pouco mais resistente para transporte das compras. Certamente, por lá, ninguém faz compras de mês de ônibus ou trem ou de ônibus e trem. Esses sacos só são eficientes para quem anda apé ou de carro.
Podemos voltar aos meus tempos de menino quando íamos as compras com duas bolsas de lona não descartáveis e trazíamos os legumes, folhas e frutas em uma delas e os demais itens na outra. Essa é uma solução muito boa, tanto para quem faz compras de carro quanto para quem usa o transporte público. Mas requer uma campanha de conscientização. Para que a população adote esse procedimento.
Uma outra boa idéia seria a criação de carrinhos de compra dobráveis que se fixassem nas malas dos carros e pudessem ser utilizados dentro dos estabelecimentos comerciais, como já existe em alguns modelos de luxo. Desde que o transporte público fosse adaptado para permitir o transito desses carinhos.
Graças a tecnologia, existem outras alternativas, mais interessantes: Estados brasileiros como Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo estão estudando e tentando aprovar legislações que forcem o uso de sacolas oxi-biodegradáveis. Que degradariam até 200 vezes mais rápido que o plástico comum. Levando alguma coisa como dezoito meses para se degradar totalmente em lugar do 200 anos das sacolas de plástico comum. Parece bom, não parece?
Os opositores dessa tecnologia gritam a plenos pulmões que apesar do plástico degradar, as tintas usadas nos logos não degradam e que o processo de fabricação desses materiais oxi-biodegradáveis é mais poluente que os processos atuais. Baseado nisso o Governo Serra vetou o projeto em São Paulo. Só para deixar claro, essa foi a explicação oficial. Para mim foi pressão econômica pura e simples e falta de vergonha na cara.
Se não levarmos em conta o fator econômico e a força dos lobs, essa discussão perde todo o sentido. Tudo que é necessário é fazer um levantamento científico e determinar que processo é pior para a natureza. Simples assim: Científico.
Certo ou não, a Cidade de Curitiba já adotou as sacolas oxi-biodegradáveis nos armazéns da família e nas feiras. No estado do Paraná 48% dos supermercados já adotaram ou se comprometeram a adotar as sacolas desse material. Levando a Capital e o estado a linha de frente da solução desse problema.
Que tal, só nessas questões que dizem respeito a sobrevivência dos seus filhos e netos, vocês dos governos em geral tentarem agir cientificamente e não politicamente e em lugar de simplesmente proibir o uso dessas sacolas fazer algo um pouco mais complexo como usar o poder dos deuses da economia para ajudar os deuses da tecnologia a achar uma solução.
Usem o poder que o povo lhes concedeu para impor uma data limite para o uso plástico não bio-degradável não só nas sacolas, mas em todos os recipientes de produtos não retornáveis seja em uso doméstico ou industrial. Enquanto isso criem um programa sério de educação popular quanto a manutenção do lixo em residências.
E, da verba astronômica que vocês certamente vão usar para isso, separem uma parte para financiar um concurso universitário de abrangência nacional para a busca de soluções para armazenamento de lixo doméstico em residências e para a coleta de lixo doméstico.
Quem sabe se com isso, quando meu neto tiver idade para ir a praia ainda exista uma praia para ele ir.
(Frank Coelho de Alcantara, Thyamad Projetos, 25/02/08)