21 fev Poli/USP faz entulho virar material nobre para construção
A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) conseguiu obter do entulho de construção civil dois produtos de alto valor agregado: areia e brita para aplicações em concreto armado, com características superiores ao agregado reciclado atualmente empregado para pavimentação.
O próximo passo, já em andamento, é a obtenção de uma areia reciclada para utilização em argamassas aplicadas em acabamentos finos, tema do doutorado da pesquisadora Carina Ulsen, do Laboratório de Caracterização Tecnológica da Poli.
Essa conquista, inédita no mundo, é resultado de um projeto multidisciplinar entre pesquisadores dos departamentos de Engenharia de Minas e Petróleo (PMI) e de Engenharia de Construção Civil (PCC) da Poli, envolvendo outras instituições de pesquisa, tais como o Centro de Tecnologia Mineral e a Universidade Federal de Alagoas.
Bancado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), o projeto possibilitará a expansão do mercado de reciclagem dos resíduos de construção civil e demolição no Brasil e, conseqüentemente, contribuirá para a sustentabilidade do setor.
Atualmente, a maioria das usinas de reciclagem de produtos da construção civil se limita a britar todo o material do entulho (telhas, tijolos, rochas, metais, madeira, concreto, plástico, gesso etc) e peneirá-lo conforme a granulometria desejada.
O resultado desse processo, chamado de ‘agregado reciclado’, é um produto de baixo valor, geralmente utilizado como base para preparação de terrenos, na pavimentação de ruas e estradas e na fabricação de blocos, entre outras aplicações que não exigem alto desempenho mecânico.
Salto tecnológico
“Conseguimos desenvolver um método que otimiza a produção de areia e brita recicladas de baixa porosidade”, conta a pesquisadora Carina Ulsen, que tem formação e mestrado em Engenharia Mineral. Ela explica que no entulho da construção civil a rocha geralmente está contaminada por pasta de cimento, que possui alta porosidade e baixa resistência, o que torna o agregado reciclado inadequado para concreto estrutural. “Já a areia pode ter solo como contaminantes, tornando-a inapropriada para argamassa.”
Trata-se de um avanço tecnológico que nenhuma outra instituição de pesquisa do mundo conseguiu alcançar, tamanha a dificuldade que é separar os materiais conforme suas características físicas e químicas e atender as exigências de cada aplicação na construção civil. O processo é realizado de forma eficiente e seguro e atende os requisitos das normas técnicas.
“Trabalhamos com amostras bastante diversificadas, obtidas em aterros de São Paulo (SP), Macaé (RJ), Rio de Janeiro (RJ) e Maceió (AL), o que comprovou a eficiência do método independente da origem do resíduo”, acrescenta Carina.
Mercado sustentável
A próxima etapa da pesquisa será o levantamento de custos e a adaptação do projeto para implantá-lo em escala comercial. Potencial de mercado é o que não falta. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o consumo de agregados (matéria-prima de origem mineral) no Brasil é da ordem de 400 milhões t/ano, enquanto que a geração de resíduos da construção civil e demolição (RCD) é de aproximadamente 70 milhões t/ano.
Considerando somente a fração mineral do entulho (75-90% segundo a pesquisadora), a reciclagem do RCD como agregados poderia atender até 17% do mercado. Estima-se que cerca de 20% dos RCD produzidos no Brasil sejam depositados em aterros ilegais, nas margens de rios, córregos, estradas ou em terrenos baldios.
“Nossa expectativa é que essa pesquisa contribua para a sustentabilidade do setor de construção civil, de modo a diminuir a extração de bens minerais não renováveis e as áreas de deposição dos resíduos”, prevê Carina.
Fonte: Acadêmica Agência de Comunicação / Assessoria de Imprensa e Comunicação da Escola Politécnica.
contato: academica@academicacom.com.br
(11) 5549-1863 / 5081-5237.
(EcoAgência, 20/02/08)