A arte de ensinar

A arte de ensinar

Um berimbau, uma sala e a criatividade para ensinar. Essa é a receita utilizada pelo músico João Nilson da Costa para amenizar os efeitos do mundo real em algumas comunidades.
O carinho e a preocupação com o futuro das crianças do conjunto habitacional da Via Expressa, no bairro do Abraão, na Capital, o levaram a adotar um projeto na região.
O número de escolas públicas nem sempre é suficiente para atender a todas as crianças do Estado, em especial ao se tratar de ensino infantil. Quando atende a todas em uma determinada região, não ocupa integralmente o tempo livre delas. A fim de produzir conhecimento nesse período vago, pessoas e entidades dedicam seu tempo livre a ações simples que transformam a vida de diversas crianças.
Os pequenos de João Nilson são envolvidos em aulas de teatro popular e de cultura da Ilha por meio do boi-de-mamão. As atividades não se restringem ao físico. Elas ajudam também na escola, uma vez que ao construir o boi-de-mamão usam conceitos da matemática para medir a madeira. A história da região, assim como a geografia, entram junto na brincadeira. Para Costa, as crianças são artistas, pois em retribuição à sua dedicação, elas se envolvem e criam.
“O que a gente sente mais falta aqui é um corpo físico de pessoas. Há universitários que estão se formando agora e poderiam se doar um pouquinho, meia hora por dia”, sugere.
Morador da Vila Aparecida, Costa trabalha há sete anos no conjunto habitacional da Via Expressa, mas já desenvolveu seus trabalhos em outras localidades. Hoje, equilibra os horários de trabalho com a atividade voluntária em mais duas ONGs, dentre elas o Centro de Educação e Evangelização Popular (Cedep).
A entidade existe há 20 anos, é presidida pelo Padre Wilson e está localizada no Monte Cristo, onde atende 300 crianças de seis a 15 anos. Dentro do projeto Oficina do Saber há aulas com o objetivo de ampliar o conhecimento e acontecem em dois turnos, complementares ao da escola, de segunda a sexta-feira.
Atividades não faltam: artes plásticas e cênicas, música, dança, capoeira e esportes são algumas das opções. Mas nem sempre foi assim. Antes da construção da sede, em 2005, as aulas aconteciam em espaços cedidos em quatro comunidades e a capacidade de atendimento era de 120 crianças. Parcerias com o empresariado e com a prefeitura mudaram o quadro. Hoje, a Casa é referência na cidade e até faz intercâmbio de professores com escolas públicas da Itália.
No entanto, para Patrícia Kincheski, coordenadora do projeto, a satisfação maior está nos muitos depoimentos de jovens que passaram pelo Cedep, avançaram nos estudos e conquistaram um bom emprego.
“Se não existisse esse tipo de trabalho de ONGs, onde estariam essas crianças?”, indaga o músico João Nilson da Costa.
(DC, 11/02/08)