Prefeitura de Florianópolis tenta suavizar lei que proíbe uso de cobaias

Prefeitura de Florianópolis tenta suavizar lei que proíbe uso de cobaias

Depois que, por um suposto lapso do prefeito Dário Berger (PMDB), a Câmara Municipal de Florianópolis sancionou uma lei que proíbe o uso de todos os animais em experiências científica, a prefeitura da cidade está tentando suavizar os termos.
Na próxima sexta-feira (11/01), haverá uma reunião entre membros do Executivo, Legislativo e
da comunidade científica para tentar encontrar um consenso sobre o assunto. A idéia é que, na regulamentação da lei, sejam abertas brechas que permitam o uso de cobaias em experiências.
Participarão das conversas representantes da secretaria municipal de Saúde, da comissão de Saúde de Câmara, de entidades protetoras dos animais e também da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), uma das mais afetadas pela nova legislação.
A lei, aprovada pela Câmara no início de novembro, é bastante sintética – tem apenas quatro artigos.
Proíbe em Florianópolis “a vissecação assim como o uso de animais em práticas experimentais que a eles provoquem sofrimento físico ou psicológico, sendo estas com finalidades pedagógicas, industriais, comerciais ou de pesquisa científica”. A pena para o descumprimento seria de R$ 2.000 por animal. Em caso de reincidência, poderia haver cassação do alvará de funcionamento da instituição.
Burocracia
A nova legislação foi marcada por um imbróglio entre a prefeitura e a Câmara Municipal.
A norma foi sancionada pelo Legislativo no começo de dezembro porque o prefeito não cumpriu o prazo de 15 dias úteis, previsto na lei orgânica do município, que tinha para decidir se vetava ou sancionava o projeto.
Depois que o texto foi publicado do Diário Oficial de Santa Catarina, em 11 de dezembro, passou a valer um prazo de 60 dias até que a lei seja regulamentada, com regras específicas para cada caso.
Passo atrás
Com a regulamentação, a tendência é que impedimentos sejam aliviados, voltando a permitir o uso de cobaias em certas experiências científicas e aulas, desde que regido por instruções de um conselho de ética. Na prática, ficaria proibido apenas o uso de animais na indústria e comércio, em que eles forem submetidos a alguma dor.
“Na primeira reunião (realizada no fim de dezembro), começamos um entendimento de liberar a experimentação em pesquisas e para fins pedagógicos”, afirma Eleudemar Ferreira Rodrigues, ligado secretaria municipal de Saúde e coordenador da comissão de regulamentação da lei.
O próprio autor do texto, o vereador Deglaber Goulart (PMDB), já havia sinalizado que, na prática, a proibição poderia não ser total. ”Na regulamentação podemos discriminar quais animais seriam proibidos. Pode ser que pequenos animais sejam liberados e proibamos apenas os maiores”, disse o parlamentar à Folha Online em dezembro.
Desconfiança
A comunidade científica, entretanto, ainda tem um pé atrás em relação a esse assunto. De acordo com o farmacologista Carlos Rogério Tonussi, presidente da Comissão de Ética para uso de animais na UFSC, o ideal mesmo é que a lei seja extinta. Para Tonussi, que está participando das negociações, a prefeitura está tentando fazer uma manobra que viabilize o cumprimento da lei.
“Nós já temos comissão de ética (para uso de animais) -não precisamos de lei para isso. Queremos uma solução que viabilize a pesquisa. Não estamos cedendo ou tentando achar uma lei que agrade a universidade. Entendemos que a lei é inconstitucional”, segundo o professor, a UFSC deve entrar com uma ação na Justiça pedindo que a lei seja considerada inconstitucional, caso a norma entre em vigor nos termos atuais -proibindo todo e qualquer uso de cobaias.
A prefeitura de Florianópolis – supostamente para atender aos pedidos da comunidade científica – e a Fapesc (Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina) também já anunciaram que iriam tomar medidas semelhantes.
A polêmica reforça a necessidade de o Brasil ter uma legislação federal que regule o uso de animais em experiências científicas. Um projeto de lei sobre o assunto tramita na Câmara dos Deputados desde 1995, sem nunca ter entrado em votação.
(Felipe Maia, Folha Online, 09/01/08)