É o fim!

É o fim!

Do Blog de César Valente (De Olho na Capital, 26/01/08)
Ô morro e não vejo tudo. Tinha escutado no rádio uma entrevista do secretário de Transportes da capital, o Stroisch, mas não levei a sério. Afinal, posso ter entendido mal o que ele estava tentando dizer, com as voltas que habitualmente dá ao explicar o inexplicável. Daí, depois li nos jornais e nos e-mails indignados e vi que a coisa era mesmo grave.
Parece que eles enlouqueceram. Não sei se a demência atinge todo o primeiro escalão da prefeitura, se é localizada, nem se já se alastrou para outros níveis hierárquicos. Mas, sem dúvida, tem que chamar urgentemente o SAPSIU, que é o serviço de atendimento psiquiátrico de urgência (por falar nisso eles têm modernas ambulâncias equipadas com divãs e paredes acolchoadas, adquiridas em convênio com o governo federal).
Antes que vocês pensem que estou exagerando, leiam esta frase, atribuída ao secretário e, até onde consegui saber, não desmentida: “O secretário de Transportes e Terminais, Norberto Stroisch, ameaça cassar a concessão de 11 linhas da empresa de transporte coletivo Emflotur, em Florianópolis, se a operadora não reajustar a tarifa”.
Reajustar para cima! A empresa não quer cobrar mais dos seus clientes, e a prefeitura faz ameaças extremas, para que ela aumente a passagem. Digam se isto não é, em ano de eleição municipal, um sintoma de telha corrida (pelo menos no sentido do bom senso político)?
Desintegração
O transporte coletivo é mesmo uma coisa indomável, impenetrável e insondável. Pelo jeito não existe, nos quadros da prefeitura, quem consiga produzir uma proposta que leve em conta o interesse dos usuários.
O Stroisch é capaz de falar horas para tentar explicar por que as linhas mais curtas devem ser relativamente mais caras que as mais longas. Afinal, “uma tem que subsidiar a outra”. E elogia o crescimento acachapante do norte da ilha, tentando relacioná-lo com o fato da passagem para longos trechos ser “mais barata”. Acha que o usuário que tem a infelicidade de morar mais perto do trabalho, deve ficar feliz por estar pagando parte da passagem dos coitados que moram lá na casa do chapéu (e levam duas horas pra chegar, mas isto é outra história).
E acha, ainda, que todos ficarão muito felizes porque ele, ou alguém acima dele, teve a brilhante idéia de localizar o aumento anual justamente em janeiro: chegou a falar, literalmente, que é o mês dos aumentos, como o do IPTU e então seria “normal” ter o reajuste dos ônibus.
O desarranjo do “sistema integrado” e sua dissociação dos interesses dos usuários já prejudicou candidatos à prefeitura e tem tudo para ajudar o seu Dário a descer a rampa. Porque, ou o sistema é bom e os encarregados de comunicar suas vantagens às empresas e à população são uns incompetentes, ou o sistema tem problemas e alguém acha que pode empurrar uma coisa cheia de farpas garganta abaixo.
Mas, como dizia minha tia, contra fatos não há argumentos. Respondam aí:
Ficou mais fácil andar de ônibus na cidade?
Os ônibus são melhores?
Os motoristas são mais atenciosos e circulam a uma velocidade razoável?
Quando o ônibus freia ou faz uma curva o pessoal continua em pé?
Os ônibus têm ar condicionado?
A escada abaixa para o passageiro poder subir?
Há veículos adaptados para cadeiras de rodas em número suficiente?
Os idosos são tratados com cortesia?
É fácil levar a bicicleta no ônibus?
Já resolveram o problema das áreas centrais ocupadas por estacionamentos de ônibus?
É mais barato e cômodo ir de ônibus trabalhar do que comprar um automóvel e arcar com todas as suas despesas?
Se a resposta à maioria das questões for sim, então tudo não passa mesmo de intriga da oposição invejosa.