06 dez Reutilização de cascas agrada maricultor
Um projeto voltado ao reaproveitamento dos resíduos de ostras e mariscos poderá beneficiar maricultores e diferentes segmentos industriais de Florianópolis. Elaborada por Christian Jung, estudante do curso de engenharia de produção da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), a proposta pretende utilizar o pó das cascas dos moluscos, formadas basicamente por carbonato de cálcio, como complemento de ração animal, para a fabricação de mármore sintético, plástico, além de outros produtos.
A matéria-prima também poderá beneficiar a construção civil, segundo o estudante. “O processo ainda está em estudo na Europa, mas o leque de possibilidades para o seu uso é enorme. No caso do mármore, a liga do pó com uma resina especial produz um material bem resistente “, destaca Christian.
Santa Catarina é responsável por 90% da produção nacional de ostras e mariscos. O principal objetivo do trabalho, de acordo com Christian, é reaproveitar esse volume de produção e mudar o destino dos resíduos, hoje descartados no mar ou como lixo comum. “O processo agrega valor a uma matéria que antes era considerada lixo. A cadeia produtiva é incrementada e fortalece a geração de empregos”, garante.
O projeto venceu a terceira edição do Prêmio Santander de Empreendedorismo, na categoria indústria. O prêmio é realizado pelo Santander Universidades, com o desenvolvimento e gestão do Universia Brasil.
A cerimônia de premiação, que incluiu os vencedores do Prêmio Santander de Ciência e Inovação, ocorreu na última quinta-feira, em Brasília. Christian Jung foi selecionado entre os 38 finalistas de todo o País, homenageados em cerimônias regionais em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, em outubro deste ano.
Maior parte ainda é jogada no mar e em aterros
A proposta agradou os produtores de Florianópolis, que enfatizam a necessidade de se dar a destinação correta às cascas dos moluscos. O presidente da Associação dos Maricultores do Norte da Ilha, Nei Leonardo Nolli, lembra que apesar de todas as discussões e iniciativas já realizadas para essa finalidade, a maior parte dos resíduos ainda é jogada no mar ou em aterros.
“Isso ainda não é feito até hoje, pois falta organização. É preciso que o material seja buscado nas comunidades, seria uma grande ajuda para o maricultor, que realmente não tem onde guardar isso e ainda tem de gastar combustível para se desfazer das cascas”, destaca.
O principal benefício do projeto, conforme o presidente, é propor o trabalho com as cascas de mexilhões, que teriam 100% de aproveitamento, já que os produtores vendem o marisco limpo. “Existem algumas propostas hoje voltadas ao beneficiamento de ostras, como o APL (Arranjo Produtivo Local) do Sebrae e ações direcionadas ao desenvolvimento sustentável como a do Banco do Brasil, mas nenhuma que apresente soluções para as cascas do mexilhão”, diz Nolli.
Produtor há sete anos e ex-presidente da Associação dos Maricultores do Sul da Ilha (Amasi) por quatro, Adécio Romalino da Cunha reforça a importância do projeto. De acordo com o maricultor, também não há local apropriado para o depósito dos resíduos dos moluscos, que geralmente ficam no próprio quintal dos produtores.
O cheiro exalado pelas ostras perdidas chega a atrapalhar a venda do produto, já que 90% dos maricultores são de pequeno porte, afirma Cunha. “As ostras que morrem na praia chegam com parasitas nas cascas, isso apodrece e fica um cheiro horrível. Incomoda e atrapalha para atrair clientes, pois a maior parte das pessoas comercializa o marisco em casa. Será uma maravilha se conseguirem sanar esse problema”, conclui.
(Patrícia Peron, AN Capital – 06/12/2007)