Com aliados assim, quem precisa de oposição?

Com aliados assim, quem precisa de oposição?

Da coluna do Cesar Valente:

ESSE DÁRIO…
O prefeito de Florianópolis tem um talento todo especial para escolher seus líderes na Câmara de Vereadores. Primeiro foi o Juarez Silveira, que volta e meia ia para os jornais falar mal do Dário, ou pelo menos mandar recadinhos inamistosos. E falava pelos cotovelos ao telefone. Deu no que deu.

Agora, o novo líder do Dário inventou uma história que lançou Florianópolis num rabo de foguete semelhante ou pior do que o da farra do boi.

O vereador Deglaber passou uma rasteira no prefeito pelo menos em duas ocasiões: primeiro, quando teve a brilhante idéia de mexer na casa de marimbondos das cobaias, que deu merda em todo lugar do mundo em que foi mexida. Depois porque, como líder do governo, deveria ter avisado o chefe que os prazos estavam se esgotando.

O resultado: o projeto 12.029, que foi apresentado dia 8 de outubro e aprovado no dia 7 de novembro, acabou promulgado pela Câmara. O prefeito tinha 15 dias, mais 48 horas, para sancionar ou vetar. Não fez nem uma coisa, nem outra.

Aí, na sexta, a Câmara transformou o maior pesadelo que o Dário poderia desejar, na lei 7.486/07. Deve ser publicada no Diário Oficial de hoje.

A LEI
O art. 1º da lei diz:

“Fica proibida, no âmbito do município de Florianópolis, a vivissecção assim como o uso de animais em práticas experimentais que a eles provoquem sofrimento físico ou psicológico, sendo estas com finalidades pedagógicas, industriais, comerciais ou de pesquisa científica”.

E estabelece uma multa de R$ 2 mil por animal utilizado. Com pena de cassação do alvará para reincidentes. O prefeito tem 60 dias para regulamentar a lei.

A PATRULHA DO ÓDIO
Nem vou entrar no mérito da lei e das intenções do vereador, que não tem qualquer problema em comercializar produtos feitos com o couro dos animais, mas quer impedir seu uso em pesquisas científicas.

Só quero chamar a atenção para o principal problema que o prefeito terá que enfrentar: a turma de fanáticos que, a pretexto de defender animais, costuma recomendar o extermínio físico dos catarinenses do litoral. Coração cheio de ódio e o amor da boca pra fora.

Agora, o vereador (líder do governo!) será promovido a ídolo dessa turma e todos os que ousarem criticar a oportunidade, ou mesmo a constitucionalidade da lei, serão agredidos por desaforos de todo tipo.

O prefeito anunciou, ontem, que diante do cochilo da sua procuradoria e do secretário da Saúde, irá entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Tribunal de Justiça.

Pronto. Receberá uma montoeira de desaforos dessa gente cheia de ódio que diz defender os animais. Terá pela frente uma luta complicada.

Olha só o tamanho da encrenca:

Um: terá que discutir com alguns defensores reais e conscientes dos animais, que merecem ser levados em conta;

Dois: terá que entrar em confronto com a patrulha do ódio, que já começa a mostrar as garras: ontem já recebi vários e-mails descendo o cacete, só porque, no final de semana, critiquei o Deglaber. Imagino o que a Câmara e a Prefeitura não devem estar recebendo;

Três: terá que se explicar diante da comunidade científica. Talvez não seja só coincidência que um dos únicos momentos em que a pesquisa dispensou os animais foi na Alemanha de Hitler: se podia testar em humanos, pra que usar animais?

Cala-te boca. Falei que não ia discutir o mérito…

(Diarinho – De Olho na Capital, 11/12/2007)