Sobras de alimentos viram adubo orgânico

Sobras de alimentos viram adubo orgânico

Dar nova destinação aos resíduos do lixo orgânico, garantindo uma realidade diferente aos produtos que iriam para o aterro sanitário sem nenhum processo de reciclagem. Esta foi a proposta criada em 2005 por um grupo de universitários de agronomia e de biologia da Universidade Federal de Santa Catarina, através do projeto conhecido como Reciclagem Orgânica da Família Casca, do Departamento de Engenharia Rural da UFSC. Nos últimos dois anos de atividades, os resultados têm sido positivos, com o surgimento de novos adeptos, principalmente da comunidade do Córrego Grande, já que o projeto funciona dentro do parque ecológico do bairro.

Pelo projeto, os moradores são incentivados a levarem o lixo doméstico até o parque, onde os resíduos são despejados em bombonas e passam por processo de compostagem (armazenamento), sendo transformados depois em adubo orgânico.

Em troca dos resíduos doados ao projeto, as pessoas recebem gratuitamente sacos de adubos, que têm uma consistência diferenciada, com uma qualidade mais enriquecida que o vendido comercialmente. Os resultados são excelentes para hortas e jardins.

Segundo o estudante de agronomia Julio César Maestri, que é um dos bolsistas do projeto, a idéia da reciclagem surgiu através de um trabalho de extensão universitária, que contempla atualmente 12 alunos – dez de agronomia e dois de biologia. Entre os produtos descartados e reaproveitados pelos alunos estão as cascas de frutas, de verduras, restos de comida, borra de café e o óleo de fritura que é transformado em combustível, graças a uma parceria com o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), destinado a agricultores, pescadores e maricultores agroecológicos da região do Ribeirão da Ilha, no Sul de Florianópolis.

Para se ter uma idéia do crescimento do Projeto Casca, em janeiro deste ano cinco toneladas de lixo orgânico foram transformadas em adubo. O bairro produzia cerca de 70 toneladas de resíduos orgânicos por mês e 7% eram reaproveitadas graças ao projeto de reciclagem. Hoje, o projeto arrecada, em média, 10 toneladas de resíduos por mês, que depois de passarem pela compostagem geram uma tonelada de adubo. Esse crescimento deve-se, principalmente, às parcerias com condomínios e restaurantes, que são grandes geradores de restos de alimentos e produtos vegetais. Existe também um trabalho de educação ambiental gratuito através da realização de oficinas de compostagem e hortas interativas, nas quais os bolsistas fazem uma preparação junto com os alunos para o desenvolvimento nas unidades de ensino. Em 2006, eles ganharam o prêmio “Reciclando numa boa”.

Reciclagem ajuda a salvar meio ambiente

Aumentar as campanhas em prol da reciclagem de lixo é um dos desafios de todos os governos, sejam eles municipais, estaduais ou federais de todos os países em desenvolvimento, como o Brasil. Com o crescimento acelerado das cidades, cada vez mais é gerado uma quantidade maior de lixo. A compostagem é uma das maneiras de minimizar os problemas causados pela grande produção destes resíduos e sua deposição em lugares inadequados.

Os resíduos de escolas, residências e restaurantes podem dar origem a um composto orgânico rico em nutrientes, para ser usado em hortas orgânicas gerando alimentos sem defensivos químicos. Outra vantagem apontada pelos estudiosos é que o adubo natural feito através da compostagem não atrai animais e insetos, como ratos, moscas, baratas e pulgas, que são transmissores de doenças como leptospirose e cólera.

Uma das recomendações dadas pelos ambientalistas a donas de casa e comerciantes de restaurantes e lanchonetes é que não devem despejar o óleo de cozinha diretamente na pia ou no vaso sanitário. O óleo despejado causa o bloqueio das paredes da tubulação dificultando o tratamento do esgoto. Nos rios, essa ação também é prejudicial. Como o óleo é mais leve que a água, ele flutua formando uma barreira que dificulta a entrada de luz e a oxigenação da água.

Médico cultiva hortaliças nos fundos de casa

O médico Renato Figueiredo relembra que, em 2006, estava passeando pelo Parque Ecológico do Córrego Grande quando foi surpreendido pelo projeto de reciclagem da Família Casca. Ele conta que ficou sensibilizado com a idéia e quis se aprofundar mais sobre o assunto. Hoje, é um dos defensores mais atuantes do programa, disseminando-o para outros locais, como para familiares e amigos e também no local de trabalho.

Figueiredo diz que, após aprender a técnica de compostagem utilizada pelos universitários, também decidiu implantá-la em sua casa. “Vi que podia fazer algo diferente com o meu lixo e essa separação do material é muito importante”, afirma. Com o adubo, Figueiredo garante que fez muitas plantações em sua casa, como de chuchu, tomate, couve-flor, salsinha. Esses alimentos são recolhidos por ele e consumidos pela família. “Deixei de comprar muita coisa, pois agora posso pegar as verduras diretamente da minha horta, que é toda fertilizada com o adubo produzido através do projeto”, disse.

Óleo usado na cozinha é combustível

A UFSC está coletando óleo de cozinha em Florianópolis e transformando em combustível. O material coletado vem de residências, restaurantes e bares da região da universidade, como Trindade, Córrego Grande, Pantanal e Carvoeira. O biocombustível produzido vai para os grupos ligados à rede Ecovida, como pequenos pescadores, artesãos e agricultores.

O projeto integra o programa Reciclagem Orgânica da Família Casca, do Departamento de Engenharia Rural. Depois da experiência bem sucedida com os resíduos orgânicos para compostagem e transformação deles em adubo, os bolsistas do projeto Casca ganharam a parceria do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), em 2007, iniciando também a coleta de óleo.

A Cepagro realiza o mesmo trabalho na Feira Ecológica do Sul da Ilha, no bairro Armação. Na região da UFSC, o projeto tem a adesão de quatro restaurantes e da comunidade, onde são coletados aproximadamente 500 litros de óleo por mês. A produção de biocombustível é realizada através da filtragem do óleo saturado. Para utilizar o biocombustível, os veículos a diesel têm que ser adaptados. Por ser pouco viscoso, o óleo precisa ser aquecido para servir como combustível (papel realizado pelo motor a diesel).

Dados da Associação Industrial e Comercial de Florianópolis (Acif), apontam que um restaurante com duas fritadeiras troca o óleo, em média, a cada 15 dias, gerando mensalmente cerca de 50 litros de óleo saturado. Em bairros comerciais e não-turísticos, como os da região da universidade com cerca de 70 restaurantes, a produção média mensal é de 3,5 mil litros , sem contar a produção de óleo saturado nas residências.

O programa ReÓleo, da Acif, também promove a coleta de óleo de cozinha de bares e restaurantes da Capital desde 2002. Além do sabão e do biocombustível, o óleo saturado pode ser utilizado no processo de fabricação de tintas e cosméticos, além do biodiesel. Algumas cidades do Brasil têm hoje empresas especializadas na recuperação do óleo de fritura para diversas finalidades, como Novo Hamburgo e Gramado, no Rio Grande do Sul; Blumenau, em Santa Catarina; e Curitiba, no Paraná.

(André luís Cia, A Notícia, 04/11/2007)