22 nov Sacola para garantir o futuro
Toda vez que vamos ao supermercado, à livraria, à padaria, e pegamos uma sacola plástica, contribuímos para o aumento do lixo e da poluição. Além de demorarem para se decompor no meio, as embalagens são feitas a partir do petróleo. Mensalmente, os supermercados do país distribuem um bilhão de unidades. Cada uma delas leva mais de 200 anos para se degradar. No Brasil são produzidas 210 bilhões de toneladas de plástico filme por mês – a matéria-prima das sacolas.
Para combater o problema da degradação do meio, uma das opções é o uso de plástico oxibiodegradável (OBD), que se degrada em até 18 meses. A alternativa, no entanto, tem gerado polêmica quanto à segurança ambiental. Apesar disso, no último mês de outubro, o estado do Paraná tornou obrigatório o uso de sacolas plásticas OBDs em estabelecimentos comerciais. Em Florianópolis, há dois projetos de lei, ambos de 2007, que prevêem a obrigatoriedade deste tipo de sacola. Na contramão dos dois estados, a Prefeitura de São Paulo vetou um projeto para a adoção do mesmo tipo de material, não causando menos discussão.
O polímero oxibiodegradável é um tipo de plástico que se degrada em um curto espaço de tempo devido a um aditivo colocado na sua fórmula. Em uma página da internet de uma empresa fabricante, é garantida, evidentemente, a total segurança do aditivo, mas não há informação sobre o que constitui o mesmo, ou se sua fabricação é poluente. No mesmo site consta que a degradação do plástico oxibiodegradável resulta, entre outras substâncias, em CO2 (dióxido de carbono) – um dos agentes do aquecimento global – “em quantidades desprezíveis”.
A falta de informação permeia toda a discussão em torno desse material. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não aprova o uso do polímero, mas não especifica o porquê. Entre os que adotam ou não o OBD, sobra desinformação e a saída apontada é reduzir o uso de qualquer tipo de plástico.
O que fazer, afinal?
Pensando nessa redução, uma das soluções poderiam ser as bolsas retornáveis. Feitas de tecido ou fibras naturais – como o bambu, entre outros – elas podem ser utilizadas inúmeras vezes. Nesse sentido, a prefeitura de São Paulo lançou recentemente a campanha “Eu não sou de plástico”, para incentivar o uso das bolsas retornáveis. Sua utilização representa o retorno a um passado, quando eram usados carrinhos de feira.
O plástico começou a ser produzido em grande escala na década de 1930. Vinte anos mais tarde, na década de 1950, as sacolas ocuparam o lugar dos carrinhos e tomaram conta dos supermercados, passando a ser símbolos da modernidade. Do início ao fim da linha de produção, a indústria do plástico é cercada de números astronômicos: fatura 50 bilhões de reais ao ano no Brasil, segundo o Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas (Sinresp) e emprega 310,5 mil pessoas. O tímido desprezo pelas sacolas comuns despertou o interesse em buscar novas tecnologias, como os aditivos para a degradação mais rápida. Enquanto nada é bem esclarecido quanto à segurança ambiental dessas novidades, o mais seguro talvez seja voltar ao velho carrinho ou à bolsa de feira.
Na Capital
Em Florianópolis, enquanto nenhuma lei obriga a utilização do plástico OBD, alguns estabelecimentos já o empregam. Um deles é um supermercado, localizado em uma área nobre da capital. Márcia Benett, assessora de marketing, informa que resolveram adotá-lo há dois meses. Segundo ela, a resposta do público tem sido positiva. Apesar de custar mais caro para o supermercado, ela acredita que dentro de pouco tempo, quem não tiver optado por ele vai ficar para trás. Questionada sobre a escolha, Benett respondeu que oxibiodegradável e biodegradável (flash) são “a mesma coisa”. O supermercado também oferece sacolas retornáveis ao preço de RS 6, 50.
Na Prefeitura de São Paulo
O município decidiu não usar o plástico oxibiodegradável e apresentou um laudo. No documento, aponta que “materiais plásticos degradáveis não constituem solução para o problema do resíduo sólido urbano, pois mesmo degradáveis (bio ou não) requerem coleta e continuam a ocupar lugar em aterros, uma vez que a taxa de biodegradação não é tão rápida nesses ambientes. Além disso, se ocorrer a biodegradação em aterros há a produção de gases do efeito estufa”. Guilherme Queiroz – doutor em planejamento de sistemas energéticos – é quem assina o laudo, juntamente com a gerente do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), Eloísa Elena Garcia. O Secretário paulistano do Meio Ambiente, Xico Graziano, publicou em agosto um artigo no jornal Folha de S. Paulo argumentando: “a degradação do plástico oxibiodegradável se baseia em aditivos químicos que contaminam o solo e as águas. Quer dizer, ele injeta no meio ambiente, com rapidez, as partículas tóxicas associadas aos derivados do petróleo.”
(Larissa Linder e Eduardo Wolff, Cotidiano UFSC, 22/11/2007)