07 nov Ibama fecha empresa de concretagem na Capital
Uma empresa de concretagem foi fechada e outras três notificadas. Este foi o resultado da Operação Daphnia 2, realizada ontem pela manhã pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Florianópolis na região da Estação Ecológica de Carijós. A primeira etapa das operações foi feita em julho e fiscalizou os postos de combustíveis da região.
Durante os últimos três meses, o Ibama fez monitoramento em quatro empresas de concretagem localizadas na bacia do rio Ratones, por meio de visitas regulares, quando informou sobre as medidas que deveriam ter de ser tomadas em relação a questões ambientais e obtenção de licença. Ontem, os fiscais retornaram com as notificações e uma delas, a Engemix, foi multada e teve de ser lacrada por não possuir o licenciamento ambiental.
A Engemix emitiu nota ontem afirmando que “a unidade opera em total observância das exigências legais”. Diz ainda que “no momento, aguarda a renovação da LAO – Licença Ambiental de Operação, que é emitida pela Fatma”. Explica que “a documentação necessária para análise e emissão da referida renovação da licença já foi devidamente encaminhada para a Fatma”.
O objetivo da ação do Ibama foi a notificação das usinas de concretagem que, após vários testes, apresentaram emissões de efluentes em desacordo com os parâmetros ambientais estabelecidos pela legislação. Após essa notificação, as empresas foram orientadas a buscarem as adequações necessárias ao saneamento dos problemas causadores de poluição. “O impacto disso ao meio ambiente é muito grande”, explicou o coordenador da operação, Marcos César da Silva.
Entre maio e julho deste ano, o Laboratório de Recursos Hídricos da Estação de Carijós realizou coleta de amostra do efluente final de quatro produtoras de concreto ao redor da unidade. As amostras foram submetidas a testes de toxicidade aguda para verificar o grau de nocividade delas.
Fiscalizados postos de gasolina
A Estação Ecológica de Carijós (Esec), criada em 1987, é uma unidade de conservação federal de 720 hectares, o que corresponde a 870 campos de futebol, que tem o objetivo de preservar os manguezais da região Norte da Ilha.
No início deste ano, após a verificação de vários poluentes nos manguezais da área , a unidade de conservação começou a monitorar as atividades potencialmente poluidoras existentes nas bacias hidrográficas da região. O início das operações ocorreu nos postos de combustíveis, que tiveram os efluentes coletados e analisados durante cerca de três meses. De um total de 18 postos vistoriados, dez deles apresentaram problemas de efluentes e acabaram fechados. Esta foi a primeira etapa da operação Daphnia.
Em maio deste ano, foi a vez das usinas de produção de concreto passarem por essa monitoração, com o mesmo procedimento adotado nos postos de combustíveis, deflagrando a operação Daphnia II. Após a notificação ontem, as empresas terão um prazo de dez dias para a sua adequação às normas ambientais exigidas pela legislação.
Alcalinidade registrada acima da normalidade
Os resultados revelaram que, das quatro usinas analisadas, três delas tiveram efluentes tóxicos fora dos padrões ambientais. Os maiores problemas referem-se à alcalinidade dos efluentes. O ideal é que os efluentes das usinas de concreto apresentem ph alcalino – característica dada pelos carbonatos e outros insumos presentes na matéria-prima utilizados no processo de produção de concreto. As amostras revelaram valores de ph acima de 13, sendo que, a legislação ambiental tolera valores máximos de ph igual a nove.
Com relação a toxicidade, a legislação obriga que os efluentes destas usinas tenham um fator de diluição (FD) igual a 8. FD é o número de vezes que a amostra é diluída para não causar toxicidade ao organismo-teste. Porém, os testes mostraram um resultado de até 128, considerado muito tóxico.
Pescadores destacam o aumento da poluição
Olímpio Monteiro Pinto, 39 anos, e Luiz Fernando da Silva, 40, moram em Vargem Pequena e conhecem como poucos os labirintos da Estação Ecológica de Carijós, no Norte da Ilha. Filhos e netos de pescadores artesanais, desde meninos navegam pelo leito principal do rio Ratones e seus afluentes e são testemunhas oculares das conseqüências da degradação ambiental na área da reserva e seu entorno.
A poluição, segundo eles, aumenta de acordo com o crescimento populacional do Norte da Ilha. “Hoje em dia, em vários pontos do rio se percebe uma camada de óleo sobre a lâmina d’ água, resultado do despejo de óleo por postos de combustíveis e lavação de carros. Além disso, existe muito lixo, principalmente plástico e vidro espalhado em meio ao manguezal ou nas margens do rio”, fruto da falta de consciência e de fiscalização”, diz Olímpio.
Outro fator que contribui para a poluição é a falta de saneamento básico nas comunidades do entorno da reserva, como Ratones, Vargem Pequena, Canasvieiras e Vargem Grande. “Alguns moradores despejam os esgotos domésticos na rede pluvial, que acaba desembocando nos rios da região”, acrescenta Fernando.
Pescadores artesanais, eles apontam mais um sério problema no leito do rio: o assoreamento. “Em alguns trechos do rio é impraticável navegar até mesmo com pequenas embarcações, já que existem muitos bancos de areia. O rio só é navegável mesmo nos horários de maré cheia, o que dificulta aos pescadores chegarem entre o pontal da Daniela e a Barra do Sambaqui, onde a pescaria é garantida.”
Fernando explica que o rio Ratones continua piscoso, oferecendo diversas espécies de peixes (tainhotas, paratis e robalos), além de camarões e siris.
(André Luís Cia, A Notícia, 07/11/2007)