16 nov Ampliada reciclagem de óleo de cozinha
A idéia de reaproveitamento do óleo de cozinha, que deu certo e que tem se expandido na Grande Florianópolis há quase 20 anos, ganha novos adeptos na Capital. Em 1988, o vazamento de esgoto na avenida das Rendeiras, na Lagoa da Conceição, resultou em projeto ambiental conhecido como ReÓleo. Após a reutilização, o produto é transformado em sabão, massa de vidro e biodiesel. O programa foi criado pela Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) e hoje, além de centros comerciais, está sendo ampliado para a área residencial atingindo oito postos de entrega voluntária.
Em quase duas décadas, mais de um milhão de litros de óleo deixaram de ser despejados de forma inadequada em bueiros e pias. Lançado nestes lugares, o óleo causa entupimentos obstruindo canais de drenagem e contaminando o meio ambiente. Na água, provoca aumento descontrolado no volume de microorganismos e algas causando a morte de peixes. Estimativas indicam que apenas 1% de todo o óleo utilizado no mundo recebe algum tipo de tratamento.
Os nutricionistas alertam que o óleo de fritura nunca deve ser reutilizado. Após o primeiro uso, perde as características originais e fica com um aspecto escurecido, o que já é um dos sinais de que deve ser descartado. Quando essa gordura é reutilizada, formam-se compostos químicos capazes de irritar a parede do intestino e causar desarranjo intestinal. “Se o óleo estiver escurecido, avermelhado ou marrom e com excesso de resíduos no fundo do tacho, ele está velho”, explica a nutricionista Gláucia de Andrade Rolim de Souza.
A formação de espuma ou de fumaça no óleo denunciam uma temperatura alta demais, o que favorece a formação de radicais livres, que são moléculas perigosas para as células.
A parceria recente com o Posto Galo possibilitou a entrega em suas filiais. Além destes, há postos na sede da Acif em Ingleses e na Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), no bairro Itacorubi.
Fauna e flora também acabam prejudicadas
Segundo dados da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), somente no primeiro semestre deste ano foram recolhidos mais de 200 mil litros de óleo na cidade. Se isso fosse jogado diretamente no meio ambiente, haveria a contaminação direta de 200 milhões de litros de água.
Entre os efeitos danosos do óleo ao meio ambiente estão a formação de uma película superficial que dificulta a troca gasosa entre o ar e a água, provocando a morte de plantas e animais aquáticos, além da impermeabilização das raízes das plantas, impedindo a absorção de nutrientes. Os derrames de óleos diminuem também o oxigênio dissolvido e a incidência de luz solar.
Além da toxidade, a temperatura do óleo sob o sol pode atingir 60 graus matando animais e vegetais microscópicos. Quando ocorre a decomposição desses óleos e graxas por microorganismos aquáticos, há uma redução do oxigênio dissolvido da água elevando a demanda biológica e bioquímica do oxigênio. Outro problema é o aumento excessivo na quantidade de nutrientes que provocam a proliferação de alguns tipos de algas.
Saiba mais
Benefícios
• Preservar os recursos hídricos;
• Preservar os ecossistemas;
• Reduzir a quantidade de gordura no sistema de coleta e tratamento de esgoto, melhorando sua eficiência;
• Promover a educação ambiental nas escolas e comunidades.
O que fazer
• Jamais despeje o óleo de cozinha usado diretamente no ralo da pia, no mar ou na rede de esgoto;
• Acondicione o óleo das frituras que será descartado, já frio, em garrafas PET;
• Leve este óleo usado até os pontos de coleta, para reciclagem, ou coloque-o no lixo. É melhor do que despejá-lo diretamente na pia;
• Se você é proprietário de restaurante, participe do programa ReÓleo.
Como participar
• Acif Centro: 3224-3627
• Acif Lagoa: 3232-0185
• Acif Ingleses: 3269-4111
• Acif Continental: 3244-5578
• Acif Canasvieiras: 3266-2910
Moradores de prédio aderem em conjunto
Para as pessoas que fazem muitas frituras nas refeições e não sabem o que fazer com a sobra do óleo, a dica é separá-lo em garrafas pets e entregá-las para os caminhões que recolhem os lixos recicláveis. Os coletores farão o encaminhamento do produto que será armazenado na Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) até ser transformado em outros materiais.
O condomínio residencial Arquipélago, na Trindade, com 188 apartamentos e 400 moradores foi um dos últimos parceiros a aderir ao projeto de reciclagem há um mês. Segundo a síndica Lionete Gnecco, antes de instituir a coleta, ela divulgou entre os condôminos e a adesão foi surpreendente. “Antes, nós não fazíamos nada com o óleo e a limpeza da caixa de gordura era feita a cada dois meses. Hoje, após um mês, a bombona de 50 litros ficou totalmente cheia”, disse.
Segundo a síndica, todos os moradores estão participando do programa. Lionete conta que conheceu a idéia através de matéria da revista Veja, e decidiu pesquisar se Florianópolis tinha algo semelhante. “Com a reciclagem, esse óleo deixa de ir para a caixa de gordura e economizamos na limpeza”, explicou.
A comerciante Marjorie Hauffe, diz que utiliza cerca de três litros de óleo por semana para fritar batatas. Ela conta que antes de fazer o cadastramento no programa da Acif, o marido dela levava as sobras do óleo para um restaurante na Lagoa, onde o processo de reciclagem já é feito há nove anos.
Para o coordenador de relações exteriores do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), Luiz Antonio da Rocha Andra
Entupimento era freqüente na Lagoa
Segundo a engenheira ambiental da Acif e uma das responsáveis pelo projeto, Marina Ballão, a implantação dos postos de entrega voluntária atende a uma demanda da região e os resultados têm superado todas as expectativas. Ela explica que, antes do projeto, os restaurantes da Lagoa despejavam o óleo saturado na rede de esgoto sem nenhum trabalho de reciclagem, provocando vários entupimentos nas estações de tratamento de esgoto.
Para resolver o problema, uma ex-diretora da Acif desenvolveu em 1998 um projeto que reaproveitava esse óleo dos restaurantes da Lagoa, dando um destino ecologicamente correta. Hoje, a reciclagem é feita por uma empresa paranaense, a Ambiental Santos, que contratou uma empresa de transporte, a Janeiro Transportes, para buscar os bombonas (galões de óleo) nos pontos de coleta.
Todo material recolhido é levado para a Comcap e armazenado no local. A cada 15 dias, a Ambiental vem buscar os bombonas e os leva para o Paraná onde eles são transformados em outros produtos. Marina diz que os benefícios dessa conscientização são inúmeros e trazem conseqüências positivas não só pela questão ambiental, mas também para a melhoria da saú-de da população que tende a consumir produtos com menos gordura.
No Programa ReÓleo, a Acif tem como parceiros a Comcap, o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis, a Vigilância Sanitária do município e Fundação do Meio Ambiente (Floram).
(A Notícia, 15/11/2007)