02 out O futuro é da convergência
Uma área de 10 mil metros quadrados, no coração de Florianópolis, converteu-se, ontem, numa vitrina de novas tecnologias e tendências globais. Até quinta-feira, o centro de eventos CentroSul sedia a Futurecom 2007, a maior feira de tecnologia e telecomunicações da América Latina. Entre outras coisas, ela antecipa novos aparelhos e serviços que, em breve, farão parte do dia-a-dia dos brasileiros.
A edição deste ano começou quente, antecipando mais um round da briga entre empresas de televisão e operadoras de telefonia. A Telefônica anunciou a sua entrada para valer no ramo de entretenimento, via tevê por assinatura. Sem citar números precisos, o presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente, disse que são centenas de milhões de reais investidos num segmento cuja base de assinantes, em 2006, estava na casa dos 5 milhões de assinantes o faturamento bruto, em R$ 5,5 bilhões. Cifra modesta diante dos R$ 70,5 bilhões amealhados pelas operadoras de telefonia fixa no mesmo período.
Os R$ 8 milhões gastos numa maciça campanha publicitária da Telefônica TV Digital, lançada no domingo, dão a dimensão do investimento.
– Pretendemos dar uma nova dinâmica a este segmento, que ficou estrangulado nos últimos anos – afirmou Valente, em entrevista coletiva.
Para não bater de frente com a Lei do Cabo, que regulamenta o setor e limita a participação de capital estrangeiro, a multinacional optou pela transmissão via satélite, serviço que já oferece no Chile e no Peru. A licença é de âmbito nacional e a Telefônica pretende expandir a área de cobertura, atualmente restrita ao Estado de São Paulo, onde opera telefonia, para outros estados, como Santa Catarina, por exemplo. A grande dúvida é quando isso será possível.
No momento, a grande limitação enfrentada pela empresa é a capacidade satelital limitada.
– Quando tivermos oportunidade de expandir para outros estados, nós o faremos – disse Valente.
Assinatura de banda larga será necessária para acesso
Para entrar com força no segmento de TV por assinatura, a Telefônica oferecerá pacotes que incluem a programação da Globosat e todos os demais canais de seus concorrentes. No próximo ano, outros serviços, como o pay-per-view do campeonato brasileiro. O diferencial estará na flexibilidade dos pacotes. Todo usuário contará com o básico, composto por 24 canais. A partir daí, escolherá canais quiser, subdivididos em pacotes, entre eles infantil, mundo e esportes.
– Uma das coisas que mais incomoda o cliente é pagar por canais que ele não quer assistir – argumentou Antonio Valente.
Prova de que a briga promete movimentar o setor é que a Brasil Telecom, outra gigante da telefonia, também está de olho na TV por assinatura. A empresa lançou, mês passado, um serviço de vídeo sob demanda ou IPTV, da sigla em inglês para televisão por protocolo de Internet. O chamado Videon, que será apresentado com destaque na Futurecom, permitirá aos telespectadores acessar filmes, desenhos e documentários transmitidos via web. Eles serão armazenados numa espécie de biblioteca virtual e poderão ser assistidos a qualquer momento pelo usuário. A princípio, o serviço está disponível apenas em Brasília. Mas a operadora planeja lançá-lo em outras cidades de sua área de atuação, o que inclui Santa Catarina.
Atualmente, o cliente paga R$ 29,90 por mês para ter acesso 500 títulos. Além disso, lançamentos de filmes, por exemplo, serão vendidos separadamente por R$ 6,90. É necessário, porém, assinar o serviço de Internet banda larga da Brasil Telecom. O Videon é uma espécie de passo inicial da Brasil Telecom no caminho de oferecer televisão por assinatura. Pela legislação atual, a operadora é proibida de oferecer TV a cabo em sua área de legislação
A própria Telefônica tem 450 mil assinantes de IPTV na Espanha. No Brasil, realiza testes com a tecnologia, mas não há previsão de adotá-la em escala comercial nos próximos meses.
Programação de hoje
Painéis Político-Estratégicos
– Interação dos atores governamentais nas políticas de comunicações e seus efeitos no desenvolvimento do setor sócioeconômico do Brasil
Horário: 14h
Local: Auditório Atlântico
Coordenador: Heródoto Barbeiro
Facilitador: Lia Roberto Dias
Proposta: Serão debatidas as ações e correspondentes articulações para a elaboração de políticas relacionadas às comunicações e como irão conduzir o desenvolvimento das atividades sócioeconômicas no Brasil
– 3G no Brasil: Impacto nos serviços e no mercado com a sua implantação
Horário: 14h
Local: Auditório Pacífico
Coordenador: Heloísa Magalhães
Facilitador: Newton Scartezini
Proposta: Serão debatidos os aspectos importantes de decisão para a oferta de serviços baseados em 3G tanto no contexto do mercado brasileiro como nas inserções de negócios no ambiente mundial
– Redução de tributos: Propostas ousadas para aumentar o valor agregado e a base de clientes
Horário: 16h55min
Local: Auditório Pacífico
Coordenador: Carlos Alberto Sardenberg
Facilitador: Renato Guerreiro
Proposta: Serão debatidas propostas, algumas já em andamento, sobre tributação que possam fomentar novas demandas de serviços e suas influências no aumento da base de clientes.
– A Comunicação de massa e as telecomunicações: Inovando os negócios e vencendo barreiras frente às novas soluções de convergência
Horário: 16h55min
Local: Auditório Atlântico
Coordenador: Fabiana Scaranzi
Facilitador: Renato Carrião
Proposta: Serão debatidas as ações e correspondentes articulações para a elaboração de políticas relacionadas às comunicações e como irão conduzir o desenvolvimento das atividades sócio-econômicas no Brasil.
* O evento não é aberto ao público, sendo direcionado especificamente para profissionais do setor, imprensa e convidados
Para o seu filho ler
A Futurecom é uma feira voltada para os setores de tecnologia. Dela participam as principais operadoras de telefonia, de máquinas e de programas de computador. Por quatro dias, milhares de pessoas visitam o evento, voltado para os negócios, onde as empresas apresentam lançamentos. São produtos como celulares, laptops e microcomputadores com novas funções, que, em pouco tempo, estarão disponíveis para facilitar o acesso e a integração de pessoas no mundo todo.
Celular, o canivete suíço da inovação
A possibilidade de reduzir vários dispositivos num único continua tendo no aparelho celular o seu melhor exemplo. O canivete suíço da tecnologia ganha mais funções e uma nova lista de serviços pagos.
Se na edição do ano passado a tendência verificada era a da popularização dos celulares com câmera no país, a Futurecom deste ano debaterá e apresentará finalmente os aparelhos de terceira geração (3G). As tecnologias utilizadas no Brasil hoje, como GSM (celulares com chip), estão defasadas em uma geração.
O termo 3G designa várias tecnologias para redes de telefonia sem fio que já são desfrutadas por mais de 115 milhões de consumidores, principalmente na Europa e na Ásia.
A terceira geração oferece rápido acesso à Internet via banda larga e o modelo de negócios, normalmente, se baseia em planos de assinatura mensal e pacote de serviços. Um bastante popular é a chamada de vídeo (vídeo call), em que você não apenas ouve como vê a pessoa do outro lado da linha. A troca de e-mails também é um recurso bastante difundido.
Aparelhos estão por toda parte
Não é à toa que os estandes mais produzidos e de maior investimento na Futurecom pertencem às empresas fabricantes de aparelhos celulares. Não apenas os fabricantes com marcas reconhecidas globalmente, como Siemens, Motorola, LG, Samsung e Nokia.
A ZTE, maior fabricante chinesa de aparelhos celulares também está presente, de olho no mercado brasileiro que, entre janeiro e agosto, registrou um incremento de mais de 11 milhões de assinantes. Hoje, estão habilitados no país 111 milhões de aparelhos, 89 milhões (80%) pré-pagos e 22 milhões (20%) pós-pagos, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Em todos os estandes são apresentados aparelhos celulares conceituais, que apresentam novas tecnologias, como a TV sob demanda, mas não têm previsão de produção em escala industrial.
Um serviço que as operadoras têm destacado são as lojas virtuais de música. A Claro, por exemplo, está lançando o Idéias Music Stores, com um catálogo inicial de 100 mil faixas.
Entre as vantagens anunciadas está a mobilidade, uma vez que, por meio de um aplicativo gratuito, o consumidor baixa a música diretamente para o aparelho e o computador pessoal.
– Queremos proporcionar aos nossos clientes cada vez mais opções para que tenham em suas mãos, a qualquer momento, o que desejam – disse Marco Quatorze, diretor de Serviços de Valor Agregado da Claro.
Quem trocar de aparelho celular pode baixar as músicas até três vezes, sem custo adicional. O valor unitário de cada faixa é R$ 3,99, além do tráfego de dados.
O setor em SC
Um mercado que fatura um R$ 1 bilhão por ano. As empresas de tecnologia da Grande Florianópolis já representam, ao lado do turismo, um dos principais setores do desenvolvimento econômico da região.
O núcleo local conta com cerca de 140 empresas, que respondem por 40% do mercado catarinense. Blumenau e Joinville são os outros dois principais pólos tecnológicos de Santa Catarina.
Para a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), hoje, o principal desafio da categoria é garantir mão-de-obra local.
Um dos exemplos é a necessidade de funcionários que dominem a linguagem Java, um dos mais usados sistemas de programação.
Para aprimorar a mão-de-obra local, a Acate tem firmado parcerias com instituições como a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), que tem campus em São José, e com os centros tecnológicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).
Glossário
Largura de banda – Quantidade de dados que podem ser transmitidos em um canal de comunicação, em um determinado intervalo de tempo.
Banda Larga – Acesso à Internet em alta velocidade.
Rede sem fio – Rede que permite a conexão entre computadores e outros dispositivos através da transmissão e recepção de sinais de rádio.
SMS (torpedos) – Do Inglês Serviços de Mensagens Curtas. Tecnologia amplamente utilizada em telefonia celular para a transmissão de mensagens de texto curtas, limitadas a 160 caracteres alfanuméricos.
3G – É a especificação da International Telecommunication Unit (ITU) para a terceira geração de celulares. A primeira geração foi a dos celulares analógicos e a segunda, dos modelos digitais CDMA e TDMA. O 3G permite elevar a velocidade de comunicação para 384 Kbps quando o aparelho móvel está parado ou em movimento lento, 128 Kbps num carro e 2 Mbps em aplicações fixas.
WAP – Protocolo de Acesso Sem Fio (WAP). Permite que você acesse a Internet via celular de forma simples e rápida. Os sites WAP, baseados em texto, são ótimos para navegação móvel por terem sido desenvolvidos para caber em telas pequenas e requerem pouca largura de banda.
MMS – Do inglês Serviço de Mensagens Multimídia. Acrescenta mais funções ao SMS (torpedo). Pode incluir fotos e clipes de áudio e vídeo. E não só de celular para celular. Você pode enviar e receber mensagens MMS de e-mails.
(Eduardo Komives, DC, 02/10/2007)