31 out Mais vida, menos lixo
(Artigo de Leoanrdo Morelli, Secretário-geral do Instituto para Defesa da Vida, DC, 31/10/2007).
Uma vez que se opor à lógica do lucro às custas de valores naturais e humanos em uma sociedade convertida, quase que cegamente, aos cânones do neoliberalismo econômico já é tarefa difícil em nossos dias no Brasil, o que dirá ser contra a lógica do lucro às custas da saúde de comunidades pobres e da natureza, praticada pelas empresas de lixo nas grandes cidades. Como se pode discutir a ampliação ou instalação de novos aterros sanitários sem antes discutir uma política pública responsável para o consumo consciente e para a destinação do lixo? Nesse contexto, foi lançada, no dia 8 de outubro, em São Paulo, a campanha “Mais vida, menos lixo”, que discute políticas públicas para a questão dos resíduos sólidos domésticos em São Paulo, antes da aprovação de novos lixões.
Ancorada na idéia de obtenção de recursos internacionais a partir de créditos de carbono obtidos com a neutralização de gás metano da decomposição de lixões, tal postura é conivente com a lógica de “quanto mais lixo pudermos acumular, mais gases geraremos e mais créditos de carbono poderemos vender”. Ocorre que, dos lixões, é possível “seqüestrar” no máximo 30% do metano gerado. O restante continuará a ser despejado na atmosfera, causando problemas ambientais e de saúde pública nas populações que vivem no entorno. Isso contradiz os princípios do Protocolo de Kioto, que aprovou os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo.
Sem contar as suspeitas quanto à destinação dos recursos obtidos no primeiro leilão de créditos de carbono no mundo, onde avaliamos uma possível existência de um mecanismo de obtenção de recursos de fins obscuros, a partir de um empreendimento de “seqüestro” na área do Lixão Bandeirantes. Em terras tupiniquins há suspeitas nos critérios de aprovação da ampliação do outro lixão da cidade, o São João.
O que querem as lideranças sindicais e populares engajadas na campanha é que se discutam políticas públicas de reciclagem, coleta seletiva e outros mecanismos de educação ambiental e de consumo responsável.